Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP) e a CGU anunciaram dados de ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o pleito

A região Nordeste concentrou quase metade (46,5%) de todos os ônibus fiscalizados durante operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições de 2022. De acordo com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, houve uma situação de "anormalidade" na atuação da corporação. Ex-chefe do órgão, Silvinei Vasques foi preso nesta quarta-feira numa investigação que apura suspeitas de interferência no pleito.

Os dados apresentados pelo ministério mostram que no dia 30 de outubro, 324 ônibus foram alvos da PRF na região nordeste, enquanto no Centro-oeste foram 152; no Sudeste, 79; no Norte, 76; e no Sul, 65. Segundo o diretor geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, a atuação da polícia foi "desproporcional" no Nordeste, com mobilização superior à empregada durante as festividades de São João, maior operação da corporação na região.

Segundo as informações, o governo de Jair Bolsonaro gastou cerca de R$ 7 milhões nas operações da PRF no primeiro e no segundo turno. Inicialmente, os recursos previstos para as eleições eram de R$ 3,6 milhões, mas foram duplicados para reforçar as ações no segundo turno, ainda que essa etapa da eleição demande menos das polícias, já que o fluxo de eleitores e o número de candidatos em disputa tende a ser menor.

– Três anomalias que estão retratadas nesse documento da PRF para CGU. A primeira anomalia: muito mais operações na região Nordeste que nas demais. Os órgãos de controle e investigação vão extrair conclusões desse fato objetivo e colher a defesa dos gestores da época para que expliquem as razões gerenciais que tiveram à época de determinar concentração de operações na região Nordeste – explicou Dino. 

– A segunda anomalia foi a mudança de planejamento em que aquilo que havia sido programado para o primeiro e o segundo turno foi duplicado com a alocação de mais recurso. E a terceira: houve determinação que a PRF atuasse com mais rigor em parceria inclusive com a PF.

Operação é questionada

A PRF é alvo de questionamentos por conta de sua atuação no segundo turno das eleições de 2022, quando uma operação da corporação dificultou a ida de eleitores ao local de votação, sobretudo no Nordeste, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem seu maior capital eleitoral.

Como a colunista do GLOBO Malu Gaspar mostrou, uma auxiliar do ex-ministro da Justiça Anderson Torres confirmou em depoimento à Polícia Federal que fez um mapeamento para identificar locais onde Lula havia sido mais votado. Marília Alencar ocupava o cargo de diretora de inteligência do Ministério da Justiça.

Considerando as fiscalizações de ônibus às vésperas do segundo turno, no período de 28 a 30 de outubro, foram 2.185 ônibus (47,5% do total) parados pela PRF no Nordeste; 893 no Centro-Oeste; 632 no Sul; 571 no Sudeste; e 310 no Norte.

– Foi desproporcional a operação no Nordeste me relação a demais operações do Brasil. A maior operação para o Nordeste é o São João e mesmo assim houve desproporção em relação ao segundo turno da eleição – disse o diretor geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira.

Efetivo maior no Nordeste

A quantidade de efetivo empregado pela polícia no Nordeste também foi maior que nas demais regiões. Foram 795 agentes na região, já no Sudeste foram 528; no Sul, 418; no Centro-Oeste, 381; no Norte, 230.

– Tivemos vários dados que convergem em relação àquilo que muitos noticiaram, falaram e temos comprovação empírica agora pela PRF, no sentido de que houve um desvio de padrão em relação à atuação rotineira, ordinária, à atuação normal da PRF – afirmou Flávio Dino.

O GLOBO mostrou que sob o governo de Jair Bolsonaro a corporação também foi responsável por 12 matanças (ações com morte de três pessoas ou mais). No governo bolsonarista, a PRF intensificou ações fora do rol tradicional de atribuições e passou a realizar incursões em favelas e áreas urbanas.

Casos de violência praticados pela PRF também foram amplamente noticiados, como o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, que foi parado por estar andando de moto sem capacete, colocado em um porta-malas de uma viatura e sufocado até a morte com gás lacrimogênio e spray de pimenta.


Fonte: O GLOBO