Josep Borrell vê crise desencadeada por rebelião de paramilitares como a mais grave instabilidade na Rússia em décadas
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, vê um perigo maior caso haja perda de poder do presidente russo, Vladimir Putin, diante da crise interna provocada pela rebelião do paramilitar Grupo Wagner, no fim de semana.
— Um Putin mais fraco é uma ameaça maior. Temos que estar atentos às consequências — declarou Borrell, nesta quinta-feira, ao chegar para a Cúpula Europeia, em Bruxelas.
O diplomata europeu considera que o episódio conduzido pelo líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, desencadeou a maior instabilidade em décadas na Rússia.
— Até agora, víamos a Rússia como uma ameaça porque era uma grande força e uma força que foi usada na Ucrânia. Agora temos que ver a Rússia como um risco pela ótica da instabilidade interna — defendeu.
De acordo com Borrell, a União Europeia decidiu apoiar a Ucrânia “no longo prazo, durante e depois da guerra”.
Outras autoridades europeias também acompanham de perto os desdobramentos do levante em Moscou. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que a rebelião de mercenários ainda vai gerar “tremores secundários” e defendeu o aumento do apoio às forças ucranianas. Para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, o motim de paramilitares revelou a existência de “divisões” na Rússia, ainda que considere “prematuro tirar conclusões finais”.
Ao chegar para o encontro de cúpula em Bruxelas, o presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, também comentou a crise na Rússia.
— Devemos entender que qualquer movimento no sistema político da Rússia terá repercussões em nossa segurança — alertou Nauseda.
Fraturas internas
Na quarta-feira, o general russo Sergei Surovikin, ligado à ala do Exército mais próxima ao líder mercenário Yevgeny Prigojin, foi preso, aparentemente para interrogatório, após surgirem informações de fontes americanas de que ele teria conhecimento dos planos para o motim de Prigojin, antes de a rebelião ser consumada.
Se Surovikin estivesse envolvido nos eventos que levaram os mercenários que lutavam em território ucraniano a marcharem em direção a Moscou, seria o mais recente sinal da luta interna na liderança militar russa — o que poderia sinalizar uma fratura mais ampla entre os partidários de Prigojin e os dois principais conselheiros militares de Putin: Sergei Shoigu, o ministro da Defesa, e o general Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior.
O nome de Surovikin circulou na imprensa Ocidental na terça-feira, após o New York Times, citando fontes de inteligência americana, noticiar que o general teria informações sobre o levante mercenário antes de ele ser consumado.
Ao longo do sábado passado, as forças de Prigojin tomaram várias instalações militares na cidade estratégica de Rostov, no Sudoeste da Rússia, e percorreram 600 quilômetros em direção a Moscou.
A rebelião terminou, no sábado à noite, após um acordo que deu garantias de imunidade ao líder do Wagner e a seus homens, em troca do fim do levante. Na terça-feira, o presidente Bielorrússia, Alexander Lukashenko, confirmou a chegada de Prigojin ao país, como parte da negociação de cessar-fogo. (Com AFP)
Fonte: O GLOBO
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