Presidente Joe Biden cogitou ordenar a derrubada do artefato, mas as autoridades recuaram com receio dos riscos à população em terra

O Pentágono está monitorando ao menos um suposto balão de espionagem chinês que sobrevoa os territórios dos EUA e do Canadá e enviou caças F-22 para rastrear o objeto, fazendo com que os voos fossem temporariamente suspensos no aeroporto de Billings, em Montana. A pedido do presidente Joe Biden, o Departamento de Defesa chegou a considerar abater o objeto, mas voltou atrás devido aos riscos potenciais para as pessoas no solo.

A China já enviou balões de vigilância sobre os Estados Unidos em outras ocasiões, mas dessa vez a presença do dispositivo ocorreu antes da visita do chefe da diplomacia americana, o secretário de Estado Antony Blinken, à capital da China entre domingo e a próxima segunda-feira — a primeira viagem dele ao país asiático desde 2018.

Pequim, por sua vez, afirmou que está verificando as informações e pediu para que os países "não façam conjecturas ou exagerem a questão até que os fatos estejam claros".

— A China é um país responsável e sempre cumpre de maneira rigorosa a lei internacional. Não temos a intenção de violar o território ou espaço aéreo de nenhum país soberano — disse a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Mao Ning. — Esperamos que as partes administrem (a situação) com calma e prudência.

Já o governo canadense informou que investigava um "potencial segundo incidente".

"Os canadenses estão a salvo, e o Canadá está adotando medidas para garantir a segurança de seu espaço aéreo, inclusive com a vigilância de um potencial segundo incidente", informou o Ministério da Defesa canadense em um comunicado, sem citar a China. "As agências canadenses de Inteligência trabalham com os aliados americanos e adotam todas as medidas necessárias para proteger as informações sensíveis do Canadá de ameaças externas."

O artefato sobrevoou o Noroeste dos Estados Unidos, onde existem bases aéreas sensíveis e mísseis nucleares estratégicos em silos subterrâneos, mas o Pentágono não acredita que o dispositivo represente alguma ameaça, porque “tem valor limitado, do ponto de vista da coleta de dados”.

Na quarta, quando o balão foi descoberto, o secretário de Defesa, Lloyd Austin III, chegou a convocar uma reunião de altos funcionários militares e de Defesa para discutir como lidar com a situação.

– Claramente, a intenção desse balão é a vigilância, e a atual rota de voo o leva a vários locais sensíveis – relatou um alto funcionário, que preferiu não se identificar. — Estamos tomando medidas para nos proteger da coleta de informações confidenciais pela inteligência estrangeira.

A China tem vários satélites que orbitam a cerca de 480 km acima da Terra. Como os satélites espiões americanos, os chineses podem tirar fotos e monitorar lançamentos de armas, de acordo com autoridades. Ambos os países têm um histórico de espionagem — autoridades americanas que visitam a China em missões diplomáticas esperam rotineiramente que suas conversas sejam monitoradas.

O balão entrou no espaço aéreo dos EUA "há vários dias", segundo autoridades, e vários aviões de combate examinaram o artefato enquanto ele sobrevoava Montana, no Norte do país.

Nesta sexta, o balão voa "a uma altitude bem acima do tráfego aéreo comercial" e, de acordo com um comunicado do porta-voz do Pentágono, Pat Ryder, "não representa ameaça militar ou física para as pessoas no solo".

Mesmo assim, políticos americanos foram rápidos em pedir que o governo Biden combatesse com força qualquer ameaça.

“O descarado desrespeito da China pela soberania dos EUA é uma ação desestabilizadora que deve ser abordada, e o presidente Biden não pode ficar calado”, disse o presidente da Câmara dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, em um post no Twitter.

Em uma declaração conjunta, os congressistas Mike Gallagher, republicano de Wisconsin, e Raja Krishnamoorthi, democrata de Illinois, disseram: “O Partido Comunista Chinês não deveria ter acesso sob demanda ao espaço aéreo americano.” Os dois acrescentaram que o incidente mostrou que a ameaça da China “não está confinada a costas distantes — está aqui em casa e devemos agir para combater essa ameaça”.

A relação entre as duas potências atualmente é tensa, sobretudo no que diz respeito a Taiwan, que o governo chinês considera parte de seu território e cujo controle pretende um dia retomar, se necessário pela força.

Na quinta-feira, o Departamento de Defesa americano anunciou que os militares dos EUA estavam expandindo sua presença nas Filipinas como parte do que analistas militares disseram ser um esforço para restringir as Forças Armadas da China e reforçar a capacidade dos Estados Unidos de defender Taiwan. (Com New York Times)


Fonte: O GLOBO