Na última quarta-feira, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, fez um périplo em Brasília pelos três principais órgãos envolvidos nas investigações sobre o 8 de janeiro: a CPMI dos atos golpistas, o Ministério da Justiça e a direção-geral da Polícia Federal.
Depois de cada visita, Múcio declarou que seu objetivo era obter a lista de nomes de militares investigados nos inquéritos da PF, em especial o que apura as visitas do hacker Walter Delgatti ao Ministério da Defesa.
Nos bastidores, porém, a maior preocupação de Múcio e do comandante do Exército, Tomás Paiva, é outra: evitar a convocação em série de generais envolvidos tanto nos atos golpistas como nas negociações com o hacker para ajudar a minar a credibilidade do sistema eletrônico de votação.
Na conversa reservada que tiveram com os membros da CPMI, o ministro e o general desenharam um cenário que também foi descrito à equipe da coluna por outros dois generais e um coronel da reserva.
De acordo com eles, os militares da ativa estão preocupados com os efeitos que a CPMI e as investigações da PF terão sobre a já manchada imagem do Exército. Há, na tropa, ainda bastante ligada ao bolsonarismo, muita indignação com o que dizem ser um esforço para desmoralizar as Forças Armadas.
O mesmo discurso foi repetido na direção da Polícia Federal. Por isso, embora tomando cuidado para não fazer parecer que estava tentando intervir ou forçar uma barra, Múcio deixou claro que, por ele e pelo comandante do Exército, o melhor mesmo era não convocar general algum para depor.
Tanto na CPMI como na PF, o que o ministro ouviu é que não havia intenção deliberada de constranger os militares, mas seria impossível não convocar alguns deles para depor e, no extremo, não indiciar. Na cúpula da CPI se considera que será difícil evitar a convocação de "umas 2 ou 3 figuras de alta patente".
“Toda vez que vem para a CPI alguém do Exército, seja do lado do Bolsonaro, ou do lado do governo, é um rebuliço lá dentro. E é uma comunidade muito unida com aquela vida de caserna. Quando vem alguém depor, eles falam ‘Ah, é porque estão querendo desmoralizar o Exército’”, disse à equipe da coluna um integrante da comissão.
No topo das prioridades da CPI, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, o ex-chefe do Comando Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes e os ex-ministros de Bolsonaro Walter Braga Netto e Augusto Heleno.
Na PF, essa lista ainda ganha o acréscimo do general Mauro Lourena Cid, pai do ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, investigados no inquérito que apura a venda nos Estados Unidos de joias sauditas recebidas como presentes de Estado. O presidente da CPI, Arthur Maia (União-BA), já declarou que o caso das joias não é o foco das apurações, mas na PF o constrangimento será inevitável.
Embora esse tipo de negociação nem sempre ocorra diante dos holofotes, até mesmo a publicidade dada às visitas de Múcio visava mandar um sinal para a tropa de que o comando está preocupado e atuando para defender a imagem do Exército.
O clima tenso tem exigido do general Tomás um trabalho interno e externo de articulação com oficiais da ativa e da reserva para tentar evitar qualquer tentativa de insubordinação. Internamente, ele tem viajado para visitar tropas pelo Brasil e pedido aos seus comandantes que façam o mesmo.
Na semana passada, ele emitiu uma "ordem de serviço", como se chamam os textos com diretrizes sobre o trabalho do Exército, em que declarava como prioridades "intensificar as ações que contribuam para a proteção e o fortalecimento da imagem e da reputação do Exército", "buscar a ampliação de recursos orçamentários" e reforçar a assistência social do Exército.
Preocupado também com o mau humor na reserva, ainda mais impregnada pelo bolsonarismo do que a ativa, Tomás Paiva tem mantido contato frequente com alguns generais que atuaram no governo passado e que ele considera "formadores de opinião".
Nessas conversas, faz relatos sobre sua ação institucional e dá informações sobre o que tem feito nos bastidores – como, por exemplo, o apoio moral ao general Mauro Lourena Cid, que ele sempre ressalta que é parte da família militar, independentemente das irregularidades que tenha cometido.
Tudo para tentar diminuir o incômodo generalizado com o desgaste da prisão do tenente-coronel Mauro Cid e da implicação de seu pai, o general Mauro Lourena Cid, no caso das joias.
Especialmente na reserva, as críticas têm ocorrido longe da exposição das redes sociais. Em grupos privados, segundo estes relatos, muitos têm se queixado sobre o desgaste da imagem da Força e à falta de cuidado da chamada “família militar”, em especial no caso de Mauro Cid.
Segundo fontes ouvidas pela equipe da coluna, alguns generais da reserva têm sinalizado essa insatisfação deixando de comparecer a solenidades oficiais nos últimos meses, como a celebração do Dia do Exército, em abril, apesar de convidados. Um potencial termômetro será a comemoração do Dia do Soldado, nesta sexta-feira, em Brasília.
Nos perfis oficiais do Exército e de alguns comandos regionais, como o do Sudeste, publicações referentes à data comemorativa receberam uma enxurrada de críticas da militância bolsonarista. A maioria das mensagens acusa as Forças Armadas de “trair” golpistas presos pelos ataques do 8 de janeiro e tacha militares da ativa como “melancias” - gíria militar referente a oficiais que se dizem conservadores, mas na verdade são esquerdistas ou comunistas.
Fonte: O GLOBO
Nos bastidores, porém, a maior preocupação de Múcio e do comandante do Exército, Tomás Paiva, é outra: evitar a convocação em série de generais envolvidos tanto nos atos golpistas como nas negociações com o hacker para ajudar a minar a credibilidade do sistema eletrônico de votação.
Na conversa reservada que tiveram com os membros da CPMI, o ministro e o general desenharam um cenário que também foi descrito à equipe da coluna por outros dois generais e um coronel da reserva.
De acordo com eles, os militares da ativa estão preocupados com os efeitos que a CPMI e as investigações da PF terão sobre a já manchada imagem do Exército. Há, na tropa, ainda bastante ligada ao bolsonarismo, muita indignação com o que dizem ser um esforço para desmoralizar as Forças Armadas.
O mesmo discurso foi repetido na direção da Polícia Federal. Por isso, embora tomando cuidado para não fazer parecer que estava tentando intervir ou forçar uma barra, Múcio deixou claro que, por ele e pelo comandante do Exército, o melhor mesmo era não convocar general algum para depor.
Tanto na CPMI como na PF, o que o ministro ouviu é que não havia intenção deliberada de constranger os militares, mas seria impossível não convocar alguns deles para depor e, no extremo, não indiciar. Na cúpula da CPI se considera que será difícil evitar a convocação de "umas 2 ou 3 figuras de alta patente".
“Toda vez que vem para a CPI alguém do Exército, seja do lado do Bolsonaro, ou do lado do governo, é um rebuliço lá dentro. E é uma comunidade muito unida com aquela vida de caserna. Quando vem alguém depor, eles falam ‘Ah, é porque estão querendo desmoralizar o Exército’”, disse à equipe da coluna um integrante da comissão.
No topo das prioridades da CPI, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, o ex-chefe do Comando Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes e os ex-ministros de Bolsonaro Walter Braga Netto e Augusto Heleno.
Na PF, essa lista ainda ganha o acréscimo do general Mauro Lourena Cid, pai do ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, investigados no inquérito que apura a venda nos Estados Unidos de joias sauditas recebidas como presentes de Estado. O presidente da CPI, Arthur Maia (União-BA), já declarou que o caso das joias não é o foco das apurações, mas na PF o constrangimento será inevitável.
Embora esse tipo de negociação nem sempre ocorra diante dos holofotes, até mesmo a publicidade dada às visitas de Múcio visava mandar um sinal para a tropa de que o comando está preocupado e atuando para defender a imagem do Exército.
O clima tenso tem exigido do general Tomás um trabalho interno e externo de articulação com oficiais da ativa e da reserva para tentar evitar qualquer tentativa de insubordinação. Internamente, ele tem viajado para visitar tropas pelo Brasil e pedido aos seus comandantes que façam o mesmo.
Na semana passada, ele emitiu uma "ordem de serviço", como se chamam os textos com diretrizes sobre o trabalho do Exército, em que declarava como prioridades "intensificar as ações que contribuam para a proteção e o fortalecimento da imagem e da reputação do Exército", "buscar a ampliação de recursos orçamentários" e reforçar a assistência social do Exército.
Preocupado também com o mau humor na reserva, ainda mais impregnada pelo bolsonarismo do que a ativa, Tomás Paiva tem mantido contato frequente com alguns generais que atuaram no governo passado e que ele considera "formadores de opinião".
Nessas conversas, faz relatos sobre sua ação institucional e dá informações sobre o que tem feito nos bastidores – como, por exemplo, o apoio moral ao general Mauro Lourena Cid, que ele sempre ressalta que é parte da família militar, independentemente das irregularidades que tenha cometido.
Tudo para tentar diminuir o incômodo generalizado com o desgaste da prisão do tenente-coronel Mauro Cid e da implicação de seu pai, o general Mauro Lourena Cid, no caso das joias.
Especialmente na reserva, as críticas têm ocorrido longe da exposição das redes sociais. Em grupos privados, segundo estes relatos, muitos têm se queixado sobre o desgaste da imagem da Força e à falta de cuidado da chamada “família militar”, em especial no caso de Mauro Cid.
Segundo fontes ouvidas pela equipe da coluna, alguns generais da reserva têm sinalizado essa insatisfação deixando de comparecer a solenidades oficiais nos últimos meses, como a celebração do Dia do Exército, em abril, apesar de convidados. Um potencial termômetro será a comemoração do Dia do Soldado, nesta sexta-feira, em Brasília.
Nos perfis oficiais do Exército e de alguns comandos regionais, como o do Sudeste, publicações referentes à data comemorativa receberam uma enxurrada de críticas da militância bolsonarista. A maioria das mensagens acusa as Forças Armadas de “trair” golpistas presos pelos ataques do 8 de janeiro e tacha militares da ativa como “melancias” - gíria militar referente a oficiais que se dizem conservadores, mas na verdade são esquerdistas ou comunistas.
Fonte: O GLOBO
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