O debate sobre racismo e clima começa a tomar fôlego no Brasil, como uma chave de análise sobre impactos da crise climática
Grupos vulneráveis são afetados, ampliando cada vez mais desigualdades raciais, violação dos direitos e violências nos territórios, sem permitir a defesa do grupo excluídos – especialmente devido às mudanças dos sistemas produtivos que buscam maior acumulação de riquezas às custas do esgotamento do ambiente.
Apesar dos muitos debates sobre crise climática, seus impactos e soluções, os problemas ainda não estão suficientemente difundidos para o engajamento da sociedade. A cultura de fontes inesgotáveis da natureza, a total falta de responsabilidade com o uso e preservação, encobrem as reais questões.
Diante de eventos cada vez mais catastróficos, a voz de meninas e mulheres negras, o grupo mais afetado pelos problemas gerados pela crise climática, insiste em ecoar e reivindicar o protagonismo devido. E, enquanto a quantidade de eventos e atividades sobre o tema aumenta, enfrentando a resistência para entrar em conversas que seguem em tom teórico e elitista, despreocupadas com a inclusão das maiores interessadas no assunto.
O debate sobre racismo e clima começa a tomar fôlego no Brasil, como uma chave de análise sobre impactos da crise climática, bem como das injustiças geradas para a população negra, indígena e de comunidades tradicionais. Ainda assim, muitos dos espaços para tomada de decisão seguem excluindo esses grupos nos processos de proposição de soluções.
Ignoram que nenhum resultado relevante poderá acontecer se uma perspectiva que considere raça, gênero e classe não for adotada. Essa exclusão ocorre não só por causa das profundas desigualdades raciais já estabelecidas, mas, por força dos processos de hierarquização que incidem nesses sujeitos ampliando as relações de subordinação entre grupos raciais, entre gênero e identidade de gênero, territórios, entre outras dimensões da vida que se tornam eixos de subordinação.
Em que pese o papel preponderante das mulheres na defesa das comunidades, na busca de soluções para o enfrentamento das vulnerabilidades, as mulheres negras cis e trans, em última instância, são as mais impactadas por essas crises, a exemplo do que já vem acontecendo na prática com os desastres climáticos e ambientais. Se, por um lado, somos as principais atingidas, por outro temos trabalhado firmemente para uma relação de respeito e preservação do meio ambiente.
Urge então a nossa participação no processo desde já, e a COP 28 – que terá entre os tópicos prioritários a continuação de discussões sobre a constituição do fundo de compensação a perdas e danos decorrentes das mudanças climáticas aos países mais pobres e vulneráveis – é uma oportunidade.
Continuaremos afirmando que não haverá solução para as ameaças climáticas sem a participação da população negra, indígena e de comunidades tradicionais; a importância de reconhecer e acolher o conhecimento de religiões de matriz africana, quilombolas, comunidades tradicionais e de mulheres negras, como parte da estratégia de defesa do clima.
É imprescindível permitir que nossas demandas sejam apresentadas por nós mesmas, que soluções para as mudanças climáticas se levantem a partir do prisma da justiça climática e intersecções de raça e gênero. Do contrário, tragédias como a que acabamos de ver no estado do Rio Grande do Sul, continuarão soando como fatalidade – quando, na verdade, seriam evitadas se as experiências de mulheres negras, povos originários, ribeirinhos e quilombolas, que há anos têm atuado para a proteção de seus territórios, fossem ouvidas e suas deliberações incorporadas ao processo de solução da questão climática.
* Lúcia Xavier é coordenadora-geral da ONG Criola
Fonte: O GLOBO
É imprescindível permitir que nossas demandas sejam apresentadas por nós mesmas, que soluções para as mudanças climáticas se levantem a partir do prisma da justiça climática e intersecções de raça e gênero. Do contrário, tragédias como a que acabamos de ver no estado do Rio Grande do Sul, continuarão soando como fatalidade – quando, na verdade, seriam evitadas se as experiências de mulheres negras, povos originários, ribeirinhos e quilombolas, que há anos têm atuado para a proteção de seus territórios, fossem ouvidas e suas deliberações incorporadas ao processo de solução da questão climática.
* Lúcia Xavier é coordenadora-geral da ONG Criola
Fonte: O GLOBO
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