Gigante americana FIS está lançando no país tecnologia de IA da Neener Analytics

A FIS, gigante americana de tecnologia financeira, está lançando no Brasil uma ferramenta que permite que bancos, varejistas e fintechs “leiam” o que os clientes dizem nas redes sociais antes de conceder crédito. O método — que exige autorização do consumidor — promete empregar inteligência artificial para analisar “a forma como ele se expressa nas redes” e, a partir disso, determinar se ele é bom pagador em apenas 15 segundos. O objetivo, segundo a companhia, é ajudar a reduzir a taxa de rejeição e encontrar clientes viáveis na multidão que costuma ter crédito negado.

A ferramenta já foi testada com três grupos brasileiros, entre eles “uma grande varejista”, diz a FIS, que alega não poder revelar o nome dos clientes por razões contratuais. Agora, a solução passará a ser oferecida em grande escala aos clientes da FIS, cuja infraestrutura processa mais de 72 milhões de cartões no país.

— Nossa expectativa é que, já no médio prazo, pelo menos de três a cinco grandes entidades financeiras brasileiras estejam utilizando a tecnologia — diz Anderson Lucas, vice-presidente de negócios da FIS para América Latina, acrescentando que a ferramenta será apresentada semana que vem na Febraban Tech, feira de tecnologia da associação de bancos brasileiros. — Neste momento de restrição a crédito e aumento da inadimplência, a ferramenta pode ser um diferencial competitivo.

Mar azul na área cinza

A solução foi criada pela Neener Analytics, startup do Vale do Silício que foi “acelerada” e recebeu investimento da própria FIS. Ela sustenta ter desenvolvido uma metodologia que, a partir da maneira como as pessoas se comunicam nas redes sociais — não exatamente o que elas dizem, mas a forma como dizem — é capaz de inferir traços psicológicos e comportamentais que têm correlação com hábitos de pagamento. A ideia é oferecer uma alternativa com maior grau de personalização aos métodos tradicionais, que avaliam sobretudo histórico de pagamento e similaridades dentro de grupos socioeconômicos.

Em seu site, a Neener diz conseguir “resgatar” pelo menos 15% de bons pagadores entre os clientes que tiveram o crédito rejeitado e reduzir os calotes em mais de 13%.

O método é aplicado no momento do “onboarding” — isto é, quando o cliente está se cadastrando nas plataformas de bancos e varejistas. A empresa oferece ao consumidor a opção do “opt in” e, se ele concordar em participar, uma janela no qual ele pode logar em alguma de suas redes sociais aparece.

— No fluxo tradicional, a instituição separa os clientes entre aqueles que “claro que sim” receberão crédito; aqueles que “claro que não”, e aqueles no meio do caminho, na área do talvez. É nesse lugar que a Neener vai buscar os clientes, onde estão muitos sub-bancarizados e consumidores millennials e da geração Z que não têm histórico de crédito. Essa zona cinza é um mar azul de oportunidades. Afinal, 85% dos pedidos de crédito são negados hoje — afirma Marcus Dantas, chefe do time de pré-vendas da FIS para América Latina.

Privacidade

Segundo os executivos, a tecnologia já foi testada em México, EUA e Colômbia, mas o foco inicial do lançamento é o Brasil. A ferramenta foi adaptada ao longo dos testes para respeitar os parâmetros da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

Os executivos da FIS não veem com preocupação eventual rejeição dos clientes por questões de privacidade.

— A gente não armazena nenhum tipo de informação pessoal do consumidor e tudo é feito mediante o seu aceite. Acreditamos que, ao explicar o benefício da solução para o usuário, será possível convencê-lo — argumenta Anderson Lucas.


Fonte: O GLOBO