Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro já preveem uma nova derrota no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que retoma na manhã desta quinta-feira (26) o julgamento de três ações que apuram o desvio de finalidade e o uso político das comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de Setembro do ano passado.

“Ele deve ser condenado pelo fator má vontade do TSE”, admite um resignado integrante do PL ouvido reservadamente pela equipe da coluna. “Mas vai ser em decorrência de fatores subjetivos e que não estão nos autos.”

Integrantes do PL e o entorno do ex-presidente dizem que o TSE promove uma perseguição política contra Bolsonaro, que viveu às turras com a Corte Eleitoral ao longo dos quatro anos de mandato, insistindo na adoção do voto impresso e lançando suspeitas infundadas contra as urnas eletrônicas.

Foi, aliás, por conta da ofensiva contra as urnas que o plenário do TSE condenou Bolsonaro, em junho deste ano, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Naquele caso, o objeto da ação foi a reunião que Bolsonaro fez com embaixadores no Palácio da Alvorada para atacar o sistema eletrônico de votação. O julgamento resultou na sua inelegibilidade e no afastamento das eleições até 2030.

Já as ações que serão julgadas nesta quinta-feira apuram se houve abuso de poder político e econômico na utilização das comemorações do Bicentenário da Independência, a um mês da eleição presidencial, como palanque político.

Conforme informou a equipe da coluna, o aumento dos gastos com a tradicional parada militar em Brasília, a presença de tratores conduzidos por apoiadores de Bolsonaro em pleno desfile organizado pelas Forças Armadas e até um depoimento do ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira – que admitiu que os eventos oficiais e de campanha atraíram o mesmo público – são apontados como evidências de que o então presidente tentou aproveitar a data para turbinar a sua fracassada campanha à reeleição, utilizando recursos públicos.

Como Bolsonaro já está inelegível até 2030, se ele for novamente condenado por ilícitos eleitorais, o tempo pelo qual ele tem que ficar afastado da política não muda. Mas a principal aposta de seus adversários é a de que o TSE vai impor, desta vez, ao menos uma multa pesada ao ex-presidente.

“Quero a condenação (de Bolsonaro) por desvio de finalidade, por abuso de poder, mas quero também a imposição da multa, pois é no bolso que vai doer”, disse a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), autora de duas das ações sob análise agora, que acompanhou o primeiro dia de julgamento. A terceira ação é movida pelo PDT.

Integrantes da Corte Eleitoral ouvidos reservadamente pela equipe da coluna apontam que a dimensão política dos eventos do 7 de Setembro, que atraíram milhares de pessoas em Brasília e no Rio de Janeiro, torna o caso mais grave que o das lives presidenciais gravadas no Palácio da Alvorada – na semana passada, o TSE arquivou duas ações que apuravam o uso das instalações oficiais para a filmagem das lives.

Se além da multa, o TSE também condenar Bolsonaro pelos ilícitos eleitorais, confirmando sua inelegibilidade por abuso de poder, isso também deve trazer dor de cabeça ao PL.

“É como se, ao invés de apenas uma doença, você agora tivesse duas enfermidades para tratar”, disse à coluna outro interlocutor do ex-presidente, em referência à condenação já em vigor por conta da reunião com embaixadores.

A dupla condenação tornaria ainda mais difícil a estratégia bolsonarista de tentar derrubar as condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) e fazer com que ele possa disputar as próximas eleições.


Fonte: O GLOBO