PM afirma que alguns equipamentos podiam estar sem bateria ou sem sinal de telefonia; agentes da Rota foram responsáveis por oito ocorrências com vítimas, mas não há gravações desses episódios

Embora a Polícia Militar de São Paulo tenha passado a adotar câmeras nos uniformes dos agentes a partir de 2020, não há imagens disponíveis de todas as mortes ocorridas na Operação Escudo, na Baixada Santista. As ações policiais já fizeram 16 vítimas, e há denúncias feitas à Ouvidoria das Polícias sobre abusos durante as incursões. 

O clima de guerra na região teve início após o assassinato do soldado da Rota Patrick Bastos Reis, no dia 237 de julho.

A Secretaria de Segurança Pública diz que na Escudo já foram presas 181 pessoas e apreendidos 500 quilos de drogas, além de 22 armas. Três PMs foram feridos por tiros de criminosos. A Polícia Militar afirma que as 16 vítimas foram mortas em confrontos e que 11 delas possuíam antecedentes criminais.

Por que não há imagens de todas as mortes se os policiais hoje usam câmeras nos uniformes?

Das 16 mortes registradas desde o início da operação, seis envolvem policiais de batalhões que não têm câmeras junto aos uniformes, segundo o coronel da Polícia Militar Pedro Luis de Souza Lopes.

Quantas gravações foram entregues ao Ministério Público de São Paulo até agora?

O coronel da PM afirma que foram compartilhadas com o MP as cenas de sete mortes. Mas ele diz que não há garantia de que sejam entregues imagens das outras dez ocorrências da operação. O coronel e a chefe da Comunicação da PM, coronel Daniela Pollete Merlin, afirmaram ontem que algumas câmeras portadas pelos agentes podiam estar descarregadas durante confrontos ou sem sinal de telefonia. 

A Polícia Militar promete apurar o que ocorreu com esses equipamentos, mas o coronel Pedro Luis de Souza Lopes disse que "essa situação de anomalia no uso de câmera não é relevante".

Por que não há imagens disponíveis das câmeras de policiais da Rota?

Essa é uma das perguntas ainda sem resposta. O GLOBO já mostrou que policiais da Rota são obrigados a usar os equipamentos corporais. No entanto, agentes não utilizaram o equipamento em ocorrências que tiveram imagens solicitadas pelo MP-SP. Nos dias seguintes à morte do policial, agentes da própria Rota, do 15º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) e do 3º Batalhão de Choque fizeram incursões nas comunidades do Guarujá.

A adoção de câmeras pela Polícia Militar São Paulo começou em 2020, dentro do programa Olho Vivo, que tem como objetivo a redução da violência. De acordo com o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), do MP-SP, entre 28 e 31 de julho, a Rota esteve envolvida na morte de oito pessoas no Guarujá.

Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Rota foi um dos 15 batalhões de São Paulo que primeiro adotaram as câmeras corporais, em junho de 2021. Pelo protocolo da corporação, o oficial não pode retirar as câmeras sem autorização de um superior.

— Se a Rota estava na ação, teria de usar, não tem margem. Para o batalhão que adotou a câmera, os policiais precisam usar em tempo ininterrupto. Eles só podem tirar para se alimentar e ir ao banheiro — explica Samira.


Fonte: O GLOBO