Laércio Santos foi agredido por um PM que trabalhava no Bar Tardezinha como segurança. Acusado foi condenado a 3 anos de prisão no regime semiaberto.

O autônomo Laércio Santos morreu na noite desse domingo (20) na UTI do Pronto-socorro de Rio Branco após ter voltado há 16 dias pra unidade. A vida dele mudou completamente ao ser encontrado, em abril do ano passado, desacordado e com uma rachadura no crânio ao lado de fora do Bar e Casa Noturna Tardezinha, em Rio Branco. Ele vivia acamado desde o mês de junho e se alimentava por sonda, usava fraldas descartáveis, não falava, nem andava e dependia da ajuda dos familiares.

Um amigo encontrou Santos desacordado do lado de fora do bar e o levou para casa sem saber dos ferimentos. As investigações descobriram que o autônomo foi agredido pelo policial militar Francisco Gomes Queiroz, que trabalhava como segurança no estabelecimento.

A vítima ficou vegetando desde a data do acidente, sem conseguir fazer nada sozinho. A mãe dele, Francisca Nunes contou que o filho havia voltado para a UTI há 16 dias, onde passou por nova cirurgia, mas o quadro se agravou e ele não resistiu.

"Deu problema na cabeça dele, foi preciso abrir a cabeça de novo, fizeram outra cirurgia, mas o médico me disse que não tinha mais o que fazer pelo meu filho. Aí meu filho estava lá sofrendo, ele estava sofrendo até ontem à noite [domingo, 20], quando ele morreu", disse.


Francisco Gomes Queiroz, que é 1º sargento da Polícia Militar, pegou 3 anos de prisão — Foto: Arquivo pessoal

Condenação

No dia 31 de janeiro deste ano, Francisco Gomes Queiroz, que é 1º sargento da Polícia Militar, foi condenado pela 3ª Vara Criminal da Comarca de Rio Branco a 3 anos de prisão, podendo ser cumprido no regime semiaberto.

“De acordo com os elementos de provas apurados no presente feito, restou devidamente confirmado que o acusado Francisco Gomes Queiroz causou lesões corporais de natureza gravíssima (incapacidade definitiva para o trabalho e perda definitiva da função neurológica) contra a vítima Laércio dos Santos, nos termos da exordial acusatória”, destaca a decisão assinada pelo juiz de direito Raimundo Nonato da Costa Maia.

A defesa do acusado, feita pelo advogado Matheus Moura, informou que está recorrendo da decisão e que o policial nega o delito.

“O processo criminal segue em andamento, entretanto, está na fase recursal perante a Câmara Criminal. No caso, estamos buscando sua absolvição, haja vista a negativa da autoria delitiva”, disse

No processo, o acusado chegou a dizer que não bateu em Laércio e que apenas ajudou alguns policiais que estavam tendo problemas com a segurança.

“Eu ajudei umas duas ou três vezes lá porque alguns policiais estavam tendo problemas com a segurança. Estava lá como cliente quando vi a confusão quando fui buscar um energético. Quando eu vi, ele já estava no chão e que não tinha mais ninguém tocando em ninguém. Perguntei para uma pessoa, que disse que um policial civil estava brigando com os seguranças, fui pegar a bebida no bar e
quando virei, ele já estava no chão.

Não consegui descobrir quem deu o murro nele, que eu nem cheguei a falar com o Laércio, que não sei porque os seguranças falaram isso de mim; que nunca imaginei que poderia ter sido acusado”, disse.


Laércio Santos estava na UTI há 16 dias — Foto: Arquivo da família

Investigações

Laércio Santos foi achado por um amigo ferido na calçada do bar. Achando que ele estava bêbado, o homem o levou para casa e o entregou para a esposa dele. Apenas no dia seguinte é que os familiares perceberam a gravidade da situação e procuraram um médico.

Na época, a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso, ouvir testemunhas e funcionários do estabelecimento. As investigações descobriram que o autônomo foi agredido por um policial militar de folga que estava trabalhando como segurança no bar.

Após ser identificado, o militar prestou esclarecimento e alegou legítima defesa. Contudo, o delegado Yvens Dixon, que concluiu o inquérito, confirmou que as investigações revelaram que não foi bem assim.

"Teve um empurra-empurra próxima à mesa dele. Mas, o segurança ao invés de separar a contenda já chegou agredindo a vítima. Depois ele caiu no chão desacordado e foi colocado inconsciente na calçada do Tardezinha", contou o delegado na época.

Dixon acrescentou que o inquérito já foi remetido ao Poder Judiciário com um pedido de prisão do militar. Porém, a Justiça ainda não deferiu a medida. "Ele não chegou a ser preso, pois o caso não era de prisão em flagrante. Passou a investigação em liberdade", concluiu.

Na época do crime, a administração do estabelecimento disse as informações repassadas eram de que Laércio Santos estaria embriagado e querendo arrumar confusão. A equipe tentou controlar a situação e continuou o trabalho na casa e o homem estaria ameaçando e empurrando os clientes.

Fonte: G1