Efeito foi observado após 84 semanas de tratamento com a maior dosagem do medicamento durante os estudos de fase 3
A farmacêutica Eli Lilly anunciou, nesta quinta-feira, dois novos resultados de estudos clínicos de fase 3 da tirzepatida, medicamento vendido sob o nome comercial de Mounjaro nos Estados Unidos. Nos testes, o remédio proporcionou uma redução inédita de até 26,6% do peso corporal a longo prazo, maior eficácia já observada de um fármaco destinado ao emagrecimento.
A tirzepatida está em análise na Anvisa desde o ano passado, mas para diabetes tipo 2. Caso receba o sinal verde, a farmacêutica já afirmou ao GLOBO que pretende avançar para incluir o tratamento da obesidade na bula. A substância é considerada uma nova geração dos análogos do GLP-1, classe de medicamentos da qual também pertencem o Ozempic e o Wegovy, ambos da Novo Nordisk.
A Eli Lilly já divulgou até agora quatro estudos de fase 3 da tirzepatida, chamados SURMOUNT. Os primeiros já haviam demonstrado uma alta eficácia para a perda de peso, de até 20,9% após 72 semanas de tratamento com a caneta injetada mensalmente na dosagem máxima. Já nos novos trabalhos, cujos participantes não tinham diabetes tipo 2, o emagrecimento chegou a inéditos 26,6% do corpo corporal depois de 84 semanas.
"Os resultados do SURMOUNT-3 e -4 mostraram o maior nível de perda de peso observado no programa SURMOUNT até o momento. (...) Além disso, as descobertas do SURMOUNT-4 reforçam que a obesidade deve ser considerada como outras doenças crônicas em que a terapia crônica (ininterrupta) pode ser necessária para manter os benefícios do tratamento”, diz Jeff Emmick, vice-presidente sênior de desenvolvimento de produtos da Lilly, em comunicado.
A consideração é porque o SURMOUNT-4 teve um desenho diferente. 783 participantes de cinco países, incluindo o Brasil, ficaram 36 semanas tomando a tirzepatida e, em seguida, foram divididos em dois grupos pelas outras 52 semanas. Um continuou com o medicamento, e os demais receberam placebo.
Depois de ambos terem passado por um emagrecimento de cerca de 20% no primeiro período, os resultados mudaram na parte final do acompanhamento. A metade que permaneceu com o remédio teve uma redução adicional de 6% do peso. Já os que interromperam o uso e iniciaram o placebo recuperaram 14,8% do peso.
Os efeitos colaterais mais comuns relatados nos testes foram gastrointestinais, como náuseas e vômitos, geralmente de grau leve a moderado. Os resultados do SURMOUNT-3 serão apresentados na Conferência ObesityWeek, e os do SURMOUNT-4, no Encontro Anual da Associação Europeia para Estudo da Diabetes, ambos em outubro. Os dados também serão submetidos para a publicação em uma revista científica.
Como agem os remédios para perda de peso?
As canetas injetáveis fazem parte de uma nova classe de medicamentos chamada análogos do GLP-1. É o caso da semaglutida (presente no Ozempic) e da liraglutida (no Saxenda), que simulam o hormônio GLP-1 no corpo humano.
Existem receptores desse hormônio em diversas partes do corpo. No pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, necessária para pacientes com diabetes.
Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Esses mecanismos levam a pessoa a sentir menos fome e, consequentemente, reduzir as calorias ingeridas por dia.
A tirzepatida é uma nova geração dessa classe porque tem o diferencial de ser um duplo agonista, simulando não só o GLP-1, como também um outro hormônio intestinal chamado GIP. A inclusão do novo alvo tem sido atribuída à maior eficácia do fármaco.
Já a retatrutida, uma molécula ainda mais recente, mas em fase de testes pela Eli Lilly, é um triplo agonista: além do GLP-1 e do GIP, simula também o GCC.
Qual é o remédio mais eficaz para perda de peso?
Até agora, os 26,6% da tirzepatida foram a redução mais alta de peso já observada a partir de um medicamento nos testes. No entanto, um fator que influencia é a duração do acompanhamento: de 84 semanas, também o mais longo já feito.
Trabalhos anteriores com a molécula em tempos mais curtos, publicados no New England Journal of Medicine, durante 72 semanas, mostraram um emagrecimento de até 20,9% do peso corporal na maior dosagem.
O efeito é superior ao observado na semaglutida, presente no Ozempic e no Wegovy, e na liraglutida, do Saxenda – os três desenvolvidos pela Novo Nordisk. A semaglutida na dose mais alta disponível, de 2,4 mg, proporcionou uma redução de peso de até 17% após 68 semanas, segundo um dos estudos publicado na revista científica Lancet. O efeito é menor que o da tirzepatida, porém a duração do monitoramento também foi.
Já a liraglutida, do Saxenda, que foi o primeiro medicamento do tipo aprovado pela Anvisa, ainda em 2016, é o que tem a menor eficácia. De acordo com o estudo SCALE, publicado na JAMA, a perda de peso foi de 6% após 56 semanas. Ele também tem o diferencial de ser aplicado diariamente, e não mensalmente como os outros.
Além dos medicamentos já disponíveis nos mercados nacional e internacional, há ainda uma nova substância, na fase de testes, que pode ser mais potente que a tirzepatida. Também desenvolvida pela Eli Lilly, a retatrutida reduziu em 24,2% o peso corporal após apenas 48 semanas de tratamento, segundo resultados da segunda das três etapas dos estudos clínicos.
Quais são os riscos e efeitos colaterais dos remédios para perda de peso?
Todos os medicamentos devem ser utilizados somente mediante indicação médica e têm efeitos colaterais. Na maior parte são leves, como náuseas, diarreia, baixo nível de açúcar no sangue (hipoglicemia), vômitos, tontura, indigestão, gastrite, refluxo, constipação e perda de apetite.
Fonte: O GLOBO
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