Vítima de tortura e assassinato, Gabriel Paschoal Rossi fazia parte de um esquema de estelionato integrado por Bruna Nathalia de Paiva, apontada como autora do plano e amiga do médico

Uma reviravolta preencheu parte das lacunas que cercam a morte do médico Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, em Mato Grosso do Sul. Nesta terça-feira, a Polícia Civil divulgou que a vítima fazia parte de um esquema de estelionato do qual a suspeita de ser a mandante do assassinato, Bruna Nathalia de Paiva, faria parte. 

As investigações apontaram que a mulher era amiga do profissional de saúde, e mantinha com ele uma relação que envolvia atividades financeiras ilícitas. Rossi teria sido morto após cobrar de Bruna o valor correspondente a uma das movimentações — em torno de R$ 500 mil.

Como a polícia chegou aos envolvidos na morte?

Com o início das investigações, comandadas pelo delegado Erasmo Cubas, agentes da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul intimaram pessoas próximas a Rossi a depor. Em meio à apuração dos fatos, descobriram, por um dos depoentes, que o médico tinha amizade com uma pessoa de Minas Gerais, identificada apenas como “Bruna”, e que o relacionamento envolvia dinheiro.

A princípio, segundo o delegado, todas as hipóteses — inclusive a de um crime com motivação “passional” — foram consideradas. Após terem acesso a informações de que o celular de Rossi teria estado em Minas Gerais no dia 30, quando ainda era considerado desaparecido, os investigadores começaram a trabalhar com a possibilidade de sequestro ou homicídio.

A relação do médico com o esquema de estelionato era mediada pela suspeita. Por meio de ações fraudulentas, ele recebia documentos, fazia saques e tinha retorno financeiro. O desentendimento com Bruna teria sido causado por uma das atividades, que gerou maior quantia de dinheiro. Bruna não aceitou pagar. Ao ser cobrada, a suspeita, então, decidiu planejar o assassinato e contratar três pessoas para executá-lo.

Segundo o delegado, Bruna, que morava em Minas Gerais, alugou duas estadias em Dourados, para onde foi acompanhada dos três comparsas na véspera do desaparecimento do médico. Os homens teriam recebido, cada um, cerca de R$ 50 mil para cometer o crime. Um dos locais, onde aconteceu o assassinato, foi alugado por 15 dias.

Outro, por apenas uma noite, entre os dias 26 e 27. As locações levaram os investigadores a acreditar que a ideia da suspeita era permanecer na cidade por apenas dois dias, para colocar o plano em prática, e deixar o corpo no local da morte por mais tempo, propositalmente, até ser encontrado.

A polícia também afirma que a suspeita não esteve no local do crime. Mandou, apenas, que os três homens fossem até a casa, onde Rossi foi torturado e abandonado, ainda vivo. Antes disso, inseriram um objeto pontiagudo em sua garganta. Um saco plástico — provavelmente utilizado na sessão de tortura — foi achado no local. Instrumentos de tortura comprados em Ponta Porã, município a 120 quilômetros de Dourados, também foram encontrados.

Exames necroscópicos concluíram que Rossi agonizou por pelo menos 48 horas antes de morrer, segundo a polícia. Os autores do crime teriam acreditado que ele já estava morto ao deixar o local onde o corpo foi encontrado.

Quem são os suspeitos pela morte de médico?

Além de Bruna, os outros três suspeitos de envolvimento na morte do médico foram identificados como Gustavo Kenedi Teixeira, Guilherme Augusto Santana e Keven Rangel Barbosa. Eles foram presos em Minas Gerais, nesta segunda-feira, e levados para Dourados, em Mato Grosso do Sul, onde o crime aconteceu. A ação que resultou na prisão dos suspeitos teve apoio operacional da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Civil de Minas Gerais.

Bruna Nathalia de Paiva, Gustavo Kenedi Teixeira, Guilherme Augusto Santana e Keven Rangel Barbosa foram presos em Minas Gerais — Foto: Reprodução

Uso do celular após o crime

Detalhes da investigação mostram que o celular de Rossi foi utilizado após o assassinato. Segundo os investigadores, uma das ordens de Bruna ao orientar os três comparsas na dinâmica do crime era que o celular do médico fosse levado até ela. Com o aparelho, ela teve acesso a todas as mensagens de Rossi, as leu e utilizou contextos das conversas para abordar amigos dele e pedir dinheiro.

Além disso, a mandante do crime também criou contas em nome do médico.

— A Bruna tem expertise na questão de golpes e estelionato, ela leu todas as conversas dele, era amiga pessoal dele e criou diversos contextos com amigos para pedir dinheiro. Ela conseguiu esvaziar a conta dele e pedir dinheiro — diz o delegado.

Qual foi a causa da morte do médico?

O corpo de Rossi foi encontrado na última quinta-feira, com pés e mãos amarrados. Ele foi dado como desaparecido em 26 de julho, quando deixou o plantão no Hospital da Cassems, na mesma cidade, a pouco mais de 230 quilômetros da capital do estado, Campo Grande. O médico também trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e no Hospital da Vida.

— A causa morte foi por asfixia, causada provavelmente por um estrangulamento da vítima, bem como a lesão na parte anterior do pescoço, sendo que de início não apresenta outras lesões pelo corpo — diz Erasmo Cubas.

Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, foi encontrado morto em casa de Dourados (MS) — Foto: Foto: Reprodução/Redes Sociais

Homenagens ao médico nas redes

Amigos do médico prestaram homenagens a ele nas redes sociais. Nesta sexta-feira, um amigo de Rossi fez publicações em que falava sobre o médico, que considerava como “grande amigo e companheiro”. Na postagem, ele afirma que “tentaram tirar tudo” de Rossi, e diz que “seu sorriso ficará para sempre”.

“Tentaram te tirar tudo, mas seu sorriso ficará para sempre em nossos corações. Grande amigo e companheiro. Não é um adeus, e sim um até logo! Em breve nos encontraremos novamente no céu!”, diz a publicação.

'Tentaram te tirar tudo, mas seu sorriso ficará para sempre', diz amigo de médico encontrado morto em MS — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), onde Rossi integrou a 20ª turma de medicina e se formou em março deste ano, colegas de graduação se reuniram, com banners e roupas pretas, para homenagear o médico. O funeral de Rossi aconteceu no fim de semana, em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu.

Colegas de graduação se reuniram, com banners e roupas pretas, para homenagear o médico Gabriel Paschoal Rossi — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Como estava a cena do crime onde corpo do médico foi encontrado?

Rossi tinha ferimentos na cabeça. Os agentes recolheram sacolas de plástico no local com vestígios de sangue. Também havia manchas de sangue nas paredes, no chão e outras muitas na cama. Os materiais recolhidos na cena do crime serão analisados para determinar a causa da morte e identificar possíveis suspeitos.

— A porta da casa estava encostada, já tinha um odor bem forte, o que levou a crer que havia alguém morto dentro dela. Entraram e encontraram ele lá, sem vida, com o corpo em estado putrefeito. A vítima estava deitada na cama, onde teria ocorrido o homicídio. Havia cordas que indicam, sim, que ele foi imobilizado, mas não sabemos se foi antes ou depois da morte — afirmou o delegado, ao GLOBO.


Fonte: O GLOBO