Mais de 180 pessoas morreram no país em decorrência do conflito desde sábado, segundo estimativas das Nações Unidas
Segundo relatos de correspondentes da Al Jazeera, os confrontos cessaram nas áreas distantes do centro da capital, Cartum, e as lojas voltaram a receber clientes, embora ainda haja interrupções no fornecimento de água e energia. Ainda assim, sem um mecanismo para monitorar o cessar-fogo, grupos humanitários e equipes médicas temem que os combates possam recomeçar.
O chefe de ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths, por sua vez, disse que os trabalhadores humanitários e as instalações humanitárias continuavam sendo alvos de ataques após o cessar-fogo.
"Continuamos recebendo relatos de ataques e violência sexual contra trabalhadores humanitários. Isso é inaceitável e deve parar”, publicou Griffith no Twitter, acrescentando que o escritório de ajuda humanitária da ONU no sul de Darfur (oeste do país) também foi saqueado na segunda-feira.
As condições humanitárias em Cartum são "catastróficas", o que teria levado os lados beligerantes a concordarem com o cessar-fogo, segundo o analista político Yasser Abdullah.
— Em quatro dias, a situação desmoronou completamente em Cartum. As pessoas não encontram água para quebrar o jejum [durante o Ramadã, período sagrado para os muçulmanos] — disse o especialista à Al Jazeera, pedindo às autoridades que aproveitem a pausa nos combates para consertar as instalações de água e eletricidade que foram bombardeadas, já que, segundo ele, "a duração da trégua não é suficiente para retirar as pessoas dos locais onde estão presas".
O Sudão vive desde sábado um cenário de caos, em meio a um violento combate pelo controle do país entre dois generais rivais, o comandante do Exército, Abdel Fatah al-Burhan, líder de fato do país desde 2021, e seu número dois, Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemedti", comandante das Forças de Apoio Rápido (FAR), um grupo paramilitar.
Al-Burhan e Daglo foram aliados no golpe de Estado de 2021 — que derrubou o primeiro-ministro Abdalla Hamdok e interrompeu um processo democrático iniciado no país dois anos antes — mas se tornaram inimigos públicos nos últimos meses. As tensões entre o exército e as FAR aumentaram à medida que se aproximava o prazo para a formação de um governo civil, focado na espinhosa questão de como o grupo paramilitar deveria ser reintegrado às forças armadas regulares.
A disputa acontece quatro anos depois dos protestos no Sudão terem derrubado o ditador Omar al-Bashir, que comandou o país por três décadas, impulsionando movimentos similares em outras partes da África e do mundo árabe.
Apelos internacionais
Reunidos no Japão, os ministros das Relações Exteriores do G7, o grupo das sete maiores economias globais, exortaram em sua declaração final "a parar imediatamente a violência" e "devolver o poder civil ao Sudão", depois que explosões voltaram a abalar Cartum mais cedo nesta terça-feira, com os aviões do general al-Burhan tentando conter o ataque de veículos blindados do general Daglo.
O apelo do G7 se juntou aos da ONU e dos Estados Unidos para acabar com as hostilidades, mas os combates continuam. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enfatizou em conversas com os dois generais em conflito "a urgência de alcançar um cessar-fogo".
"Estamos muito preocupados com os combates que afetam áreas densamente povoadas. As pessoas estão se refugiando em suas casas", disse, em nota, o chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Sudão, Alfonso Verdú Pérez. "Pedimos que todas as partes facilitem o trabalho das organizações humanitárias para que possamos ajudar quem precisa."
As negociações para um cessar-fogo começaram na segunda-feira e o general Daglo chegou a anunciar no Twitter, na manhã desta terça, que havia aprovado "um cessar-fogo de 24 horas", mas o exército negou no Facebook, alegando que era "uma declaração da rebelião destinada a esconder sua derrota iminente".
Os habitantes permanecem em suas casas, sem eletricidade e água encanada, e suas reservas de alimentos estão perto do fim. Os poucos mercados que estão abertos avisaram que não vão conseguir prosseguir com as atividades por muito tempo sem abastecimento. O esgotamento ameaça os habitantes da capital.
— Não dormimos há quatro dias — disse Dallia Mohamed Abdelmoniem, de 37 anos, à AFP, acrescentando que permaneceu trancada em casa com sua família por medo dos constantes bombardeios e confrontos de rua que abalaram a capital nos últimos quatro dias.
Hospitais em apuros
Pelo menos dois hospitais da capital foram esvaziados "enquanto foguetes e balas atingiam suas paredes", alertaram os médicos, que afirmam ter ficado sem bolsas de sangue e suprimentos médicos. Além disso, inúmeras ONGs e agências da ONU suspenderam suas atividades devido aos saques e "violações graves" que ocorreram contra seus funcionários.
Na segunda-feira, um comboio diplomático dos Estados Unidos foi alvejado e o embaixador da União Europeia foi atacado em sua residência em Cartum. Três funcionários do Programa Mundial de Alimentos foram mortos e estoques de ajuda foram saqueados em Darfur (oeste).
A ONU contabiliza 1.800 feridos, embora muitas pessoas tenham dificuldade em chegar aos hospitais por medo de balas perdidas ou de bombardeios militares e paramilitares em áreas residenciais.
A Cruz Vermelha e a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediram nesta terça-feira às partes em guerra no Sudão que garantam o acesso à ajuda humanitária para as pessoas necessitadas.
— Milhares de voluntários estão prontos, aptos e treinados para prestar serviços humanitários. Infelizmente, devido à situação atual, eles não estão em condições de se deslocar — disse o chefe da delegação da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Farid Aiywar, a jornalistas em Genebra por videoconferência em Nairóbi.
— Temos ambulâncias, pessoas capazes de prestar primeiros socorros e apoio psicossocial, mas isso não será possível até que os corredores humanitários sejam garantidos por todas as partes. As organizações humanitárias sentem-se muito frustradas [por não poderem fazer o seu trabalho].
Em Darfur, reduto do general Daglo, a organização Médicos Sem Fronteiras disse que em três dias recebeu 183 feridos em seu último hospital funcional. "A maioria era civil, muitos deles crianças", segundo a ONG.
Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há apagões nas salas de cirurgia. Os pacientes e suas famílias "não têm comida nem água", declarou uma rede pró-democrática de médicos.
"Burhan está bombardeando civis, vamos caçá-lo e levá-lo à Justiça", afirmou o general Daglo no Twitter em inglês, na segunda-feira. Já o Exército afirmou no Facebook que se aproxima o momento da vitória final.
Fonte: O GLOBO
Em Darfur, reduto do general Daglo, a organização Médicos Sem Fronteiras disse que em três dias recebeu 183 feridos em seu último hospital funcional. "A maioria era civil, muitos deles crianças", segundo a ONG.
Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há apagões nas salas de cirurgia. Os pacientes e suas famílias "não têm comida nem água", declarou uma rede pró-democrática de médicos.
"Burhan está bombardeando civis, vamos caçá-lo e levá-lo à Justiça", afirmou o general Daglo no Twitter em inglês, na segunda-feira. Já o Exército afirmou no Facebook que se aproxima o momento da vitória final.
Fonte: O GLOBO
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