Presidente ucraniano sugeriu que o país estaria perdendo o controle da região ao ser questionado por repórteres durante o G7

Após a Rússia afirmar que as forças do grupo paramilitar Wagner haviam tomado Bakhmut — cidade no Leste da Ucrânia que se tornou o epicentro das batalhas mais sangrentas da guerra nos últimos meses —, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sugeriu neste domingo que estaria perdendo o controle da região. O chefe de Estado, no entanto, negou que as tropas russas tenham ocupado totalmente o território.

— Hoje nosso povo está realizando uma tarefa importante: eles estão em Bakhmut — disse Zelensky no Japão, onde se reuniu com líderes do G7 e países convidados. — Não vou compartilhar os pontos onde [estão]. Bakhmut não está tomada pela Federação Russa, não deve haver múltiplas interpretações — assegurou.

O Ministério da Defesa russo emitiu um comunicado neste domingo afirmando que as forças do grupo mercenário Wagner "completaram a libertação da cidade". 

Ao ser perguntado durante a reunião bilateral com o presidente americano Joe Biden se Bakhmut ainda estava sob controle de Kiev, Zelensky escorregou ao responder a repórteres "acho que não", indicando que as tropas ucranianas poderiam ter perdido o território. Mais tarde, o seu porta-voz, Serhiy Nykyforov, disse que os jornalistas interpretaram o comentário errado.

— Por hoje, Bakhmut está apenas em nossos corações. Não há nada — disse Zelensky neste domingo, em referência aos estragos provocados pelos meses de batalhas na região.

Segundo ele, a única coisa que resta na cidade é "um monte de russos mortos". Durante visita ao memorial de Hiroshima, Zelensky disse que as imagens da devastação causada pelo ataque de bomba atômica à cidade japonesa em 1945 o lembraram do estado em que Bakhmut se encontra atualmente.

As idas e vindas nas declarações do presidente ucraniano são um retrato de uma série de informações desencontradas sobre a real situação de Bakhmut, com ambos os lados afirmando que o outro está perdendo terreno. Independentemente de quem esteja falando a verdade, o fato é que, após oito meses de confrontos, a cidade agora está em ruínas.

No início do dia, a Força Aérea ucraniana afirmou que seus sistemas de defesa abateram 21 drones russos no sábado — 18 deles sobre a região de Kiev, com várias explosões ouvidas na capital. Foi o 11º ataque aéreo a Kiev desde o início do mês. Vinte das aeronaves derrubadas eram drones do tipo Shahed, que o Irã tem fornecido à Rússia.

De acordo com a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, os combates continuam em Bakhmut. Embora os russos possam ter tomado o controle da cidade propriamente dita, ela disse que eles não têm capacidade para cercá-la e perderam parte do território nos arredores. Algumas instalações industriais também estariam sob domínio das tropas ucranianas, segundo Malyar.

— O avanço das nossas tropas nos subúrbios, que ainda está em andamento, torna muito difícil para o inimigo permanecer em Bakhmut — disse ela no Telegram. — Nossas tropas cercaram parcialmente a cidade, o que nos dá a oportunidade de destruir o inimigo.

O fundador do grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, também disse em um vídeo postado no sábado no Telegram que seus soldados se retirariam de Bakhmut em 25 de maio "para descanso e retreinamento" e entregariam as operações aos militares russos.

— Tomamos a cidade inteira, completamente, de casa em casa — disse ele no vídeo.


Fonte: O GLOBO