Previsão era que reunião abordasse temas como guerra na Ucrânia e combate à fome; presidente brasileiro deve se reunir nas próximas horas com premier italiana

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido nesta quarta-feira pelo Papa Francisco, no Vaticano. O encontro a portas fechadas entre os dois foi um dos vários compromissos do petista no segundo dia de sua viagem à Itália, primeira parada da segunda viagem que faz à Europa desde que seu governo começou.

Lula foi recebido pelo Papa no Vaticano por volta das 14h30 (9h30, hora do Brasil), logo após almoçar com o presidente italiano, Sergio Mattarella. De acordo com informações antecipadas pelo GLOBO, a expectativa é que a conversa entre os dois tenha abordado temas como o combate à fome e soluções pacíficas para o fim da guerra na Ucrânia.

O encontro foi o segundo dos dois desde que Francisco ascendeu ao Trono de São Pedro em 2013, dias após seu antecessor, Bento XVI, abdicar da função. O Pontífice, que teve alta na sexta após uma internação de nove dias devido a uma cirurgia no abdômen, havia recebido Lula no Vaticano em fevereiro de 2020, cerca de 90 dias após o petista ser solto da prisão em Curitiba, onde passou 19 meses.

A viagem foi a primeira que realizou após reconquistar sua liberdade, e chegou a precisar pedir autorização da Justiça para fazê-la. Na época, ela ocorreu por intermédio do presidente da Argentina, Alberto Fernández, um aliado de longa data de Lula — o conterrâneo solicitou que o Pontífice recebesse o petista, pedido acatado em questão de semanas. Desta vez, o convite veio do Vaticano.

Na ocasião do primeiro encontro na casa de hóspedes Santa Marta, dentro da Cidade do Vaticano, os dois discutiram temas relacionados ao combate à pobreza. Lula estava acompanhado de uma pequena comitiva que incluía seu hoje assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, e seu fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert.

Durante o encontro, fontes afirmaram, Francisco teria dito a Lula que estava feliz de vê-lo solto, mas não fez maiores comentários sobre os motivos por trás da prisão do petista. Com o passar dos anos, contudo, o Papa foi mais vocal em suas opiniões sobre a Lava-Jato.

Em uma entrevista no fim do ano passado ao jornal espanhol ABC, ele afirmou que o processo posteriormente anulado que condenou o petista "começou com notícias falsas na mídia" que "criaram uma atmosfera que favoreceu a colocação de Lula em um julgamento". Em março deste ano, disse à emissora argentina C5N que Lula foi condenado sem provas e que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi injusto, chamando-a de "mãos limpas" e uma "excelente mulher".

O argentino também mandou ao menos uma carta ao atual presidente brasileiro durante o tempo em que o destinatário esteve atrás das grades. Em maio de 2019, o site oficial de Lula divulgou uma correspondência em que o Pontífice lamenta as "duras provas" pelas quais o político passava, manifestando solidariedade pelas mortes de sua então mulher, Dona Marisa; do irmão Genivaldo Inácio da Silva; e do neto de 7 anos, Arthur Araújo Lula da Silva. A carta pedia coragem para "não desanimasse" e "continuasse confiando em Deus".

Na antecipação do encontro desta quarta, Lula e o Papa conversaram por telefone no último dia 31. Durante a chamada, o religioso agradeceu o petista por seus esforços para pôr um fim na invasão russa da Ucrânia, e o presidente brasileiro convidou-o para retornar ao Brasil.

Bolsonaro não se encontrou ou falou por telefone com o Papa em nenhum momento do seu governo — a última chefe de governo brasileira a ser recebida por Francisco no Vaticano foi Dilma, em 2014. Após os atos golpistas de 8 de janeiro contra prédios dos Três Poderes em Brasília, o jesuíta afirmou que estava "pensando no Brasil" e condenou o enfraquecimento da democracia nas Américas.

Antes de se encontrar com o Papa, Lula reuniu-se com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, com quem tratou do "estreitamento das relações entre dois países irmãos e o acordo entre a União Europeia e do Mercosul". O desatar do pacto, negociado há duas décadas, e o imbróglio ao redor dos termos de sua side letter, adendo cujos termos ambientais gera desavenças, é uma das prioridades da política externa brasileira.

Antes de se reunir com Mattarella no Quirinale, onde foi oferecido um almoço em homenagem ao presidente brasileiro, Lula havia se reunido com a secretária-geral do Partido Democrático (PD), Elly Schlein, e com o ex-premier Massimo D'Alema, seu primeiro compromisso desta quarta.

Com D'Alema, Lula conversou sobre temas como democracia, paz mundial e desafios comuns a vários países. Segundo Schlein, os temas abordados durante sua reunião com o brasileiro foram parecidos, citando democracia, mudanças climáticas e desigualdade. De acordo com o governo brasileiro, falaram também de assuntos como violência de gênero e machismo na política.

Após a reunião com o Papa, o petista deve se reunir com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. O Itamaraty havia na segunda afirmado que o encontro não aconteceria por divergências na agenda, mas acabou confirmado ontem. O compromisso final do presidente nesta quarta será com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri — a conversa será de natureza mais pessoal, pois o político foi uma das autoridades que visitou o atual presidente quando estava preso em Curitiba.

Lula seguirá para a França na quinta, onde seu principal compromisso será a participação na Cúpula sobre o Novo Pacto Financeiro Global.


Fonte: O GLOBO