Ministra do Meio Ambiente enfatizou compromisso americano, mas evitou falar em valor do aporte inicial de Washington

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou ao GLOBO que a decisão dos Estados Unidos em aderir ao Fundo Amazônia terá efeito catalisador para a conquista de apoio ao Brasil na pauta climática e da biodiversidade.

— Quando os Estados Unidos decidem fazer um aporte fora das estruturas tradicionais, como da USAID, isso empresta uma credibilidade enorme, que anima vários outros doadores — disse Marina em conversa por telefone com O GLOBO enquanto se dirigia à Base de Andrews, onde embarca nesta manhã de volta a Brasília.

Marina integrou a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, onde o petista se reuniu pela primeira vez com o presidente Joe Biden desde que assumiu o governo. Após reunião na Casa Branca, os EUA confirmaram que ingressarão no Fundo Amazônia, mecanismo importante para proteção da floresta.

Marina evitou comentar diretamente o valor do aporte inicial — de US$ 50 milhões, em valor não anunciado oficialmente —, mas disse que mais importante do que a cifra é "o compromisso dos americanos e a criação de um novo mecanismo, independente de valores concretos neste momento". 

A ministra disse ainda que não há menções de valores na declaração conjunta emitida pelos dois governos justamente porque ainda não há valor exato do aporte.

— Isso tem um efeito catalisador, tem a importância dessa força gravitacional dessa chancela dos EUA que dá credibilidade e transparência para a pauta de proteção climática. Isso é uma mudança, num mundo que tem dois presidentes de grandes democracias tratando de temas que há 20 anos eram tabu — disse.

De acordo com a ministra, o governo Biden assumiu o compromisso de negociar com o Congresso americano aportes diretos ao Fundo. Há ainda expectativa de que o enviado especial dos EUA para o Clima, o ex-senador e ex-secretário de Estado John Kerry, possa anunciar ações mais concretas no fim do mês, quando viaja ao Brasil. A previsão é de que ele chegue ao país no próximo dia 27.

— Uma coisa é valor inicial e outra é como isso vai evoluir para o aporte bilateral. Houve uma institucionalização e obviamente nós vamos dar consequência (a isso) — afirmou Marina.

A ministra do Meio Ambiente destacou ainda que a decisão dos EUA de ingressar no Fundo se soma a iniciativas de outros países ricos, como Noruega, Alemanha, França e Reino Unido. E também destaca que poderá servir de estímulo para doações privadas e filantrópicas.

Marina também destacou parcerias no combate ao racismo e à desigualdade, que "têm impacto em questões migratórias, para que as pessoas possam viver vem em seus locais de origem sem se sentirem motivadas a migrar".

— Esse é um tema importante e estratégico das democracias compromissadas com a agenda do clima — afirmou.

China

Questionada se a pauta climática deve estar na agenda do governo durante a visita do presidente Lula à China no mês que vem, Marina respondeu de forma afirmativa. Disse ainda que não há definição sobre quem estará na comitiva presidencial, mas que o tema estará na pauta.

— A China é o maior emissor [de carbono] do mundo hoje, guardadas às devidas proporções de sua densidade demográfica. Mas o país também é um dos maiores formuladores e exportadores para a transição energética do mundo — disse.

A ministra citou como exemplos a tecnologia e infraestrutura chinesas para o desenvolvimento de geração de energia renovável, como solar e eólica.


Fonte: O GLOBO