Estratégia é de alto risco por tentar introduzir em pouco tempo e por decreto uma prática que não faz parte de nossa cultura escolar
Em menos de dez dias, o governo de São Paulo anunciou duas decisões polêmicas na rede estadual. A primeira foi abrir mão de recursos do Programa Nacional do Livro Didático e passar a usar apenas livros didáticos digitais.
A segunda, publicada em portaria de 28 de julho, é a determinação para que diretores observem professores em sala de aula e produzam relatórios bimestrais, a serem enviados para a Diretoria de Ensino. Ambas foram reveladas na semana passada pelo jornal Folha de S. Paulo, em reportagens de Laura Matos e Isabela Palhares.
A escolha por utilizar apenas livros didáticos digitais já foi bastante criticada por especialistas, entre outros pontos, pela forma abrupta como o processo foi anunciado e considerando evidências que apontam para a cautela (o que não significa proibição) no uso de tecnologias no ensino.
A escolha por utilizar apenas livros didáticos digitais já foi bastante criticada por especialistas, entre outros pontos, pela forma abrupta como o processo foi anunciado e considerando evidências que apontam para a cautela (o que não significa proibição) no uso de tecnologias no ensino.
No caso da observação em sala de aula, até há embasamento para a ideia de induzir gestores a acompanharem com maior proximidade o trabalho dos docentes, visando apoiar seu desenvolvimento profissional. A preocupação, aqui também, é como isso será feito.
Para aprofundar o debate, vale a pena revisitar um estudo de Jason Grissom (Vanderbilt University), Susanna Loeb (Stanford) e Benjamin Master (Stanford), publicado em 2013 na revista científica Educational Researcher. Por três anos, cerca de 100 diretores em Miami foram acompanhados de perto. Um dos aspectos avaliados foi justamente a observação de professores em sala de aula. Para a surpresa dos autores do estudo, esta ação apareceu negativamente associada ao desempenho dos alunos.
Para melhor entender as razões, os pesquisadores fizeram mais entrevistas em profundidade com diretores e professores, e perceberam que havia um subgrupo de escolas que destoava positivamente da média geral negativa. A diferença nesses casos era que a observação de sala de aula fazia parte de um conjunto mais amplo de estratégias de apoio ao desenvolvimento profissional, e assim eram entendidas pelos professores.
Voltando ao caso de São Paulo, a portaria do governo até cita objetivos nobres como “integrar a escola por meio da articulação da liderança do diretor” ou “aprimorar as práticas de sala de aula”. Mesmo se assim for, trata-se de uma estratégia de alto risco por tentar introduzir em pouco tempo e por decreto uma prática que não faz parte de nossa cultura escolar.
Em sistemas educacionais de alto desempenho e que já fazem uso dessa prática, além de estar associada ao desenvolvimento profissional, há formação específica para os diretores com esse objetivo, entrando até mesmo em detalhes sobre como fornecer um bom feedback, por exemplo.
Para aprofundar o debate, vale a pena revisitar um estudo de Jason Grissom (Vanderbilt University), Susanna Loeb (Stanford) e Benjamin Master (Stanford), publicado em 2013 na revista científica Educational Researcher. Por três anos, cerca de 100 diretores em Miami foram acompanhados de perto. Um dos aspectos avaliados foi justamente a observação de professores em sala de aula. Para a surpresa dos autores do estudo, esta ação apareceu negativamente associada ao desempenho dos alunos.
Para melhor entender as razões, os pesquisadores fizeram mais entrevistas em profundidade com diretores e professores, e perceberam que havia um subgrupo de escolas que destoava positivamente da média geral negativa. A diferença nesses casos era que a observação de sala de aula fazia parte de um conjunto mais amplo de estratégias de apoio ao desenvolvimento profissional, e assim eram entendidas pelos professores.
Voltando ao caso de São Paulo, a portaria do governo até cita objetivos nobres como “integrar a escola por meio da articulação da liderança do diretor” ou “aprimorar as práticas de sala de aula”. Mesmo se assim for, trata-se de uma estratégia de alto risco por tentar introduzir em pouco tempo e por decreto uma prática que não faz parte de nossa cultura escolar.
Em sistemas educacionais de alto desempenho e que já fazem uso dessa prática, além de estar associada ao desenvolvimento profissional, há formação específica para os diretores com esse objetivo, entrando até mesmo em detalhes sobre como fornecer um bom feedback, por exemplo.
Além disso, não raro, a liderança nesse tipo de ação é distribuída dentro da escola com outros profissionais da gestão (lembrando que a figura do coordenador pedagógico não existe em muitos países) ou mesmo com professores que assumem funções como a de mentores, evitando que todo o trabalho fique sobrecarregado no diretor.
Outras pesquisas na área destacam também um elemento chave para esse tipo de ação ser efetiva: confiança. Se a observação de sala de aula pelo diretor for entendida como oportunidade de apoio e desenvolvimento profissional, o caminho, mesmo não sendo fácil, pode ser promissor. Mas, se for vista como um ato burocrático e imposto de vigilância, tem tudo para dar errado.
Fonte: O GLOBO
Outras pesquisas na área destacam também um elemento chave para esse tipo de ação ser efetiva: confiança. Se a observação de sala de aula pelo diretor for entendida como oportunidade de apoio e desenvolvimento profissional, o caminho, mesmo não sendo fácil, pode ser promissor. Mas, se for vista como um ato burocrático e imposto de vigilância, tem tudo para dar errado.
Fonte: O GLOBO
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