Metade da bancada do partido na Câmara municipal defende que acordo para disputa da prefeitura foi firmado pelo comando nacional, sem diálogo com lideranças locais

Vereadores petistas de São Paulo têm cobrado maior participação nas discussões da liderança nacional sobre a eleição de 2024 na capital. Pelo menos metade da bancada de oito parlamentares já se mostra refratária à intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da mandatária do PT, Gleisi Hoffmann (PR), de apoiar a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Os vereadores da legenda Alessandro Guedes, Luna Zaratini, Arselino Tatto e Jair Tatto resistem à aliança e manifestam preocupação com o impacto dessa escolha na força do partido na cidade.

Para Arselino, o apoio a Boulos é um “grande erro político”. Ele argumenta que o acordo foi feito pela liderança nacional sem ouvir a base. Em sua visão, alavancar uma candidatura própria na capital poderia fazer com que a legenda retome força também na Grande São Paulo, que reúne cidades como Osasco, Itapecerica da Serra e Carapicuíba. A família Tatto, capitaneada pelo secretário nacional de Comunicação do partido, Jilmar, tem se posicionado crítica ao nome de Boulos.

— O PT ganhou cinco vezes a Presidência da República e três vezes na cidade de São Paulo, e tem que continuar sendo protagonista na cidade. Esse acordo foi feito sem uma discussão grande com o partido. Nada contra o Boulos. Se ele viesse para o PT, tranquilo, tudo bem. Mas o PT é muito grande, não podemos transformar São Paulo em uma nova Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre, onde o PT nunca tem candidato — reclama o vereador.

Em abril, os oito vereadores petistas assinaram uma carta entregue ao Diretório Nacional pedindo que Boulos se filiasse ao PT. O deputado do PSOL pretende se reunir com os vereadores paulistanos no mês que vem, com a intenção de reduzir os atritos.

As rusgas entre representantes do PT de São Paulo com as lideranças nacionais da sigla não são novas e perpassam votações importantes na Câmara Municipal. É visível que há, inclusive, um desacordo entre os próprios vereadores. Um exemplo foi a votação do Plano Diretor, em junho, quando cinco dos oito vereadores do partido votaram a favor do projeto capitaneado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB). A proposta alterou drasticamente o texto que havia sido aprovado em 2014, na gestão do petista Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda.

Em novembro do ano passado, cinco parlamentares também deram votos favoráveis a um projeto de Nunes que regulamentou dark kitchens — cozinhas industriais focadas nos aplicativos de delivery — e incluiu um “jabuti”, que aumentou o limite de barulho em estádios e casas de eventos.

Senival Moura, líder da bancada, admite que Boulos “tem chance real de ser eleito pelo PSOL”, mas acredita que ele teria mais chances caso se filiasse ao PT. O petista também defende que o diretório nacional abra discussões com as lideranças da capital e diz que quer cumprir o acordo firmado por Gleisi, mas “é preciso discutir:”

— Oferecer a vice, por exemplo, seria o mais justo. O PT é um partido grande, já governou a cidade por três oportunidades, fez os maiores projetos de inclusão social, o Bilhete Único foi em governo do PT, CEUs, corredores de ônibus. O PT sempre cumpriu acordos. nós queremos cumprir, mas queremos sugerir algo também que entendemos importante. Nos estamos procurando discutir ainda.

'Diminuir resistência'

Já Alessandro Guedes, que inicialmente também se colocou contra o apoio a Boulos, hoje se mostra mais aberto a aceitar a candidatura. No entanto, defende que o pré-candidato procure a bancada para “construir pontes e diminuir essa resistência” na capital.

— Existe uma ala que continua exigindo que o PT deveria ter candidatura própria. Eu estava com esse pensamento, mas acho que a gente ficar insistindo nisso acaba prejudicando o projeto. Teve uma reunião da Gleisi, a gente manifestou nossa preocupação de prejudicar o tamanho do partido na cidade — conta o vereador, que opina que a chance do acordo mudar “é próxima a zero”, já que tem o aval de Lula.


Fonte: O GLOBO