As crianças são, do ponto de vista psicológico, socioeconômico e cultural, influenciadas pelo ambiente onde vivem, que, na maioria das vezes, é constituído pelo ambiente familiar

Hoje, 12 de outubro, dia em que se comemora a santa padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, e comercialmente, o dia das crianças, resolvi escrever sobre a construção do nosso hábito alimentar, que começa bem antes do nascimento, durante o desenvolvimento e crescimento do embrião no útero materno.

Não atendo crianças, salvo exceções em que os pais fazem questão que a criança converse comigo. Grande parte dos pacientes que me procuram, o fazem para emagrecer e melhorar a qualidade da alimentação e sei do impacto que a relação com a comida construída na infância tem no comportamento alimentar do adulto. 

Assim como a personalidade e o caráter, os gostos, preferências e as relações com a comida são todas construídas durante o crescimento e desenvolvimento do indivíduo. A disponibilidade e o acesso ao alimento em casa, as práticas alimentares e o preparo do alimento, influenciam o consumo alimentar da criança. As crianças são, do ponto de vista psicológico, socioeconômico e cultural, influenciadas pelo ambiente onde vivem, que, na maioria das vezes, é constituído pelo ambiente familiar.

Ou seja, o grande responsável pela criança comer ou não comer são os pais, ou os cuidadores. Os primeiros 1.000 dias de vida compreendem desde o momento da concepção do indivíduo até os dois anos de idade.

São 270 dias da gestação, mais 365 dias do primeiro ano de vida somados aos 365 dias do segundo ano, esse período é crucial para o crescimento e desenvolvimento infantil, pois trata-se de um período de ‘janela de oportunidades’, no qual é possível adotar hábitos e atitudes que irão influenciar o futuro do bebê. Desde a gestação, por exemplo, o indivíduo é influenciado pelos sabores dos alimentos que a mãe consome, isso porque o líquido amniótico é aromatizado e as papilas gustativas, formadas entre a sétima e a oitava semana de gestação, percebem esses gostos.

O mesmo acontece com o leite materno, que varia de gosto entre uma mamada e outra de acordo com o repertório alimentar da mãe, e esse fator é importantíssimo para que a criança se habitue com o leque de sabores de uma alimentação variada. Se você come muito doce, tanto o líquido amniótico como o leite materno ficarão com um sabor mais adocicado e provavelmente o bebê se habituará a esse tipo de sabor. O resto da história você consegue imaginar, né?

A transição entre o aleitamento materno exclusivo e a alimentação “normal” também é uma oportunidade importante para a introdução de alimentos saudáveis na realidade da criança. Apesar de o comportamento alimentar nesta primeira infância ser caracterizado por uma predisposição genética, com preferência à sabores muito doces, salgados e rejeitar os sabores mais suaves e picantes, os primeiros 1000 dias devem ser um período de estímulos alimentares, já que nesta faixa etária as experiências podem ter impacto significativo por toda a vida. Assim, é importante incentivar o consumo de frutas, verduras e legumes — fundamental para que se desenvolva um paladar receptivo a estes sabores.

As crianças não comem aquilo de que elas não gostam. Elas exercem um controle sobre a sua ingestão alimentar recusando ou comendo um alimento específico. Se a criança rejeita um alimento e por isso limita a ingestão alimentar, os pais ficam preocupados, porque sabemos que, nesse período de desenvolvimento, elas não devem pular refeições. 

A solução seria oferecer alimentos alternativos ou outros modos de preparo do alimento, por exemplo, a criança rejeitou cenoura crua? Tente cozida ou na forma de purê. Esse tipo de problema pode conduzir a recusas alimentares, como, por exemplo, aos vegetais; e, assim , a criança pode não receber uma alimentação balanceada, o que implicaria em prejuízo à sua saúde futura.

Quer que seu filho tenha uma alimentação saudável? Comece você a mudar o seu jeito de comer.


Fonte: O GLOBO