Empresa brasileira, que é a maior produtora de carnes do mundo, vai criar holding na Holanda, e modelo prevê mais direitos de voto à família Batista. Listagem era esperada há quase 10 anos

A multinacional brasileira JBS está avançando com seu plano, há muito adiado, de abrir seu capital nos Estados Unidos. A maior fornecedora de carnes do mundo apresentou um pedido de registro à SEC, o órgão regulador do mercado de capitais dos EUA, e buscará a aprovação dos acionistas para negociar suas ações na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) por meio de uma listagem direta.

Após o anúncio, as ações da empresa dispararam na Bolsa de Valores de São Paulo e chegaram a subir quase 8% na manhã desta quarta-feira. O dólar, por sua vez, opera em queda firme, de mais de 1%, após a divulgação de uma inflação abaixo do previsto nos EUA.

A JBS terá uma dupla listagem: recibos de depósito brasileiros (RDBs) lastreados nas ações a serem lançadas na Nyse serão negociados na Bovespa, onde a empresa está atualmente listada.

A JBS tenta levar suas ações para serem negociadas no mercado americano há mais de uma década, período no qual registrou forte expansão internacional por meio de um "rolo compressor" de aquisição de rivais em vários países.

Mas um cenário econômico adverso e os escândalos de corrupção nos quais os irmãos Wesley e Joesley Batista se envolveram acabaram adiando os planos de abrir capital nos EUA.

O CEO da empresa, Gilberto Tomazoni, acredita que desta vez será diferente. Ele argumenta que o modelo de reorganização societária escolhido agora para estrear no mercado americano é mais simples do que nas tentativas anteriores.

- Criamos todas as condições para que este (plano de reestruturação societária) seja aprovado - disse Tomazoni em uma entrevista à agência Bloomberg.

Segundo ele, o plano aumentará substancialmente a capacidade da empresa de crescer e usar o seu patrimônio para obter financiamentos:

- Estou convencido de que ele trará um enorme valor para o acionista.

Prazo de adesão dos atuais acionistas até 2026

A JBS planeja criar uma holding com uma empresa na Holanda para fazer a operação. O modelo proposto não afetará a forma como as operações da JBS em todo o mundo são organizadas nem seus fluxos financeiros. A empresa continuará a ser administrada a partir de sua sede em São Paulo.

- É exatamente a mesma JBS que vocês conhecem hoje - disse o diretor financeiro, Guilherme Cavalcanti, na entrevista.

A empresa optará por uma política de ações duplas que dará aos seus atuais acionistas controladores, a família Batista, mais direitos de voto. Os donos das atuais ações ordinárias da companhia terão a opção, até 2026, de convertê-las em ações Classe B, que recebem dez votos cada, sob determinadas condições.

Nos últimos anos, a JBS tomou medidas para eliminar os obstáculos que impediam sua listagem nos EUA, incluindo a assinatura de um acordo com o Departamento de Justiça por sua controladora devido a episódios de corrupção no Brasil e um acordo separado com a SEC sobre infrações contábeis. Isso abre caminho para os bancos de Wall Street subscreverem qualquer oferta da JBS.

A listagem nos Estados Unidos é vista como fundamental para que a empresa tenha acesso a um grupo mais amplo de investidores institucionais e para aumentar a confiança em seus padrões de governança corporativa, reduzindo os seus custos de financiamento e melhorando sua avaliação vis a vis seus rivais americanos.

As operações do grupo nos EUA, que incluem a produtora de frangos de capital aberto Pilgrim's Pride, geram quase metade das receitas da JBS. O Brasil, onde a empresa foi criada há 70 anos, responde por 12% das vendas.

Nos últimos anos, a JBS conseguiu reduzir seus empréstimos bancários e prolongar os prazos de vencimentos da dívida a custos menores. Mais recentemente, a empresa viu seus lucros despencarem em meio a preços recordes do gado nos EUA e aos custos elevados da ração animal, em um momento em que a inflação reduziu a demanda dos consumidores.


Fonte: O GLOBO