Massini disse que possivelmente pressa dos criminosos, que não vedaram completamente gaveta funerária em cemitério, impediu que vítima morresse rapidamente por asfixia

A mulher de 36 anos, enterrada viva em gaveta funerária em Visconde do Rio Branco (MG), só sobreviveu porque os criminosos que tentaram matá-la estavam possivelmente com pressa e não lacraram completamente a gaveta funerária. Eles também devem ter acreditado que a vítima, que fora espancada, já estava morta devido a um fenômeno chamado de "morte aparente" que acomete pessoas em estado de choque após atos violentos. 

De acordo com análise de Nelson Massini, perito do laboratório de ciências forenses da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, o sepulcro devia ter brechas, a exemplo do que acontece em casos de desmoronamentos, o que permitiu a sobrevida por mais tempo.

— Os agressores improvisaram o fechamento. Porque se tivesse vedado completamente, em um minuto, ela perderia a consciência. Em torno de uns 10 minutos, ela morreria. A pessoa quando começa a se sentir tonta, não se recupera mais e morre — esclarece.

Massini, que é professor aposentado de Medicina Legal na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), afirma que, apesar da taxa de gás oxigênio ter reduzido, não foi o bastante para que o objetivo dos agressores surtisse efeito:

— Nós precisamos de 21% de gás oxigênio para sobreviver. Se essa porcentagem cai para menos de 16%, a pessoa fica desacordada. Então, isso indica que a cova não foi vedada completamente. O acabamento do cemitério é diferente, porque é feita uma vedação completa. Os agressores fecharam com tijolos e, provavelmente, deixaram alguma brecha, porque deve ter sido feito às pressas. O ar continuou entrando, pouco mas estava — observa.

É possível, segundo o especialista, que os agressores tenham deixado a mulher desacordada com o ataque, logo que a abordou no meio da rua. Para ele, os criminosos podem ter acreditado que ela estaria morta.

A condição em que a vítima provavelmente estava após o espancamento a que fora submetida é conhecida como "morte aparente", um estado em que a pessoa perde a consciência. Nessa condição, o coração, segundo Massini, passa a bater mais lentamente para preservar o funcionamento cerebral.

— O sujeito, quando fica em um lugar completamente vedado, morre por confinamento. Em caso de um terremoto, por exemplo, depois de 10 dias, algumas pessoas ainda conseguem sobreviver. Mas isso acontece porque o ar ainda entra em meio aos escombros.

Como está a vítima

De acordo com o diretor do Hospital São João Batista, o médico Henrique de Almeida, a vítima ainda está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas acordou nesta quinta-feira e tem interagido com os funcionários.

— A situação dela melhorou muito de ontem para hoje. Agora, vamos ver se ela precisa engessar a perna e se o braço dela será caso de gesso ou cirurgia — informou. — Mas são casos ligados à função, e não mais à vida.

Segundo o profissional, um ortopedista fará a análise do caso da mulher. Até ontem, ela estava sedada e com “múltiplas fraturas no braço, dedo e perna”, embora apresentasse uma “pressão boa”. Almeida ressaltou, ainda, que ela sofreu um traumatismo craniano e chegou desidratada ao hospital:

— Ela está com um escalpo parcial, vários cortes extensos no couro cabeludo e com uma hemorragia. No entanto, ela está se mantendo com bons parâmetros hemodinâmicos — disse.

Entenda o caso

Na última terça-feira (28), a mulher foi resgatada de dentro de um túmulo no cemitério municipal de Visconde do Rio Branco. Coveiros que trabalham no local acionaram a Polícia Militar após terem encontrado o sepulcro fechado com tijolo, cimento fresco e sinais de sangue.

Quando chegaram ao local, os militares ouviram pedidos de socorro vindos do túmulo. A lápide, que estava fechada com materiais de alvenaria, foi quebrada pelos policiais. O resgate foi realizado e a mulher foi retirada com ferimentos na cabeça.

— Com a ajuda dos funcionários, (os oficiais) quebraram a lápide e viram que uma mulher tinha sido colocada enterrada viva. Já temos a identificação dos autores — disse o tenente-coronel Santiago.


Fonte: O GLOBO