Após três décadas de não-alinhamento militar, país ingressou na aliança militar ocidental nesta terça-feira
O Kremlin prometeu responder à adesão da Finlândia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e afirmou que a expansão da aliança representa um "ataque à segurança" do país. Após três décadas de não-alinhamento militar, a Finlândia ingressou na aliança militar ocidental, liderada pelos Estados Unidos, nesta terça-feira.
— É um novo agravamento da situação. A ampliação da Otan é um ataque à nossa segurança e aos nossos interesses nacionais — disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, a repórteres. — Isso nos obriga a tomar contra-medidas. Vamos acompanhar cuidadosamente o que está acontecendo na Finlândia, como isso nos ameaça. Com base nisso, medidas serão tomadas. Nosso Exército informará quando chegar a hora.
Com a adesão, a Otan duplica assim a extensão das fronteiras que os seus membros partilham com a Rússia, o que causa irritação em Moscou. A Rússia considera a aliança uma das principais ameaças à sua segurança — a vontade manifestada pela Ucrânia de aderir à Otan foi uma das justificativas que levaram a Rússia a lançar a sua ofensiva contra o país vizinho.
— A Finlândia nunca foi anti-Rússia e não tivemos nenhuma disputa — disse Peskov nesta terça. — Sua adesão à Otan afetará a natureza das relações entre Moscou e Helsinque, já que a aliança é uma organização hostil e hostil em relação à Rússia.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, por sua vez, disse que a Finlândia ingressa na aliança militar em um momento "verdadeiramente histórico" e afirmou que a decisão foi resultado direto da invasão da Ucrânia pela Rússia.
— Há poucos anos, era impensável que a Finlândia se tornasse um membro. Isso demonstra que a Finlândia é um país soberano e independente. Eles tomam suas próprias decisões, e a Otan é uma aliança de democracias com uma porta aberta para nações soberanas democráticas como a Finlândia — disse Stoltenberg em uma coletiva de imprensa em Bruxelas.
Finlândia e Suécia entraram com pedido para integrar a aliança militar em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia, no ano passado. Mas o processo de adesão se arrastava havia meses, pela resistência dos governos da Hungria e Turquia — próximos a Moscou. Para fazer parte da aliança militar, a candidatura precisa ser confirmada pelos 30 países que formam o grupo.
— Putin declarou que o objetivo da invasão da Ucrânia era enfraquecer a Otan. Ele queria menos Otan ao longo de suas fronteiras, ele queria fechar a porta da Otan — disse Stoltenberg. — Ele está recebendo exatamente o oposto.
Apesar de ter uma população de apenas 5,5 milhões de pessoas, a Finlândia tem uma reserva de 900 mil soldados, graças ao sistema de alistamento mantido desde os tempos da Guerra Fria. O país é capaz de arregimentar aproximadamente 300 mil homens, em tempos de guerra, o que é mais do que o poderio militar de muitas nações europeias mais populosas.
Com a adesão do território finlandês, a fronteira da área de influência da aliança com a Rússia vai ser duplicada e o posicionamento para proteger os aliados da região do Mar Báltico — Estônia, Letônia e Lituânia — ampliado. Mas, embora o país nórdico compartilhe uma fronteira de 1.300 quilômetros com a Rússia, Stoltenberg garantiu a repórteres que as tropas da aliança militar só estariam estacionadas na Finlândia com o consentimento do país.
Há décadas, a Otan busca meios de conter as pretensões russas em um corredor estratégico, entre a Polônia e a Lituânia, chamado de “corredor Suwalki”. Essa faixa de 65 quilômetros liga o enclave russo de Kaliningrado, que fica entre os dois países, e a Bielorrússia, país aliado de Moscou. Sanções da União Europeia em resposta à invasão da Ucrânia impedem a Rússia de transportar alguns produtos para Kaliningrado usando o corredor.
Outra região onde a Otan pode ganhar em capacidade, com a chegada da Finlândia, é a pequena fronteira da Noruega com a Rússia. Com os exércitos presos no conflito na Ucrânia, a expectativa de analistas internacionais é que a Rússia leve ainda muitos anos para ameaçar, de fato, essa fronteira.
Fonte: O GLOBO
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