Arranjo é conduzido por Waguinho, prefeito de Belford Roxo; partido se aproxima de cargo na capital em paralelo à articulação por ministério de Lula

Sob condução do grupo político da ex-ministra do Turismo, Daniela Carneiro, o Republicanos negocia um embarque no secretariado do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que também articula a entrada do partido em um ministério, Paes trabalha para ampliar sua base política na capital fluminense de olho na própria campanha à reeleição em 2024.

Presidente estadual do Republicanos, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, tem se aproximado de Paes em meio a resistências na sigla. As conversas incluem até mesmo o ex-deputado federal Eduardo Cunha, próximo a Waguinho.

As tratativas entre Paes e o prefeito de Belford Roxo, segundo interlocutores da Prefeitura do Rio, envolvem uma indicação do Republicanos ao primeiro escalão da administração municipal. Inicialmente, o espaço disponibilizado é a secretaria municipal de Ação Comunitária, vaga desde abril, quando a então titular da pasta, Marli Peçanha, assumiu a subprefeitura de Jacarepaguá.

Waguinho também é aliado de Lula, que garantiu investimentos federais em Belford Roxo para compensar a demissão de Daniela, sua mulher, do Ministério do Turismo. O Palácio do Planalto trabalha para abrir espaço ao Republicanos no governo federal, preferencialmente no Ministério do Esporte, para o qual é cotado o deputado Silvio Costa Filho (PE). 

Em paralelo, o governo já vem contemplando aliados de Waguinho em cargos locais: ele emplacou, em julho, Pedro Paulo da Silva, ex-funcionário da Prefeitura de Belford Roxo, na superintendência de Patrimônio da União (SPU) do Rio.

A aliança com Paes, por sua vez, desagrada alas do Republicanos que enxergam o prefeito do Rio como adversário. Nesse cenário, lideranças do partido defendem não assumir compromissos com a atual gestão carioca por ora, para compreender melhor o cenário das eleições municipais de 2024.

Na tentativa de diminuir resistências, Paes já procurou aliados de Waguinho, como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para alinhar o embarque do Republicanos em sua gestão. O prefeito também tem buscado pontes com o vereador Waldir Brazão, cujo grupo político comanda o diretório do partido na capital.

Em paralelo, integrantes do Republicanos ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, denominação evangélica influente no partido, afirmam que a articulação de Waguinho vem escanteando a ala religiosa.

Rival de Paes, o ex-prefeito Marcelo Crivella é uma das lideranças históricas do Republicanos, embora com pouca influência na cúpula do partido hoje, e rejeita uma aproximação com a atual gestão. Crivella corre risco de ficar inelegível por oito anos devido a um parecer da Câmara de Vereadores do Rio, publicado nesta segunda-feira, pela rejeição de suas contas de gestão. O presidente da Câmara do Rio, Carlo Caiado (PSD), estipulou um prazo regimental para que os vereadores votem o parecer até dezembro.

Apesar de articular contra a inelegibilidade de Crivella, a maioria da bancada de vereadores do Republicanos mantém relação amistosa com Paes. Há incômodo, porém, com a atuação de Waguinho, que negocia a aliança sem o aval da bancada.

Há cerca de três semanas, o prefeito de Belford Roxo reuniu-se com Paes para discutir uma aproximação na capital. A eventual entrada do Republicanos na gestão carioca pode criar arestas com o União Brasil, que hoje ocupa a pasta de Habitação. Um dos caciques do partido, o deputado estadual Márcio Canella, deve concorrer à Prefeitura de Belford Roxo contra um aliado de Waguinho.

Paes, que já costurou uma aliança com o PT para 2024, tenta atrair partidos além da esquerda para isolar o bolsonarismo e pavimentar a escolha de um aliado de confiança como candidato a vice. O deputado federal Pedro Paulo (PSD) e o presidente da Câmara de Vereadores, Carlo Caiado, são os mais cotados. O plano de Paes é filiar seu escolhido como vice justamente no União Brasil, para contemplar outro partido aliado na chapa.

O Republicanos deve ser o destino de deputados federais que pediram desfiliação do União Brasil, no início do ano, citando divergências com a estratégia de Paes. O grupo inclui a deputada federal Danielle Cunha, filha do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e a família do ex-deputado e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão. 

O diretório do Republicanos na capital fluminense está desde junho sob gestão de Maria Lúcia Brazão, integrante do clã. A ex-ministra e deputada federal Daniela Carneiro, mulher de Waguinho, pediu desfiliação do partido na mesma leva.

Outro nome que ingressou no Republicanos a reboque de Waguinho, o empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também diverge da aliança com Paes. Marinho tem declarado que ajudará a articular uma candidatura de Waguinho ao governo do Rio em 2026, plano que também está no horizonte de Paes.

O empresário, que rompeu com o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019, tem se reaproximado de Flávio desde o início deste ano. A Waguinho, ele defende que o partido tenha candidatura própria no Rio.


Fonte: O GLOBO