Sistema Deter, do Inpe, registra 166,5 km² de áreas com corte raso, uma queda de 61% em relação ao mesmo mês do ano passado; ONGs veem número com otimismo cauteloso

Os sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), capturou 166,5 km² de área desmatada em janeiro de 2023 na Amazônia, o menor número para o mês desde 2019, quando a floresta teve 136 km² de desnate. 

O início do ano não está dentro da temporada sazonal de desmate, que se concentra no período mais seco em torno de julho, mas mesmo nesse contexto o mês passado representou uma queda de tendência, sendo 60% menor do que janeiro do ano anterior.

Baseado em imagens produzidas pelos satélites Aqua e Terra, da Nasa, o Deter é capaz de monitorar o desmatamento em tempo real, com dados diários, mas é menos preciso que o dado anual do Inpe (produzido pelo sistema Prodes), porque a variação na cobertura de nuvens atrapalha sua visão.

Mesmo com essa variação, os dados foram vistos com perspectiva otimista pelas ONGs ambientalistas.

Em comunicado à imprensa, a WWF afirmou que o número de janeiro do Deter "pode ser reflexo da retomada da pauta de defesa ambiental".

— É positiva a observação de uma queda relevante nos dados de desmatamento de janeiro de 2023 — diz Daniel E. Silva. — Entretanto, ainda é cedo para falar sobre uma reversão de tendência, já que parte desta queda pode estar relacionada com uma maior cobertura de nuvens no período.

Apesar da incerteza do dado por causa de fatores meteorológicos, o Observatório do Clima (OC), maior coalizão de ONGs do país, afirma que, mesmo sem uma estrutura nova de combate ao desmatamento na região, a expectativa de maior fiscalização já pode estar inibindo a atividade ilegal.

— As mensagens vindas, principalmente, do presidente da República, e das outras ministras do Meio Ambiente, dos Povos Originários e do ministro dos Direitos Humanos mostram uma mobilização do governo para atacar o crime ambiental — diz Márcio Astrini, secretário-executivo do grupo. 

— Quando Bolsonaro fazia um discurso a favor do crime ambiental, isso também tinha um efeito muito grande, só que de forma contrária.

O mês de janeiro tem pouco poder de predição sobre o desmatamento. Em 2019, o número de janeiro foi relativamente baixo, mas o desmatamento explodiu no meio do ano.

Para a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que busca criar diálogo entre ambientalistas e o agronegócio (principal agente do desmatamento na Amazônia), é preciso ver o número do mês passado com cautela e não embarcar no discurso de que o problema já está se resolvendo.

"Há grande expectativa sobre o novo plano do governo federal de combate ao desmatamento, após anos de aumento das taxas. Porém, o governo sozinho não dará conta do hercúleo desafio. É preciso que a sociedade, como um todo, se una para combater a criminalidade e o desmatamento na Amazônia e em outros biomas", afirmou em comunciado Rachel Biderman, vice-presidente sênior da ONG Conservation International, e membro da coalizão.

O governo federal anunciou ontem a estrutura do Programa de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Brasil (PPCD), que vai envolver 19 ministérios, vai cobrir outros biomas além da Amazônia e será coordenado pela Casa Civil, com controle próximo ao presidente Lula.

— Ainda vai levar um período para a gente ver na prática o efeito de tudo isso que o governo está fazendo. É preciso ter um pouco de paciência para dizer se o que está acontecendo é por conta dessas ações — diz Astrini, do OC.


Fonte: O GLOBO