Encontro foi proposto pelo presidente da Aleac, deputado Luiz Gonzaga, e contou a presença do secretário de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (Seasdh), Alexandre de Carvalho, e do secretário-adjunto da Sejusp, coronel Evandro Bezerra. Famílias estão acampadas na Aleac desde 28 de agosto.

Deputados e representantes do governo se reuniram nesta quarta-feira (20) na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), em Rio Branco, para discutirem a situação das famílias acampadas em frente à assembleia desde 28 de agosto. A reunião foi convocada pelo presidente da Aleac, Luiz Gongaza.

Estiveram no encontro o secretário de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Alexandre de Carvalho, e o secretário-adjunto de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp), coronel Evandro Bezerra.

"Foi uma chance de ouvir a equipe do governo enquanto trabalhamos para encontrar soluções que permitam atender nossa população da melhor maneira possível", afirmou o presidente da Aleac.

Instaladas no hall de entrada da Aleac desde 28 de agosto, cerca de 50 famílias que foram obrigadas a sair da área de invasão do bairro Irineu Serra, conhecida como Terra Prometida, cobram moradias do governo. A área foi desapropriada no dia 15 de agosto, e mais de 100 casas foram demolidas no local.

"A reunião foi bem proveitosa, a mesa diretora e dos deputados queriam saber quais encaminhamentos que estavam sendo dados, tanto pela parte da assistência social e da segurança pública. Como segurança pública, explicamos que cumprimos com a ordem judicial, ou seja, houve a reintegração de posse e eles acamparem em frente à assembleia foi outra medida que tomaram, mas que o governo tem feito tratativas para acolher e dar um destino adequado", destacou o secretário-adjunto da Sejusp, coronel Evandro Mesquita.

O coronel destacou ainda que a Polícia Militar faz patrulhamento na região e há a permanência de policiais para evitar problemas com os desabrigados. Pela parte da Polícia Civil, existe uma investigação que apura denúncias sobre o envolvimento de criminosos com o acampamento.

"Existe um inquérito para apurar essa situação. Sugiram algumas informações de que, supostamente, a manifestação teria algum outro viéis, poderia ter algum criminoso amendrotando essas pessoas", concluiu.

Recadastramento

Após a reunião com os deputados, o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, Alexandre de Carvalho, se reuniu com as famílias e propôs um recadastramento para o Aluguel Social, contudo, os moradores se recusaram a participar do recadastramento.

O secretário disse que a reunião é importante e todos os envolvidos têm a intenção de resolver a situação dos moradores da melhor forma possível.

"Estamos nos colocando à disposição, temos lutado todos os dias pra resolver da melhor forma, colocando a disposição o Auxílio Moradia e toda assistência social para ver, inclusive os problemas pessoas, enfermidade, a questão das crianças que estão aqui. Todo governo está à disposição para resolver da melhor forma", afirmou.

'Queremos moradia'

Laiana Vasques, que era moradora da Terra Prometida, relata que o acampamento é desconfortável, mas que as famílias têm sobrevivido. Foi montada uma cozinha e um banheiro improvisado, e a Aleac também permitiu que eles utilizassem os banheiros da casa até às 22h.

“Não é fácil, mas é questão de necessidade. Não temos para onde ir, não dormimos bem, passamos a noite, pois na madrugada muitos usuários de drogas e moradores de rua ficam cercando. Adaptar seria muito, mas estamos sobrevivendo. Montamos uma cozinha onde fazemos nossa alimentação, a própria comunidade que está nos ajudando. Usamos o banheiro da Assembleia até as 22h, que nos foi cedido, e improvisamos um banheiro lá no pátio para o banho”, relata.


Famílias estavam acampadas em quadra esportiva e se instalaram em frente à Aleac após a chuva que atingiu a capital acreana — Foto: Murilo Lima/Arquivo/Rede Amazônica Acre

Ainda segundo a moradora, eles ainda não receberam uma proposta satisfatória das autoridades que os procuraram. O governo oferece o cadastro no aluguel social, ou a concessão de 25 terrenos para parte das famílias, porém, o grupo acredita que o aluguel social não é uma solução definitiva, e a quantidade de terrenos é insuficiente, pois querem que todos sejam contemplados.

“Tudo que o governo tem para nós, é aluguel social ou 25 terrenos em uma área no Defesa Civil. Somos mais que 25 famílias, tivemos nossas casas derrubadas, perdemos tudo. Queremos moradia, e não três meses de aluguel social, que sabemos como funciona”, afirma.

Por meio de nota, o governo informou que o pagamento do primeiro lote do aluguel social das famílias cadastradas nas terras públicas do Irineu Serra já foi solicitado no último dia 6 e aguardava somente os trâmites legais para a liberação. Em relação às famílias que estão acampadas, o governo informou que não existe nenhum tipo de negociação para que deixem o local.

Segundo Laiana, algumas pessoas acham que o número de famílias acampadas diminuiu, mas explica que isso acontece porque muitas trabalham e as crianças estudam durante o dia. “Alguns jornalistas falam em 30 pessoas, mas é porque vêm aqui, e fica pouca gente, pelo fato de que muitos trabalham, e as crianças vão para a escola. Mas de noite estão todos aqui de volta”, relata.

Reivindicação e plano do governo

Conforme o governo, a área reintegrada deve ser usada, futuramente, para construção de casas populares com recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida. A obra será executada pela Secretaria de Estado de Habitação e Urbanismo (Sehurb), segundo o site oficial do governo.

A primeira etapa, prevista para começar no final do ano, é planejada para construção de 234 apartamentos de 40 metros quadrados. No total, o governo diz que vai construir 1,2 mil apartamentos na localidade.


Moradores acompanham sessões da Aleac diariamente para serem lembrados pelos parlamentares — Foto: Arquivo pessoal

Ariadne Lemos, diretora Operacional da Sehurb, conta: “Na primeira etapa será realizada a construção de 234 apartamentos de 40 metros quadrados. Porém, no momento, estamos voltados para a fase de demolição e limpeza da área, seguida de um cercamento imediato”, consta no site oficial do governo.

Os moradores que ocupavam a Terra Prometida protestaram durante o desfile cívico-militar de 7 de Setembro. Com cartazes e apitos, eles reivindicavam moradia após uma ação de reintegração de posse, em agosto deste ano. Os manifestantes se dirigiram ao governador Gladson Cameli, que chegou a tentar conversar com o grupo, mas mudou de ideia.

Enquanto uma solução satisfatória não é apresentada, Laiana diz que o grupo acompanha as sessões na Aleac todos os dias para que os parlamentares lembrem deles e de suas necessidades.

“O governador tem muitas terras. Ele deveria nos dar uma para podermos construir nossas casas novamente e vivermos nossas vidas. A gente só pede uma terra, só isso. Aqui [no acampamento] está muito difícil para nós. Mas não temos para onde ir. Ontem uma mulher passou mal aqui foi levada de ambulância para o pronto-socorro e tudo. Nós oramos todo dia para Deus amolecer o coração do governador e nos dar uma solução”, finaliza.

Fonte: G1