Números mostram uma lenta recuperação, porém desigual entre os países; proteção contra o sarampo tem desempenho inferior à média

Um novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), publicado nesta quinta-feira, mostra que a cobertura vacinal das crianças começou a melhorar após a queda observada com a pandemia da Covid-19. No entanto, ainda não retornou aos patamares observados antes da crise sanitária.

“Esses dados são encorajadores e uma homenagem àqueles que trabalharam tanto para restaurar os serviços de imunização que salvam vidas após dois anos de declínio sustentado na cobertura de imunização. Mas as médias globais e regionais não contam toda a história e mascaram desigualdades graves e persistentes. Quando os países e as regiões ficam para trás, as crianças pagam o preço", aponta Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em comunicado.

No total, 20,5 milhões de crianças deixaram de receber uma ou mais vacinas nos serviços de imunização de rotina em 2022 pelo mundo. São 3,9 milhões a menos do que o registrado no anterior, o que representa um avanço. Ainda assim, é superior aos números de 2019, antes da Covid-19, quando eram cerca de 18,4 milhões sem as doses.

Esse indicador de cobertura global infantil é representado pela vacinação com a dtp, imunizante chamado de tríplice bacteriana que protege contra difteria, tétano e coqueluche. Do total de 20,5 milhões, em média 14,3 milhões não receberam nenhuma dose, número que diminuiu em 3,8 milhões em relação ano anterior, mas continua acima das 12,9 milhões de crianças desprotegidas em 2019.

Além disso, segundo os dados da OMS, a vacinação contra o sarampo, um dos patógenos considerados mais infecciosos e que ameaça um retorno em diversos países onde havia sido erradicado, obteve um desempenho pior nesse período de recuperação.

Em 2022, a busca pela primeira dose contra a doença aumentou, saindo de 81%, em 2021, para 83%. Porém, não chegou aos 86% obtidos no ano de 2019. Como consequência, no ano passado, 21,9 milhões de crianças perderam a vacinação de rotina no primeiro ano de vida, 2,7 milhões a mais do que o número de 2019. Considerando o esquema de duas doses, foram 35,2 milhões de novas crianças no mundo vulneráveis ao sarampo em 2022.

Desigualdade na recuperação

O lento avanço também chama atenção das autoridades por ser desigual. Dentre os 73 países que registraram quedas nos números de vacinados durante a pandemia, 34 estagnaram ou continuaram em declínio em 2022. Apenas 15 recuperaram os níveis pré-pandêmicos, e 24 ainda estão a caminho da recuperação.

O quadro causa preocupação porque o progresso em países com mais recursos para vacinação e grandes populações infantis, como Índia e Indonésia, mascara uma recuperação mais lenta ou mesmo declínios contínuos na maioria das nações de baixa renda.

“Por trás da tendência positiva existe um grave aviso. Até que mais países consertem as lacunas na cobertura de imunização de rotina, as crianças em todos os lugares continuarão em risco de contrair e morrer de doenças que podemos prevenir. Vírus como o sarampo não reconhecem fronteiras. Os esforços devem ser intensificados com urgência para recuperar as crianças que perderam a vacinação, enquanto restauram e melhoram ainda mais os serviços de imunização dos níveis pré-pandêmicos", diz a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell.

A organização destaca também que países que já tinham um histórico de altas coberturas têm conseguido recuperá-las com maior facilidade, enquanto lugares que enfrentavam dificuldades antes da Covid-19, como a América Latina e o Caribe, estão ainda distantes das metas de imunização.

O relatório também cita o projeto realizado pela OMS, UNICEF, Gavi, a Fundação Bill & Melinda Gates e outros parceiros da IA2030, chamado de 'The Big Catch-Up', lançado no início de 2023. Ele consiste em um esforço global de comunicação e defesa, pedindo aos governos que recuperem as crianças que perderam as vacinas durante a pandemia, restaurar os serviços de imunização aos níveis pré-pandêmicos e fortalecê-los no futuro.


Fonte: O GLOBO