Ex--Porto Seguro, seguradora já usa inteligência artificial para definir preço de conserto de carro ou valor do seguro, afirma Roberto Santos

Perto de completar 80 anos, a Porto Seguro virou apenas Porto, o nome da holding. O CEO da empresa, Roberto Santos, explica que a atuação ficou mais diversificada e hoje abrange de cartão de crédito a plano de saúde coletivo e prestação de serviço.

Com as mudanças no radar, a empresa usa inteligência artificial para definir preço de seguro e oferece até motoaquática para ajudar em resgate para enchentes.

Estudo da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) mostrou que o brasileiro percebe o mercado de seguros como caro e tem dúvidas sobre jargões...

Estamos trabalhando em diversas ações para mudar essa percepção. Sou presidente do Conselho Diretor da CNseg. Na nossa cultura, o brasileiro busca a proteção quando o risco é iminente. Um dos pontos a serem trabalhados é a comunicação. Há seguros complexos que a população não consegue entender. Sinistro (acidente, acontecimento inesperado que é coberto pela apólice) é um nome feio.

E o que a digitalização trouxe de mudanças para o setor?

Trouxe uma mudança de mentalidade para o consumidor, que foi empoderado com informação. Hoje, ele percebe se o produto não serve para suas necessidades e troca.

Mas e na operação em si? Quais benefícios a digitalização trouxe?

Quando se começou a falar em transformação digital a gente pensou que ia perder vantagem competitiva, que era o atendimento com uma pessoa do outro lado do telefone.

Mas hoje, o chatbot (programa de computador que simula e processa conversas humanas) encaminha um localizador de onde uma pessoa com o carro quebrado está, e isso é automaticamente transferido para o guincheiro, que vai com toda precisão ao local. Ela acompanha em tempo real e sabe que ele está chegando, o que dá muito mais segurança.

E a Porto já está usando inteligência artificial?

Sim, no caso de reparos de veículos. A gente consegue calcular quanto vai custar consertar um carro olhando apenas imagens. Também usamos em precificação do seguro. A partir da experiência passada, você constrói o preço.

Mas de que jeito?

Usamos bases de dados, como o consumo de combustível. Isso significa que há circulação maior do veículo. Somos sócios em 50% da ConectCar, de tag de pagamento automático, então através dos algoritmos é possível saber por onde a pessoa está andando.

O algoritmo me diz onde ela passou, qual o grau de circulação por regiões mais perigosas ou menos perigosas. E aí consigo precificar o seguro. Temos uma sala de performance e eu consigo saber se estou vendendo muito ou se preciso mexer no preço em diferentes municípios. Tenho essa informação atualizada a cada 4 segundos.

Como é a atuação de vocês em sustentabilidade?

Criamos, há dez anos, a Renova, de reciclagem e reaproveitamento de peças automotivas. Já desmontamos 21 mil veículos, evitando que eles fossem parar no meio ambiente.

A Porto mudou de nome perto de completar 80 anos. Por quê?

Somos líderes em seguro de automóveis, residencial, patrimonial. Esse é um pilar de negócio: a Porto Seguro. A partir disso, percebemos a necessidade de ter no portfólio unidades distintas. Temos a vertical financeira (Bank), que tem pegada forte de cartão de crédito, consórcio, são quase 3 milhões de clientes em cartão de crédito, a de Saúde, a de Serviços e a de Seguros. O nome Porto ficou sendo o da holding.

Mas a unidade de serviço é só para o segurado?

A rede de prestadores de serviços virou uma unidade de negócios, a Porto Serviço. Temos duas montadoras que usam nossos serviços de guincho. Mas temos operação para pessoa física. O cliente pode comprar o serviço avulso para consertar uma geladeira, por exemplo, sem ser segurado. Ou fazer assinatura do serviço.

Temos algo pouco comum que são as motoaquáticas para fazer resgates em casos de enchentes, como as que aconteceram no litoral de São Paulo. Treinamos os prestadores, que precisam ter habilitação especial para andar com essa motoaquática no meio da cidade.

Contratamos inclusive o surfista Carlos Burle, que fica num jetski, capturando surfistas que caem da prancha na Praia de Nazaré, em Portugal. Foi ele quem deu treinamento aos nossos prestadores. Temos um caminhão grande, o Marruá, que entra na lama em locais em que ninguém entra.

E como atuam na área de saúde?

Já temos cerca de 450 mil vidas seguradas, mas operamos apenas no coletivo e com empresas. Não vendemos planos de saúde individuais. Lançamos a Porto Saúde Pro para pequenas e médias empresas, em São Paulo. Criamos uma joint venture com a Oncoclínicas, que tem hospitais oncológicos. Ela opera os hospitais com padrão de qualidade para nossos segurados, e nós operamos o plano de saúde.


Fonte: O GLOBO