Ex-tesoureiro do partido mantém influência em Goiás e já debateu cenários do partido em estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

Um dos principais alvos do mensalão e personagem também da Lava-Jato, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares voltou à cena política e mergulhou nas articulações do partido para as eleições municipais de 2024. As viagens pelo país se intensificaram depois que ele ficou livre de ações penais na Justiça. 

O antigo dirigente, responsável pelas contas da primeira campanha vitoriosa de Lula ao Palácio do Planalto, em 2002, aproveita a peregrinação para também apresentar a própria versão sobre os processos de que foi alvo e que chegaram a levá-lo à prisão.

A presença é mais constante em Goiânia. Delúbio esteve na semana passada no evento que lançou a pré-candidatura da deputada federal Adriana Accorsi (PT-GO) à prefeitura da cidade. Ao anunciar nas redes sociais a sua participação, o ex-tesoureiro disse que ele e o partido vão "construir uma grande vitória nas eleições de 2024".

Natural de Buriti Alegre, a 600 quilômetros de Goiânia, Delúbio conheceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda como líder sindical. Sua relação com a pré-candidata a prefeita também é antiga. Adriana é viúva de Darci Accorsi, que já foi prefeito da cidade e foi amigo do ex-tesoureiro

Delúbio tem mantido uma intensa agenda de viagens e também participa de eventos para discutir as eleições municipais em outras cidades de Goiás, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, onde é próximo do deputado estadual e ex-governador Zeca do PT.

O senador Humberto Costa (PT-PE), responsável por coordenar a estratégia eleitoral do partido em 2024, declarou que o movimento de Delúbio é espontâneo e a legenda ainda não mobilizou os representantes para a pré-campanha. Mesmo assim, o parlamentar considera a atuação natural.

— Ele é militante, filiado ao partido e é uma liderança reconhecida. Tem toda liberdade para fazer campanha e apoiar os candidatos, mas não organizamos ainda agendas para as nossas lideranças, nossos militantes.

Desde o começo do ano, o ex-tesoureiro já rodou por cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro e participou de eventos em Brasília, Porto Alegre e Recife. Em todas as reuniões, aproveita para divulgar seu livro, onde faz críticas aos processos dos quais foi alvo na Justiça e a personagens da Lava Jato, como o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR).

— Agora estou liberado, ganhei todas as ações judiciais. Provei minha inocência depois de 18 anos de batalhas e agora eu sou um homem inocente. Sempre fui inocente, a Justiça reconheceu — disse Delúbio no domingo ao site “Mais Goiás”.

Em março, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou uma condenação da Lava-Jato contra Delúbio por lavagem de dinheiro e enviou o processo para a Justiça Eleitoral. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF já havia concedido a ele o perdão da pena no mensalão — à época, ele estava em regime domiciliar, após ter cumprido parte da pena por corrupção no regime semiaberto. Procurado, Delúbio não se manifestou.

Influência local

Hoje, o ex-integrante da cúpula nacional do PT ainda exerce uma influência local. Seu irmão Carlos Soares, ex-vereador pelo PT de Goiânia, é superintendente da Secretaria de Patrimônios da União (SPU) em Goiás. Sua mulher também tem participação política e é integrante do Executiva Nacional do PT e secretária-executiva do Foro de São Paulo, grupo que reúne líderes de esquerda da América Latina.

Desde quando virou alvo do mensalão e foi acusado de participar de um esquema de compra de apoio parlamentar no Congresso, o petista submergiu e passou a deixar de ser visto em público com Lula. Em 2005, o ex-tesoureiro foi expulso do PT, tendo retornado ao partido em 2011. Ele também chegou a ser preso em 2018 e cumpriu pena em regime fechado na Papuda, em Brasília, mas foi solto.

Mesmo em liberdade, no entanto, sua atuação política permaneceu discreta e não participou da campanha presidencial de Lula no ano passado. Agora, promete ter uma participação mais ativa. Em abril, em Osasco (SP), Delúbio disse que vai “trabalhar daqui até primeiro domingo de outubro de 2026 pela reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, para dar continuidade ao governo”.


Fonte: O GLOBO