Sejusp diz que medida também é forma de evitar retaliações. Investigações continuam pela Polícia Civil.

Ao todo, 14 presos envolvidos na rebelião que ocorreu no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em julho deste ano, foram transferidos do Acre em uma operação das forças de segurança. Um avião da Polícia Federal chegou na capital acreana na terça-feira (26) para fazer o transporte dos detentos, que devem ser levados a Brasília, onde a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senapen) deve decidir para qual presídio federal devem ser levados.

Em seguida, familiares e advogados serão informados para onde cada um foi levado. A rebelião começou na manhã do dia 26 de julho quando presos renderam policiais penais e tiveram acesso às armas que foram usadas para tomar o pavilhão de isolamento da unidade. Um policial foi ferido com tiro no olho e conseguiu sair do local e outro foi mantido refém. A rebelião terminou por volta das 10h do dia 27 de julho. Cinco presos ligados a um grupo criminoso foram mortos, sendo três decapitados.

Em coletiva, a Secretaria de Segurança Púbica do Acre (Sejusp) informou que os presos transferidos estavam “potencialmente” envolvidos na rebelião, subtração de armas e execuções.

“A transferência foi de presos envolvidos diretamente no fato. Todas as informações são estudas para evitar que qualquer tipo de retaliação possa acontecer. Informes são informes, informação são informes trabalhados. Temos informes de grupos de desfazendo dentro do presídio e vamos trabalhando de forma intensa e intensificando esse monitoramento. O que não se pode fazer é desconsiderar qualquer tipo de informe”, diz o secretário de Justiça e Segurança Pública, José Américo Gaia.

O promotor de Justiça Bernardo Albano, que coordena o grupo de atuação especial no combate ao crime organizado, disse a decisão da transferência foi dada por um colegiado de juízes após a reunião de algumas provas obtidas na investigação.


Presos seguem para Brasília, onde Senapen decide para qual presídio devem ser enviados — Foto: Asscom/Iapen-AC

“A Segurança Pública se reuniu diversas vezes justamente visando a identificação dos responsáveis pela ação como medida de tomada decisória. Esse trabalho foi extremamente minucioso, no sentido de identificação dessas pessoas, por fontes de inteligência, oitiva de diversas pessoas, captura de áudio e vídeo, tanto da área interna como também nas imagens feitas pelos meios aéreos, drones, então essa ação que foi executada hoje e culminou na transferência de 14 pessoas, só foi possível a partir da reunião de todos esses elementos de provas do sistema integrado de segurança pública”, destacou.

O diretor presidente do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen-AC), Alexandre Nascimento, disse que essa é uma maneira de dar uma resposta. “A decisão vem de encontro à uma determinação do governo do estado, que é dar uma resposta a uma afronta ao Estado. Essa resposta vem de encontro as investigações encabeçadas pela Segurança Pública. Quem ousar enfrentar o Estado terá as consequências”, disse.

A última transferência de presos do estado foi entre 2017 e 2018, quando chefes de organização criminosa que atuavam no estado foram levados para um presídio federal em Rio Grande do Norte. A transferência só ocorreu dois meses depois da rebelião porque, segundo o secretário, foi o tempo necessário para que os juízes tomassem as decisões

Investigações após rebelião

Já se passaram dois meses da rebelião no presídio Antônio Amaro, que resultou na morte de cinco detentos e a Polícia Civil ainda não concluiu as investigações. Ainda não se sabe como os presos tiveram acesso às armas, a real intenção deles e nem como eles conseguiram tomar os pavilhões do presídio de segurança máxima da capital acreana. O prazo inicial das investigações era de 30 dias.

O diretor geral da Polícia Civil, delegado José Henrique Maciel, reforçou dizendo que várias pessoas foram ouvidas e imagens analisada e que as investigações continuam avançando.

Nessa terça (26), o Iapen informou que ainda não foram concluídos os inquéritos. O delegado responsável pelo caso, Roberth Alencar afirmou que as investigações estão avançando e que o novo prazo é de 60 dias. “É uma investigação muito complexa, porque envolve uma instituição pública. Não é uma fato passional que já se sabe quem é o autor”, afirmou.


Imagens mostram momento em que presos saem das celas e rendem outro detento e policial penal — Foto: Reprodução

Na rebelião, cinco presos foram mortos por membros de uma facção rival - três deles foram decapitados. Toda a dinâmica e motivação devem ser esclarecidas nos inquéritos abertos pela Polícia Civil.

O primeiro foi conduzido pela Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP) e o outro conduzido pelo Departamento Técnico-Científico, para traçar como iniciou a rebelião dentro da unidade.


Cinco homens foram assassinados durante a rebelião que durou mais de 24 horas em presídio do AC — Foto: Arquivo

Exonerações e denúncias

No começo de agosto, o governador do Acre, Gladson Cameli, exonerou Glauber Feitoza Maia, que ocupava o cargo de presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC). Ele ficou mais de 1 ano e três meses a frente do instituto.

Na mesma edição do DOE, também saiu a demissão do diretor executivo operacional do Iapen, Marcelo Lopes da Silva. Nomeado no dia 19 de janeiro deste ano, ele ficou mais de seis meses no cargo.

Ainda em agosto, o g1 recebeu denúncia de servidores da unidade que aponta que a inteligência da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) tinha tido acesso a áudios e outros materiais que mostravam o plano de uma possível tentativa de fuga no presídio, porém, ignorou as informações.

Por medo de represálias, o grupo prefere não se identificar, mas, segundo alegações desses servidores, havia material mostrando que um dos grupos criminosos estava tentando uma fuga massa. Além disso, os servidores falam de outros pontos, como, por exemplo, a sala de armas onde os presos tiveram acesso até a fuzis. Segundo a denúncia, vários policiais penais teriam alertado e até pedido a retirada de armas do local, o que não foi feito. Os presos tiveram acesso a 15 armas no dia da rebelião.

Após a reportagem, o Ministério Público do Acre (MP-AC) instaurou inquérito para apurar a rebelião no Presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro. O órgão estadual vai 'investigar a responsabilidade do Estado do Acre em razão de possíveis falhas na prestação do serviço público que levaram à rebelião'.


Transferência de presos ocorre dois meses depois da rebelião em Rio Branco — Foto: Asscom/Iapen-AC

Rebelião

A rebelião começou na manhã do dia 26 de julho quando presos renderam policiais penais e tiveram acesso às armas que foram usadas para tomar o pavilhão de isolamento da unidade. Um policial foi ferido com tiro no olho e conseguiu sair do local e outro foi mantido refém. A rebelião terminou por volta das 10h do dia 27 de julho.

A Segurança afirmou que o que motivou a rebelião foi uma tentativa de fuga dos presos, mas há a hipótese também de ter sido por disputa de território entre facções criminosas rivais. Porém, a Sejusp disse que essa possibilidade ainda é investigada.

Os mortos são considerados chefes de uma organização criminosa e, segundo o Instituto Médico Legal (IML), três deles foram decapitados.

Fonte: G1