Com a decisão do governo federal de restringir o volume de passageiros no Santos Dumont a partir de outubro — para enfrentar a crise do Galeão —, a Gol saiu na frente. A empresa informou que vai ampliar a oferta de voos para o aeroporto internacional do Rio em 38% em outubro e em 110% a partir de novembro. Atualmente, a Gol já é a companhia brasileira com maior oferta de voos no Galeão. Com a ampliação, passará a contar com mais de 40 decolagens nos dias de pico.
Gol sai na frente e vai mais que dobrar oferta de assentos no terminal. Empresa terá 122.202 cadeiras adicionais em novembro

Além dos destinos que ela já operava, a companhia aérea terá rotas entre Galeão e Campinas, Caxias do Sul, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. No fim de outubro, a empresa também vai conectar o Galeão a Navegantes.

A companhia já opera hoje do aeroporto internacional do Rio de e para Aracaju, Belém, Brasília, Fortaleza, Foz do Iguaçu, João Pessoa, Manaus, Maceió, Natal, Recife, São Luís e Salvador. A empresa também voa do Galeão para a Argentina, com voos para os dois aeroportos de Buenos Aires (Ezeiza e Aeroparque) e para Córdoba.

A partir de meados de outubro, o volume de passageiros no Santos Dumont será restrito a 10 milhões. Para isso, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) precisa trabalhar com novas malhas aéreas das empresas. Como o aeroporto é dividido em slots (espaços e horários definidos de pouso e decolagem), a ideia era fazer uma nova divisão respeitando a participação de mercado no terminal antes da mudança.

Segundo fontes, o processo não foi imune a turbulências. Uma das empresas questionou a divisão porque uma rival teria previsto o uso de aviões maiores, o que na prática acabaria modificando a fatia de mercado de cada companhia no Santos Dumont.

A Gol informou à Anac que vai reduzir a oferta de voos partindo do Santos Dumont em 35,76% de 1º a 28 de outubro. Com a mudança, o número de assentos no Galeão e no Santos Dumont ficará próximo: 205.329 no terminal localizado no Centro do Rio e 194.835 no aeroporto internacional.

Os voos já estavam à venda no sistema da empresa e passageiros afetados já começaram a ser comunicados por e-mail.

No mês de novembro, quando de fato começa a próxima temporada de voos, a Gol vai reduzir em 30,75% a oferta anteriormente prevista para o Santos Dumont, com 204.484 assentos. No Galeão, a oferta de assentos vai mais do que dobrar, com alta de 110%. Serão 122.202 assentos a mais, de um total previsto de 232.872 no aeroporto internacional.

Na prática, isso significa que, potencialmente, seriam mais passageiros transportados pelo Galeão do que pelo Santos Dumont.

Latam e Azul ainda não estão prevendo voos extras para o Galeão em outubro. As duas estão trabalhando no planejamento de uma eventual oferta adicional de voos no terminal internacional a partir de novembro. Elass vão reduzir sua fatia no Santos Dumont em outubro. A Latam, em 26,2%, e a Azul, em cerca de 22%.

Independentemente do debate a respeito da restrição no Santos Dumont, a Latam já estava prevendo novas rotas no Galeão. Nos próximos dias inicia as vendas para o voo Galeão-Porto Seguro (diária) e para a rota sazonal Galeão-Caxias do Sul (com dois voos semanais). Houve ampliação em outras rotas, como as para Fortaleza e Brasilia. Hoje a Latam voa do Galeão para Brasília, Foz do Iguaçu, Fortaleza e São Paulo/Guarulhos.

No mercado internacional, a Latam opera 68 voos internacionais em média por semana, conectando o aeroporto do Galeão a quatro aeroportos (e três destinos) no exterior: Santiago, Lima e Buenos Aires.

Nos cálculos da RIOgaleão, concessionária que administra o aeroporto, no segundo semestre deve haver crescimento de 17% no mercado doméstico na comparação com igual período de 2022. Nos voos internacionais, o incremento chega a 28% na mesma base de comparação.

Em nota, a concessionária ressaltou que o crescimento será “fruto do esforço comercial” da empresa e “do caráter sazonal de algumas rotas”.

Ainda assim, pondera que mesmo com o aumento projetado o desempenho seguirá aquém do registrado no segundo semestre de 2019. Na prática, o total de voos equivale a 47% do período de julho a dezembro de 2019.

A operação da Gol alimenta a da Air France/KLM, única companhia europeia que não reduziu voos no Galeão nem durante a pandemia. A empresa opera 7 voos semanais para Paris e 6 para Amsterdã. A partir de setembro, Amsterdã também passa a ter voo diário.

— O aeroporto do Galeão no Rio é parte muito importante de nossa estratégia no Brasil, um dos principais mercados do grupo globalmente. E a parceria com a Gol é fundamental para tornar o aeroporto um importante centro de conexões para nossos clientes de cidades das demais regiões do país. Quanto mais voos domésticos, maior a demanda por nossos voos — diz Manuel Flahault, Diretor Geral da Air France-KLM na América do Sul.

O Rio também está na rota de lançamento de novos produtos, como a nova classe executiva do Boeing 777-300, que contou com a modernização das classes econômica e econômica premium. O Rio foi o segundo destino global a receber a nova configuração, tanto nas aeronaves de AirFrance quanto KLM, depois apenas de Nova York. Esses novos produtos estão previstos para chegar em São Paulo apenas no fim do ano e em 2024.

A low cost chilena JetSmart tem no Rio seu principal destino no Brasil. A empresa voa para Buenos Aires, Santiago e Montevideu a partir do Galeão. Para os meses de julho e agosto, a empresa aumentou a frequência dos três destinos. Santiago passou a ser diário.

Buenos Aires ficou com cinco voos por semana, e Montevidéu, quatro. Segundo a empresa, a manutenção desse aumento de frequência a partir de setembro irá depender da demanda.

Em junho, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou restringir voos no Santos Dumont a rotas para Brasília e São Paulo a partir do próximo ano. As mudanças na malha aérea das empresas ainda não contemplam este cenário.

Delmo Pinho, assessor da Fecomércio, lembrou de uma pesquisa da Fecomércio-RJ que apontou que seis em cada dez passageiros que embarcam em voos no Santos Dumont aceitariam fazer o voo partindo do Galeão:

— Ninguém vai deixar de voar porque está mudando de aeroporto, o mercado do Rio é um mercado bom.


Fonte: O GLOBO