Multas podem chegar a R$ 1,6 milhão. Será proibido promover cirurgias estéticas e alguns produtos financeiros. Conteúdo sobre apostas esportivas terão regras rígidas. 'A lei da selva acabou', diz parlamentar

Para combater os abusos de algumas estrelas das redes sociais, entre acusações de fraude e promoção de remédios e produtos que trazem risco à saúde, o Parlamento francês aprovou uma lei que regulamenta o marketing de influenciadores digitais. O texto foi aprovado pela Câmara na quarta-feira e ratificado por unanimidade no Senado nessa quinta-feira.

Com a aprovação da nova lei, a França passa a ser o primeiro país da Europa a regulamentar as postagens de influenciadores nas mídias sociais, regulando o que as pessoas podem monetizar e promover on-line. As penalidades previstas para quem infringir a nova lei são de até dois anos de prisão e multa de € 300 mil (cerca de R$ 1,6 milhão).

A nova lei proíbe a criação de conteúdo pago que promova o tabagismo, cirurgias estéticas e alguns tipos de dispositivos médicos e, ainda, certas modalidades de produtos financeiros. Haverá restrições para a promoção de criptoativos e de esquemas de apostas - a promoção de jogos de azar só poderá ser realizada em redes sociais que consigam limitar o acesso de menores de idade.

Alguns 'influencers', que costumam ter um grande número de seguidores e podem definir tendências, usam sua reputação para promover produtos ou serviços, mas muitas vezes não declaram que estão aceitando dinheiro em troca de anunciá-los.

- A lei da selva acabou - declarou o parlamentar socialista Arthur Delaporte.

Representante do Renascimento, partido do bloco governista, Stéphane Vojetta prometeu que o texto “protegerá os consumidores, principalmente os mais jovens”.

- A lei foi aprovada em tempo recorde e por unanimidade, o que mostra quanto apoio ela teve tanto no governo quanto no parlamento. Havia uma compreensão clara da necessidade de responder com urgência ao desafio em questão - ressaltou.

150 mil influenciadores criando conteúdo

Estima-se que 150.000 influenciadores criem conteúdo nas mídias sociais voltado para o público francês, de acordo com o Ministério da Economia, Finanças e Soberania Industrial e Digital da França.

Levando em conta que muitos deles trabalham no exterior (em Dubai, por exemplo), o texto quer obrigar quem atua fora da União Europeia (UE), da Suíça ou do espaço econômico europeu a contratar um seguro civil dentro do bloco europeu.

Assim, pretende-se criar um fundo para compensar as potenciais vítimas. Além disso, esses 'influenciadores' devem nomear um representante legal na UE.

Até quinta-feira, nenhuma lei na França regulava diretamente a atividade comercial nas mídias sociais, deixando os consumidores vulneráveis a golpes e fraudes.

Em entrevista à ABC News, Vojetta disse que a nova lei também fecha uma brecha existente quando se trata de publicidade on-line. A partir de agora, os criadores de conteúdo terão que cumprir as leis de publicidade francesas existentes quando se trata da promoção de produtos e serviços. Também serão obrigados a rotular todo o conteúdo pago, adicionando isenções de responsabilidade extras se o conteúdo tiver sido filtrado ou editado.


Fonte: O GLOBO