Insatisfeito com o perfil dos principais candidatos à chefia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar para o mês que vem a escolha do sucessor de Augusto Aras, que terminou o mandato na última terça-feira (26).
O calendário vai, portanto, coincidir com a data esperada para a definição do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na prática, como vai preencher as duas vagas ao mesmo tempo, Lula vai aproveitar para acomodar os interesses de diferentes aliados e grupos políticos nas duas corridas.
O presidente tem dito aos auxiliares que vai aproveitar a recuperação da cirurgia no quadril, marcada para o próximo dia 29, em Brasília, para examinar melhor os nomes que estão na disputa.
Lula saiu frustrado dos encontros que teve com os dois favoritos inicialmente – Antônio Carlos Bigonha, apoiado por setores do PT, e Paulo Gonet, candidato dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Ao começar a procurar nomes alternativos, o presidente passou a considerar também os subprocuradores Aurélio Rios e Carlos Frederico Santos.
Aos aliados com quem conversou nos últimos dias, o presidente disse que precisa "ouvir mais" e que a escolha do novo procurador-geral da República é muito séria para ser feita sob pressão.
“Quem tem pressa são os candidatos, não o Lula”, resumiu um influente interlocutor do presidente no meio jurídico.
Entre os principais conselheiros de Lula na definição do novo PGR estão os ministros Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Flávio Dino (Justiça) e Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), além do subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, Wellington César Lima e Silva.
“Todo o entorno quer influenciar, mas Lula já demonstrou que a decisão será pessoal”, afirmou à equipe da coluna um integrante do Ministério Público Federal que acompanha de perto as discussões sobre a sucessão de Aras.
A escolha é considerada estratégica para Lula porque só o chefe da PGR pode denunciar criminalmente o presidente da República. O presidente quer evitar o que considera um erro cometido por sua pupila, Dilma Rousseff, que indicou e reconduziu ao cargo o “lavajatista” Rodrigo Janot.
Lula já disse que não vai escolher entre os integrantes da lista tríplice formada na votação realizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), rompendo com uma tradição iniciada por ele mesmo em seu primeiro mandato. Ainda assim, os representantes da entidade continuam esperando uma brecha na agenda do presidente para entregar a lista ao petista.
A mais votada pela categoria foi a subprocuradora Luiza Frischeisen, que obteve 526 votos, seguida pelos subprocuradores Mario Bonsaglia e José Adonis Callou, que obtiveram respectivamente 465 e 407 votos.
Segundo integrantes do governo, desses três, o único que tem alguma chance na disputa é Bonsaglia, que vem se alinhando ao discurso petista de críticas à Operação Lava-Jato e à “politização” das investigações. Bonsaglia, no entanto, ainda não foi chamado para um encontro com Lula.
Fora da lista tríplice, o subprocurador Carlos Frederico Santos entrou na bolsa de apostas por sua atuação nas investigações dos golpistas que invadiram e depredaram a sede dos três poderes.
Integrantes do primeiro escalão do governo Lula lembram que, até aqui, o presidente da República tem demorado para fazer escolhas para o sistema de Justiça.
Lula levou, por exemplo, 51 dias para confirmar que indicaria Cristiano Zanin, para a vaga de Ricardo Lewandowski no Supremo, mesmo não havendo concorrentes ao favoritismo do seu ex-advogado pessoal.
Com o fim do mandato a PGR vem sendo chefiada interinamente pela subprocuradora Elizeta Ramos Paiva.
Nas últimas semanas, aliados de Lula diziam que o presidente preferia evitar que Elizeta assumisse a PGR, mesmo que interinamente, por considerá-la “lavajatista”.
Uma das razões é que, como corregedora-geral do MPF, ela não ratificou a posição do ex-ministro do Supremo Ricardo Lewandowski e nem a de seu substituto na relatoria de um processo, Dias Toffoli, no caso que levou à anulação das provas do acordo de leniência da Odebrecht.
Depois de comandar a sindicância que Lewandowski determinou sobre os métodos adotados pela força-tarefa da Lava Jato, Elizeta concluiu que não foi encontrada “qualquer conduta configuradora de violação de dever funcional pelos membros integrantes da Força-Tarefa da Lava-Jato em Curitiba, os quais comprovaram o exercício de suas atribuições institucionais em sintonia com o postulado da legalidade”.
Como o presidente não se define, Elizeta vai ficando no cargo – e pelo jeito sua interinidade pode durar mais do que o esperado.
Fonte: O GLOBO
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