Parentes fazem vaquinha para arrecadar R$ 25 mil e dar 'último adeus' a Raphael Casanova no Brasil

A família de Raphael Casanova tem conciliado o luto pela perda do personal trainer — morto no último dia 9, no Chile, após contrair catapora — com as dificuldades para repatriar o corpo. O alto custo e a burocracia dos procedimentos têm mobilizado parentes e amigos do rapaz, que têm pressa para resolver o caso, já que o prazo para o corpo ficar no hospital expira em uma semana. Sem uma solução até lá, Raphael poderia ser enterrado como indigente no país vizinho.

Assim que receberam a notícia da morte, parentes de Raphael iniciaram uma vaquinha online para custear o transporte do corpo. Com as colaborações e outras ajudas de pessoas próximas, a família já arrecadou pouco menos de R$ 20 mil dos R$ 25 mil que estima serem necessários. Irmã de Raphael, Juliana Casanova conta que a família chegou a cogitar um sepultamento no Chile, onde o irmão vivia há seis anos, mas tem se esforçado para viabilizar um 'último adeus'.

— Quando fiz a vaquinha, se a gente não conseguisse [os valores], a gente iria sepultar lá ou até cremar e trazer as cinzas. Mas, como a gente já tem mais da metade [do valor], a gente vai trazer o corpo para poder dar o último adeus, ver o meu irmão uma última vez. Não é a forma que a gente queria vê-lo, deitado num caixão. A gente queria vê-lo com o sorriso que ele tinha. Aqui e lá, ele era muito querido, tinha muitos amigos. Mas a gente quer trazer para enterrar mais próximo de nós — destaca Juliana.

A família dos brasileiros José Claudionor da Cruz, de 28 anos, e da mulher dele, Andressa Pereira Cartes, de 26, que foram encontrados mortos em casa em São Francisco, nos Estados Unidos, em 8 de maio, vive um drama parecido. Os parentes do casal fizeram uma vaquinha para arrecadar US$ 20 mil (R$ 98 mil) e trazer os corpos para uma despedida no Brasil.

Assim como os parentes do casal, Juliana Casanova conta que soube, pelo Consulado brasileiro, que não haveria ajuda financeira para a repatriação do corpo. Em casos do tipo, a autoridade consular fica responsável apenas pelos trâmites legais e instruções. A família dispensou o auxílio de um advogado por questões financeiras e decidiu mover o procedimento por conta própria. A irmã do personal trainer explica que tem contado com a ajuda de uma amiga dele no Chile.

— Entramos com a parte da funerária daqui e uma amiga dele, que mora no Chile, fez uma busca por funerárias de lá. Ela conseguiu uma num preço mais acessível. E é assim, a gente está correndo atrás — afirma.

Juliana diz que a família espera dar entrada no procedimento de translado ainda esta semana. Os documentos de Raphael já estão a amiga no Chile. Mas ela teme que um documento exigido para a liberação do corpo possa atrasar os planos.

— O que a gente precisa agora é mandar para lá uma procuração em nome da pessoa que vai retirar o corpo. Só que a procuração precisa ser juramentada, apostilada e traduzida, e não é qualquer tipo de cartório que faz. Fomos em um, em outro, em outro... Até agora, a gente não conseguiu resolver. Hoje a gente vai a mais alguns para tentar fazer esse documento. Sabemos que vai ser caro, mas a gente ainda não tem nem o valor certo. Ontem, só para reconhecer firma da minha mãe, foram 60 reais — destaca.

Brasileiro enfrentava caso grave de catapora

Juliana conta que o personal trainer esteve com a família em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, em agosto do ano passado. Em setembro, ele voltou ao Chile, onde vivia há seis anos. Em dezembro, a família começou a estranhar o comportamento do rapaz, que já não entrava em contato com a mesma frequência nem fazia chamadas de vídeo com a mãe.

— Ele contou que tinha contraído catapora, até mandou fotos das feridas. A gente ficou com medo de ser varíola dos macacos, porque parecia muito. Mas o médico diagnosticou como catapora mesmo e explicou que ele precisaria fazer um tratamento, que era uma catapora muito forte, que poderia deixar sequelas ou até levar à morte. Ele ficou fazendo o tratamento em casa, em isolamento. Aí as feridas secaram, ele passou a se sentir bem e não voltou ao hospital para refazer os exames — diz Juliana.

A irmã do brasileiro afirma que ele voltou a fazer chamadas de vídeo regulares com a família e até participou de um concurso de fisiculturismo após o tratamento.

— A gente achou que ele estava curado, 100%. Mas demorou dois meses e ele voltou a se sentir mal. Começou a sentir dores — diz a irmã.

Juliana relata que um dos exames apontou que o vírus da catapora tinha continuado a agir no organismo de Raphael e afetado órgãos como o rim. Ele também teve duas lesões no cérebro, segundo a família.


Fonte: O GLOBO