Em 2022, alviverde ampliou investimentos em compras de direitos de jogadores, luvas em renovações e assinaturas de contratos e categorias de base. Números entre os mais altos do futebol brasileiro
Faz 120 dias que o Palmeiras venceu o Paulista. Faz 191 dias que o Palmeiras ganhou a Supercopa do Brasil. Faz 278 dias que o Palmeiras conquistou o Brasileiro. Mesmo que você tire da lista estaduais e caça-níqueis, caso não dê tanta bola a essas competições, como eu não dou, é inegável que o clube alviverde é um dos que mais festeja títulos no futebol brasileiro. Faz quase uma década. E, ainda assim, depois da derrota para o Fluminense, alguém vai dizer que a Academia anda em crise.
Não é de agora. Em meados de julho, com a eliminação para o São Paulo na Copa do Brasil e alguns jogos ruins no Brasileiro, o Palmeiras era colocado nas mesas redondas e nas análises pós-jogo como um clube em baixa. Entenda a primeira grande crise da era Abel Ferreira! E qual é a conclusão de dez entre dez? Faltam reforços, o elenco é enxuto, o técnico olha para o banco e não encontra jogadores da mesma qualidade que o Flamengo. A diretoria não contrata porque não quer, pois dinheiro tem.
É assim que a crônica esportiva emburrece o torcedor e contamina o ambiente do futebol. Como as páginas precisam ser preenchidas por texto e os programas de rádio e tevê, por comentários em áudio e vídeo, alguma coisa precisa ser dita. E não dá para arranjar cliques e audiência sem um tanto proposital de exagero. Ponderação não garante emprego de jornalista. Até aí, consigo entender. A gente faz o que precisa ser feito para o salário cair no fim do mês. Só não podemos maltratar o fato.
O fato é que o Palmeiras, em 2022, no primeiro ano da administração de Leila Pereira, investiu mais em compras de direitos de jogadores do que em 2021. Passou de R$ 81 milhões para R$ 105 milhões. O clube também investiu mais em luvas por renovações e assinaturas de contratos, investiu mais nas categorias de base, endividou-se mais na compra parcelada de reforços. Não cito todos os números para não embaralhar o texto, mas garanto: estão todos entre os mais altos do futebol brasileiro.
Algo básico sobre gestão do futebol parece escapar à crítica. Quando se monta um time, e esse time conquista títulos, na temporada seguinte a exigência salarial passa de X para dois X. Remunerações de R$ 300 mil por mês vão a R$ 600 mil, para colocar termos financeiros. Não só salários e imagens sobem, são cobradas luvas sobre renovações de contrato. O administrador tem a seguinte escolha a fazer: manter os campeões, e pagar o que pedem, ou vender e repor como dá, com mercado e base?
O Palmeiras pende mais à renovação dos campeões — tanto que hoje tem a segunda folha salarial do futebol brasileiro — e à reposição via base do que contratando vinte jogadores por janela. Mas não quer dizer que não contrate, ou que o clube esteja poupando dinheiro enquanto o pobre Abel precisa se virar, atado por uma austeridade desatada. Esta interpretação não se segura no pobre, este sim, do fato. Você pode não gostar da estratégia ou dos jogadores contratados, mas que há, há.
No fundo, o que falta é olhar para o lado. E aqui me refiro pouco ao torcedor, que não tem obrigação de saber das dinâmicas da gestão do futebol, e sim ao comunicador. Crise no Palmeiras? Há crise no último lugar na tabela, apesar de gastos e investimentos relativamente altos. Há crise quando um preparador físico soca o rosto de um jogador insatisfeito com o banco. Jornalistas, influenciadores e demais deformadores de opinião precisam de um mínimo de parâmetro para embasar tanta crítica.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários