Ex-comandante Daniil Martynov participou das primeiras semanas da invasão russa, no ano passado; ele está em território turco liderando o socorro enviado pelo país de Putin

A Rússia enviou ajuda humanitária para as vítimas do terremoto desta segunda-feira, que deixou um rastro de destruição na Turquia. Como líder da missão russa foi escolhido um ex-comandante checheno acusado de crimes de guerra pela Ucrânia. Trata-se de Daniil Martynov. 

Ele esteve na frente de batalha em território ucraniano, no ano passado, e nesta semana deu entrevistas em meio aos escombros do tremor de terra se apresentando como chefe do socorro russo às vítimas da tragédia que já resultou na morte de 22 mil pessoas.

Martynov é considerado próximo do líder checheno Ramzan Kadyrov, declarado presidente da Chechênia pelo governo russo. Os dois aparecem em fotos compartilhadas nas redes sociais.

No início da invasão da Rússia à Ucrânia, Martynov supervisionou as atividades dos Kadyrivitas (uma organização paramilitar da Chechênia) na região de Kiev. Nesta semana, a Rússia enviou um caça do Serviço Federal de Segurança para ajudar as vítimas na Turquia. Martynov viajou liderando a equipe. Ele deu entrevistas do território turco para comentar as ações humanitárias no país.

De acordo com a rede de televisão CNN, em agosto do ano passado o serviço de segurança ucraniano alegou que Martynov havia cometido uma série de crimes de guerra em Borodianka, ao norte de Kiev. O checheno teria comandado a ocupação de um hospital psiquiátrico na cidade, em março.

As autoridades ucranianas afirmam que, por ordem de Martynov, "quase 500 pessoas foram feitas reféns (pacientes, funcionários e residentes locais), incluindo mais de cem pacientes acamados". As instalações do hospital se tornaram em uma posição de tiro para as tropas russas.

Para o serviço de segurança ucraniano, Martynov violou as leis e costumes de guerra e cometeu abusos contra prisioneiros de guerra e civis.

A informação de que o checheno está na Turquia provocou reações de ucranianos nas redes sociais. A pesquisadora Mariia Kramarenko afirmou no Twitter que "a biografia do personagem não está de forma alguma relacionada a salvar pessoas".

O correspondente holandês na Ucrânia, Olaf Koens, também questionou a presença do checheno na Turquia. "Daniil Martynov fala à imprensa como um socorrista russo. Não faz muito tempo, ele ainda trabalhava na Ucrânia. Como um criminoso de guerra. Tomou como reféns pacientes de hospitais psiquiátricos, perseguiu prisioneiros de guerra", escreveu.


Fonte: O GLOBO