Entre goleadas e tropeço das favoritas, primeira rodada do Mundial terminou com grandes estrelas brilhando e recordes quebrados

A primeira rodada da Copa do Mundo Feminina 2023 terminou com um saldo positivo para algumas das seleções que se apresentam como forte concorrentes ao título, mas acendeu um sinal de alerta para outras equipes que começaram mal no Mundial. 

Só três vitórias aconteceram por três ou mais gols de diferença — número baixo em comparação aos placares elásticos de outras edições —, mas belas atuações coletivas combinadas a jogadoras em dia inspirado contribuíram para uma primeira semana movimentada e com novos recordes estabelecidos.

Em alta: Brasil, Japão e Alemanha

A primeira rodada alçou Brasil, Japão e Alemanha ao posto de fortes concorrentes ao título, mesmo começando contra seleções pouco expressivas. A seleção brasileira goleou 4 a 0 sobre o Panamá, em noite inspirada de Ary Borges, que fez um hat-trick na estreia em Copas e deu passe para Bia Zaneratto completar o placar. Mas as atuações de gala não se restringiram a ela, já que o meio-campo demonstrou confiança, criatividade e entrosamento para propor lances de perigo durante os 90 minutos e dar o ritmo do domínio brasileiro.

Segundo maior placar, o Japão atropelou a Zâmbia por 5 a 0 e deixou a sensação de que o resultado ainda ficou barato. Miyasawa marcou duas vezes, e Tanaka, Endo e Ueki ampliaram o marcador. Principal jogadora do Japão, Tanaka ainda balançou as redes outras duas vezes, mas os gols foram anulados corretamente pelo VAR, que constatou impedimento. As japonesas não deram espaço para Zâmbia respirar e finalizaram 26 vezes contra a meta adversária, 11 no alvo.

Quem aplicou o maior passeio foi a Alemanha, que deixou o Marrocos para trás com um chocolate de 6 a 0. Alexandra Popp, que dividiu a artilharia da Euro no ano passado com a inglesa Beth Mead, deixou dois na rede. Bühl e Schüller ampliaram a vantagem, e Mrabet e El Haj ainda marcaram contra a própria meta.

Pode melhorar: EUA e Espanha não aproveitam todo o potencial

EUA e Espanha tiveram vitórias sólida, as duas por 3 a 0, contra o Vietnã e a Costa Rica. As espanholas impressionaram pelo volume de jogo — foram 46 finalizações, contra apenas uma das costarriquenhas —, mas a sensação foi a de que foi uma oportunidade desperdiçada de buscar a artilharia. 

A boa notícia ficou pela volta da atual e duas vezes consecutivas eleita a melhor do mundo, Alexia Putellas, que voltou a vestir a camisa da Fúria depois de mais de um ano. Em julho de 2022, ela rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito durante os treinamentos preparatórios para a Euro. Ela ficou em campo por apenas 21 minutos, mas empolgou os presentes no estádio e deu esperanças para os torcedores pela boa forma que apresentou.

Já os EUA contaram com a liderança da jovem Sophia Smith, que aos 22 anos é a grande promessa do futuro da seleção. Na sua estreia em Copas, ela marcou duas vezes e deu passe para Horan fechar o placar, liderando a vitória das estadunidenses. 

Lavelle e Rapinoe saíram do banco, mas a primeira jogou bem, enquanto a segunda, que aos 38 anos se despede do futebol no final deste ano, não rendeu. O placar poderia ter sido maior, se o pênalti de Morgan não tivesse parado nas mãos da goleira vietnamita Kim Thanh, principal destaque da seleção asiática na partida, que conseguiu frear o potencial ofensivo das estadunidenseses.

A primeira rodada também marcou a quebra de diferentes recordes ao redor do mundo. Os tocedores, que lotam as arquibancadas e já chegam a 70% do público total da primeira fase do Mundial da França, compareceram em peso às estreias das anfitriãs. Mais de 75 mil torcedores compareceram ao Stadium Australia, palco da final, maior público de um jogo da seleção feminina no país. Na Nova Zelândia, os mais de 41 mil presentes no Eden Park alcançaram o maior número de espectadores de uma partida de futebol do país.

Quem assiste de casa também contribui para bater atingir outras marcas históricas: a audiência da estreia do Brasil na TV Globo registrou um pico na faixa de horário que não era superado desde 2008, e foi duas vezes maior do que a dos programas exibidos na mesma hora nas quatro semanas anteriores. Pela internet, o streaming da CazéTV chegou a mais de um milhão de espectadores simultâneos no momento de maior audiência e se tornou a transmissão online de um jogo de futebol feminino mais assistida do mundo.

Em baixa: Inglaterra, França e Canadá

Atual campeã da Euro e com status de super favorita, a Inglaterra precisou suar para vencer o Haiti por 1 a 0, e passou sufoco na reta final, arriscando a levar o empate. Com atuações inexpressivas das estrelas Walsh, Toone, Bronze e Russo, quem marcou o gol da vitória foi Stanway, de pênalti, deixando muitas questões para a treinadora Sarina Wiegman resolver antes das próximas rodadas.

A França e o Canadá foram ainda pior e não conseguiram sair do 0 a 0 contra Nigéria e Jamaica. As duas seleções não são estreantes em Copas e estão em processo de evolução do futebol, mas a disparidade técnica e tática deveria ser suficiente para que as Bleues e as canadenses garantissem, pelo menos, uma vitória magra. 

Vindo de conflitos internos durante a preparação, as grandes estrelas não conseguiram decidir: a francesa Diani ocupou a área e teve cinco finalizações, mas só uma no gol; e a lenda do Canadá, Sinclair, desperdiçou pênalti e a oportunidade de ser a primeira pessoa a marcar em seis Copas diferentes.

Outro fator negativo que revela fragilidades defensivas foi a quantidade de pênaltis cometidos na primeira rodada. Foram oito penalidades marcadas em 16 jogos — todas aconteceram nos nove primeiros — e quatro desperdiçados, em uma média de 0.5 pênaltis cometidos por jogo. Nos últimos dois Mundiais, as médias ficaram em 0.34 e 0.40, respectivamente.


Fonte: O GLOBO