Aniversariante do dia, ele se destaca na mesma classe que foi de Daniel Dias; acidente com pipa lhe triou os dois braços
O menino nem sabia nadar quando precisou da piscina para reabilitação. É que em 2015, ele, com 9 anos, e o primo Tiago Oliveira, que tinha 15 e hoje também é nadador, tiveram contato com fios de alta tensão quando tentavam tirar uma pipa da árvore, usando um trilho de cortina. Receberam descarga elétrica de 13 mil volts que necrosou os dois braços de ambos.
O acidente aconteceu em Campinas, cidade onde o pai dele, Sinésio, 42 anos, mora. Ambos precisaram amputar os dois braços na altura dos ombros. Samuel diz que não lembra de nada, desmaiou na hora.
— No hospital, a única pergunta que ele me fez foi se ia ficar assim para sempre. Disse que sim e que existiam outras pessoas com as mesmas condições e que ele ia fazer e acontecer — lembra a mãe Michele, 40 anos, que na ocasião viajava do Sergipe a São Paulo de carro.
— Faltavam mais de 14 horas e só queria estar com ele. Tive a sensação que ia infartar. Só passou quando o vi. Ele não estava legal mas me acalmei. Minha conversa foi com Deus, soube que ele sobreviveria e teria futuro brilhante.
Michele admite que teve dúvidas de como seria dali para frente. Mas não pestanejou. E que o filho entendeu que havia ganho uma nova oportunidade “porque poderia nem estar vivo” e que seguiu, “foi para cima”.
Samuel Oliveira: atleta de 18 anos é o atual bicampeão mundial nos 50m borboleta em sua classe S5 (limitação físico-motora) — Foto: Divulgação CPB
— Nunca reclamou, retrocedeu nem desistiu. Parte da minha força vem da vontade dele — diz ela. — Pensei que não podia ficar parada. Abri mão de tudo, até um pouco dos filhos mais velhos, para me dedicar ao Samuel. E não paramos, não teve tempo para pensamentos ruins.
Após um ano de reabilitação na piscina, ele começou a nadar na AACD, referência na área. Ele e o primo não moram na mesma cidade mas mantinham contato. Vídeos das conquistas do dia a dia eram compartilhados entre eles. Um ajudou o outro a achar novo lugar no mundo.
— Uma das coisas que me ajudou também foi o fato de que eu era criança. Na minha reabilitação, brincava muito com os pés e daquelas brincadeiras adquiri habilidade para tudo. Hoje escovo os dentes com os pés, por exemplo.
Top 10
Samuel deve se garantir em Paris em seletiva no ano que vem. O Brasil conquistou vagas via Mundial de Manchester, quando ele teve desempenho destacado: foi ouro nos 50m borboleta (recorde da competição e das Américas, 31s21), bronze nos 50m livre e quarto lugar no 50m costas, 200m medley e no revezamento misto 4x50m medley na categoria S5 (limitação físico-motora) — com 16 anos, ganhou três ouros e duas de pratas no Mundial, em Portugal.
Mas o Comitê Paralímpico Internacional só confirmará a quantidade de vagas para o país em setembro. As vagas não são nominais e o Comitê Paralímpico Brasileiro fará seletiva para a natação.
Samuel disputa a mesma classe de Daniel Dias, dono de 27 medalhas paralímpicas e que se aposentou pós-Tóquio-2020. Mesmo com índice para os 50m borboleta, Samuel não foi ao Japão pois à época não cumpria critério de elegibilidade.
— Ele me disse apenas para eu não parar e que vai me ver na Paralimpíada — conta Samuel, que percebeu que a natação era coisa séria em 2018, quando ganhou todas as cinco provas das Paralimpíadas Escolares. — A natação é a minha vida e a Paralimpíada, um sonho. Não penso em ir apenas para Paris. Quero disputar várias outras.
O Brasil, Top 10 na Paralimpíada desde a edição de Pequim-2008, tem vagas garantidas em outras sete modalidades além da natação: vôlei sentado (feminino e masculino), goalball (masculino), ciclismo (uma vaga masculina e outra feminina), tiro com arco (duas vagas time misto), atletismo (25 vagas masculinas e 12 femininas), canoagem (duas vagas masculinas e duas femininas) e futebol de cegos.
Em Tóquio, com 260 atletas, o Brasil terminou na sétima posição, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes (72 medalhas). Em Paris serão 22 modalidades para cerca de 4.400 atletas de 184 países. A Cerimônia de Abertura será ao ar livre, com desfile dos atletas desde a parte inferior da Champs-Elysées à Place de la Concorde.
Hoje, aos 18 anos, Samuel iniciará nova etapa da vida. Michele voltará a morar com o marido, Eduardo, 49 anos, policial civil, em São Paulo. O irmão mais velho Rafael, 22 anos, ficará com ele em Uberlândia.
— Somos uma dupla e eu não conseguia tocar nesse assunto. Só chorava. Até que Samuel me pegou chorando no chuveiro. Dei-lhe um abraço muito forte e entendemos que este é o seu momento — diz a mãe, emocionada, mas segura: — Vou a Paris com boné e camiseta personalizados como sempre fiz. Vou vibrar muito e ele vai passar vergonha como sempre foi (risos).
Fonte: O GLOBO
Michele admite que teve dúvidas de como seria dali para frente. Mas não pestanejou. E que o filho entendeu que havia ganho uma nova oportunidade “porque poderia nem estar vivo” e que seguiu, “foi para cima”.
Samuel Oliveira: atleta de 18 anos é o atual bicampeão mundial nos 50m borboleta em sua classe S5 (limitação físico-motora) — Foto: Divulgação CPB
— Nunca reclamou, retrocedeu nem desistiu. Parte da minha força vem da vontade dele — diz ela. — Pensei que não podia ficar parada. Abri mão de tudo, até um pouco dos filhos mais velhos, para me dedicar ao Samuel. E não paramos, não teve tempo para pensamentos ruins.
Após um ano de reabilitação na piscina, ele começou a nadar na AACD, referência na área. Ele e o primo não moram na mesma cidade mas mantinham contato. Vídeos das conquistas do dia a dia eram compartilhados entre eles. Um ajudou o outro a achar novo lugar no mundo.
— Uma das coisas que me ajudou também foi o fato de que eu era criança. Na minha reabilitação, brincava muito com os pés e daquelas brincadeiras adquiri habilidade para tudo. Hoje escovo os dentes com os pés, por exemplo.
Top 10
Samuel deve se garantir em Paris em seletiva no ano que vem. O Brasil conquistou vagas via Mundial de Manchester, quando ele teve desempenho destacado: foi ouro nos 50m borboleta (recorde da competição e das Américas, 31s21), bronze nos 50m livre e quarto lugar no 50m costas, 200m medley e no revezamento misto 4x50m medley na categoria S5 (limitação físico-motora) — com 16 anos, ganhou três ouros e duas de pratas no Mundial, em Portugal.
Mas o Comitê Paralímpico Internacional só confirmará a quantidade de vagas para o país em setembro. As vagas não são nominais e o Comitê Paralímpico Brasileiro fará seletiva para a natação.
Samuel disputa a mesma classe de Daniel Dias, dono de 27 medalhas paralímpicas e que se aposentou pós-Tóquio-2020. Mesmo com índice para os 50m borboleta, Samuel não foi ao Japão pois à época não cumpria critério de elegibilidade.
— Ele me disse apenas para eu não parar e que vai me ver na Paralimpíada — conta Samuel, que percebeu que a natação era coisa séria em 2018, quando ganhou todas as cinco provas das Paralimpíadas Escolares. — A natação é a minha vida e a Paralimpíada, um sonho. Não penso em ir apenas para Paris. Quero disputar várias outras.
O Brasil, Top 10 na Paralimpíada desde a edição de Pequim-2008, tem vagas garantidas em outras sete modalidades além da natação: vôlei sentado (feminino e masculino), goalball (masculino), ciclismo (uma vaga masculina e outra feminina), tiro com arco (duas vagas time misto), atletismo (25 vagas masculinas e 12 femininas), canoagem (duas vagas masculinas e duas femininas) e futebol de cegos.
Em Tóquio, com 260 atletas, o Brasil terminou na sétima posição, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes (72 medalhas). Em Paris serão 22 modalidades para cerca de 4.400 atletas de 184 países. A Cerimônia de Abertura será ao ar livre, com desfile dos atletas desde a parte inferior da Champs-Elysées à Place de la Concorde.
Hoje, aos 18 anos, Samuel iniciará nova etapa da vida. Michele voltará a morar com o marido, Eduardo, 49 anos, policial civil, em São Paulo. O irmão mais velho Rafael, 22 anos, ficará com ele em Uberlândia.
— Somos uma dupla e eu não conseguia tocar nesse assunto. Só chorava. Até que Samuel me pegou chorando no chuveiro. Dei-lhe um abraço muito forte e entendemos que este é o seu momento — diz a mãe, emocionada, mas segura: — Vou a Paris com boné e camiseta personalizados como sempre fiz. Vou vibrar muito e ele vai passar vergonha como sempre foi (risos).
Fonte: O GLOBO
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