Sede da Igreja Mundial do Poder de Deus soma 46 mil metros quadrados de área e capacidade para receber cerca de 20 mil pessoas

Numa pregação transmitida na TV Mundial em janeiro deste ano, o pastor Valdemiro Santiago fez um apelo aos seus fiéis: que se unissem para doar nada menos que R$ 10 milhões à Igreja Mundial do Poder de Deus. A bolada, segundo ele, serviria para pagar os salários em atraso dos funcionários da emissora, que àquela época estavam em greve. Cerca de um ano antes, Valdemiro repetiu a mesmíssima estratégia, alegando enfrentar dificuldades financeiras.

A má fase do líder evangélico já dura alguns anos. Recentemente, o império religioso de Valdemiro sofreu o seu mais duro golpe: a penhora da Igreja Mundial do Poder de Deus.

O templo é avaliado em nada menos que R$ 260 milhões, soma 46 mil metros quadrados de área e capacidade para receber cerca de 20 mil pessoas. É nele que o pastor faz suas pregações e inúmeras promessas milagrosas de cura a doentes, muitos até em estágio terminal.

A penhora foi ordenada pela Justiça paulista em função do não pagamento de aluguéis de um imóvel usado como templo pela igreja em Ubatuba, no litoral Norte de São Paulo. A dívida é estimada em R$ 881 mil.

O calote, porém, está longe de ser o único. Apenas no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a Igreja Mundial do Poder de Deus acumula mil processos, mostra consulta ao portal e-SAJ. A maior parte diz respeito justamente a despejo por falta de pagamento.

Além da penhora do templo em Santo Amaro, na Zona Sul paulistana, Valdemiro Santiago também teve um jatinho de R$ 21 milhões penhorado, além de carros, um apartamento e até o dízimo da igreja.

— Utiliza-se do nome de Deus para ter credibilidade e alugar um imóvel, mas acaba não pagando por ele. É triste e chega a ser imoral — afirma Onivaldo Freitas Júnior, advogado que atuou no processo contra a igreja e o deputado, acrescentando. — O Judiciário precisa agir, assim como fez neste caso.

Briga com Edir Macedo

A igreja foi condenada em primeira e segunda instância. Agora, só pode recorrer para questionar o valor final da dívida. O histórico polêmico do pastor Valdemiro vai além da fama de mau pagador.

Na pandemia, ele virou alvo da Justiça após sugerir a falsa cura da Covid-19 por meio do cultivo de feijões. Já na campanha eleitoral do ano passado, o líder religioso recebeu o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro em um de seus cultos. 

O ex-presidente usou o palco sagrado para fazer uma fala homofóbica , dizendo que um decreto de Luiz Inácio Lula da Silva que visava o combate à desigualdade de gênero e LGBTfobia tinha como objetivo a “desconstrução da heteronormatividade” e a “destruição da família”.

Conhecido pelo chapéu de vaqueiro que costuma usar durante a pregação, Valdemiro fundou a sua própria denominação após romper com o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. A briga dos dois virou uma verdadeira guerra religiosa, com disputa de fiéis e direito a acusações na televisão. 

Valdemiro chegou a dizer que o “câncer” de Macedo era obra do demônio. O bispo retrucou convocando uma médica para mostrar que não estava acometido pela doença. Ele exibiu uma reportagem na emissora em que acusa o pastor de investir milhões de reais da igreja para comprar fazendas.

Com altos e baixos na sua trajetória como apóstolo, que começou após sobreviver a um naufrágio em Moçambique em 1996, Valdemiro construiu um império religioso. Segundo a página oficial da igreja, há cerca de 6 mil templos divididos entre Brasil e demais países do mundo. No site também consta que o grupo tem TV, aplicativo de celular, site e inúmeros imóveis.

Procurados, o pastor e a Igreja Mundial do Poder de Deus não responderam.


Fonte: O GLOBO