Em reunião da executiva nacional do PDT, parlamentar indicou abrir mão da reeleição em prol do presidenciável de 2022. Grupo cirista tenta barrar ala favorável a composição com o PT
O senador Cid Gomes (PDT-CE) afirmou, nesta segunda-feira, em reunião da executiva nacional do PDT em Brasília, que está disposto a abrir mão da reeleição ao Senado em 2026 em prol do irmão, o ex-ministro e presidenciável em 2022 Ciro Gomes, com quem vem protagonizando um racha no Ceará.
A declaração de Cid, relatada ao GLOBO por participantes da reunião, foi uma tentativa do senador de apaziguar uma briga familiar com Ciro, que vem respingando no PDT. Nesta segunda, Ciro e aliados aprovaram uma intervenção do diretório nacional no estado -- que não é reconhecida, contudo, por Cid e seus correligionários.
Cid, que compareceu à reunião da executiva nacional acompanhado por um grupo de deputados estaduais e prefeitos do Ceará, declarou que deseja assumir o comando estadual do PDT para evitar um encolhimento do partido e fortalecê-lo de olho nas eleições municipais de 2024. No entanto, o deputado federal André Figueiredo, presidente estadual do PDT no Ceará e que atualmente acumula a presidência nacional do partido, resiste à troca -- ele tem mandato no diretório cearense até dezembro.
Cid defende a retomada de uma aliança com o PT no estado. O movimento é rechaçado por Ciro, que é próximo a Figueiredo.
Na reunião, Cid argumentou que não está movido por "fisiologismo" e, para sinalizar sua postura, disse "abrir mão da vaga no Senado" em 2026 para o irmão concorrer. Na avaliação de aliados de Cid, uma eleição como senador poderia devolver protagonismo nacional a Ciro, que anunciou sua aposentadoria das urnas após registrar, em 2022, seu pior desempenho em disputas presidenciais.
Ciro, que já acusou o irmão publicamente de ter lhe dado uma "facada nas costas" ao se distanciar da campanha do PDT ao governo do Ceará no ano passado, também tem reiterado em entrevistas que abriu caminho para Cid se eleger governador em 2006. Ele se reelegeu em 2010, emplacou Camilo Santana (PT) como sucessor em 2014 e chegou ao Senado em 2018, período em que vigorou uma aliança entre a família Gomes e o PT no Ceará, rompida após movimentos de Ciro no ano passado.
Cid se referiu ao rompimento da aliança como "equívoco estratégico" do irmão e sugeriu que a postura vem fazendo o PDT encolher no Ceará, reduto da família.
-- Eu mantenho o seguinte: gosto do PDT e me identifico, ajudei a ser o maior partido no estado. Tudo que eu puder fazer para o PDT ser um partido bem representado, eu farei. Não aceito a carapuça de fisiologismo. (Em 2022) Ciro tinha uma visão de que a candidatura do PDT ao governo (com o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio) poderia ajudar na candidatura (presidencial) dele, enquanto eu achava que um candidato com apoio mais amplo poderia ter um papel melhor — declarou o senador, em entrevista coletiva em seu gabinete no Senado.
Ciro participou por videoconferência da reunião do PDT e, segundo participantes, não respondeu a sugestão de Cid sobre a vaga ao Senado. Em sua fala durante a reunião, o presidenciável pedetista de 2022 reiterou suas críticas ao governo Lula (PT) e disse que se alinha "à minoria" do PDT que defende uma postura de oposição à gestão petista no Ceará, do governador Elmano de Freitas.
O tom de Ciro foi bem recebido por aliados de Cid, que enxergaram uma tentativa mútua de diminuir a fervura da briga familiar.
A disputa pelo comando do PDT no Ceará, contudo, teve um recrudescimento nesta segunda-feira por conta do anúncio de uma intervenção da executiva nacional. Na prática, a resolução mantém a ascendência de André Figueiredo no diretório cearense e busca inviabilizar uma reunião, convocada por Cid para esta sexta-feira com apoio de dois terços dos membros no estado, para que o senador pudesse assumir o comando local.
O grupo de Cid interpreta a resolução como uma "faca no pescoço", já que ficariam sujeitos a processos disciplinares tocados pela executiva nacional se mantiverem o plano de destituir Figueiredo do diretório estadual. Parlamentares avaliam que a intervenção, realizada com anuência do presidente licenciado do PDT e atual ministro da Previdência, Carlos Lupi, abre caminho para uma briga judicial e mergulha o partido em um clima de insegurança.
Fonte: O GLOBO
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