Desempenho de ‘zebras’ e queda de favoritas apontam evolução do futebol praticado pelas mulheres ao redor do mundo

A partir de amanhã, às 5h, quatro seleções se enfrentam nas semifinais da Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, com uma boa dose de surpresa em relação às expectativas para o torneio. Se não é possível apontar favoritismos nos duelos entre Espanha e Suécia, e Austrália e Inglaterra,e já há uma certeza: uma das quatro equipes irá sagrar-se campeã mundial pela primeira vez.

— Nós tivemos muitos resultados inesperados nessa Copa. O nível do futebol cresceu muito, na parte física, defensiva, tática, e isso é bem animador. Você tem que jogar no mais alto nível para conseguir avançar — analisou a treinadora Sarina Wiegman, da Inglaterra, após a vitória sobre a Colômbia, uma das surpresas da competição.

Na primeira edição com 32 seleções — um aumento de oito em relação aos Mundiais anteriores —, os números da fase de grupos indicam a evolução do futebol de mulheres ao redor do mundo. As expectativas de grandes goleadas e disparidade técnica e física não se confirmaram. Os números apontam uma diminuição da quantidade de gols marcados, o que revela também o aprimoramento dos sistemas defensivos.

Em 2019, os 36 jogos terminaram com a rede balançando em média 2,94 vezes por partida, contra 2,63 da edição atual, o que representa uma diminuição de 10,6%. Na França, os EUA golearam a Tailândia por sonoros 13 a 0. Esta Copa também teve um placar elástico, mas reduzido: 7 a 0 da Holanda sobre Vietnã, que disputou sua primeira Copa.

Veja números da Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia — Foto: Editoria de Arte

As estreantes em Mundiais ainda demonstraram grande capacidade física e organizacional na derrota de 3 a 0 para os EUA, em jogo que já demonstrava os sinais de que as americanas já não eram mais as mesmas das últimas edições.

Se o gol é a atração máxima do futebol, uma partida encerrada em 0 a 0 aponta, ao menos, um claro sinal de equilíbrio. Nesta Copa, foram dez empates sem gols na fase de grupos, contra apenas três do Mundial de quatro anos atrás. A organização tática também revela um maior investimento na defesa: em média, as seleções conseguiram criar blocos mais compactos atrás, o que dificultou a infiltração das adversárias.

Goleiras em alta

O dado também referenda uma Copa do Mundo já marcada pelas grandes atuações das goleiras. Neste quesito, a sueca Musovic, a nigeriana Nnadozie e a jamaicana Spencer se destacaram — a Jamaica conseguiu uma história classificação às oitavas de final, e deixou a Copa tendo sofrido apenas um gol, segurando o 0 a 0 contra as favoritas França e Brasil.

Na França, 23 dos 36 jogos da fase de grupos terminaram com goleiras que não foram vazadas, e o número subiu para 36 de 48 nesta edição, o que representa 75% do total. O melhor desempenho passa pelo melhor posicionamento das arqueiras, bem como pelo modo de impedir os gols. O número de defesas feitas através de socos na bola aumentou, o que revela também uma tendência a afastar o perigo ao invés de tentar segurar, o que em edições passadas de Copa do Mundo, terminava com falhas e gols.

Em franca evolução, o futebol de mulheres demonstrou que nas grandes competições, o favoritismo não entra em campo, e a primeira fase viu três das seleções que ocupam o top-10 do ranking da Fifa deixarem a competição: Alemanha, Brasil e Canadá. Na rodada seguinte, os Estados Unidos foram despachados pela Suécia, que também deixou para trás o Japão. A defesa sueca resistiu às ofensivas das adversárias, com a goleira Musovic fechando o gol. Ela realizou 15 defesas difíceis nos último s dois jogos.

Às 5h de amanhã, em Auckland, elas enfrentam a Espanha, que, em apenas sua terceira participação no Mundial, chegaram na semifinal pela primeira vez. Na outra chave, a Austrália conta com o fator casa para seguir avançando, depois de classificação eletrizante na 20ª cobrança de pênaltis, deixando a França para trás. Já Inglaterra, que tem como melhor participação o bronze de 2015, conta com a liderança de Wiegman, que busca sua segunda final consecutiva. Em 2019, ela levou à Holanda ao vice-campeonato. O confronto acontece na quarta-feira, às 7h, em Sydney.


Fonte: O GLOBO