A Justiça Eleitoral ainda não decidiu o futuro político do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), mas nos bastidores adversários e até mesmo aliados do ex-juiz federal da Lava-Jato já se movimentam para disputar a vaga, caso ele seja cassado por caixa 2 e abuso de poder econômico na eleição de 2022.

Autor de uma das duas ações que podem levar à cassação de Moro, o PL tem mãos uma pesquisa que mostra que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro lideraria com folga a corrida pela vaga de Moro, caso decidisse se candidatar pela primeira vez a um cargo eletivo.

No levantamento que o partido recebeu, Michelle teria 44% dos votos, mais do que o dobro dos segundos colocados, Gleisi Hoffmann e Ricardo Barros.

O Paraná é um dos Estados brasileiros mais bolsonaristas – no segundo turno da última eleição presidencial, Bolsonaro obteve 62,40% dos votos válidos, ante 37,60% de Lula, o que resultou numa vantagem de 1,6 milhão de votos para o então ocupante do Palácio do Planalto.

De acordo com interlocutores de Michelle, Bolsonaro apoia irrestritamente a transferência do domicílio eleitoral da mulher de Brasília para o Paraná com o objetivo de disputar a vaga de Moro. Ele tem dito a aliados que, hoje, Michelle tem “50% de chances” de se candidatar.

“Se Michelle quiser, a vaga é dela”, resume um influente interlocutor do casal.

Antes, porém, é preciso que a Justiça Eleitoral casse Moro. Com a chegada de centenas de documentos às ações e o adiamento de depoimentos da acusação e da defesa, o caso só deve ser enfrentado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) no primeiro semestre do ano que vem.

Isso poderia fazer com que a nova eleição coincida com o pleito regular pela prefeitura de Curitiba, em outubro do ano que vem.

Os números da pesquisa que animaram o clã Bolsonaro mostram a ex-primeira-dama com até 44,3% dos votos num dos seis cenários testados, em que ela teria como principais adversários a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o Secretário de Estado da Indústria, Comércio e Serviços do estado do Paraná, Ricardo Barros (PP). Gleisi e Barros aparecem respectivamente com 21,8% e 11,5% nesse caso.

Em outro cenário, Michelle continua na liderança, com 39,3% dos votos, se enfrentasse nas urnas – além de Gleisi e Ricardo Barros – o ex-senador veterano Alvaro Dias (26%), derrotado por Moro na última eleição.

A liderança de Michelle é um pouco menos folgada caso a deputada Rosângela Moro (União Brasil-PR), mulher do senador, também decida disputar o cargo. Nesse cenário, a ex-primeira-dama aparece com 35,7%, ante 7,4% de Rosângela.

A interlocutores, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, costuma afirmar que tem compromisso com a candidatura do deputado federal Paulo Martins (PL-PR), mas até aqui o parlamentar tem tido um desempenho mais modesto nas pesquisas, se comparado a Michelle.

Segundo a pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, Paulo Martins chega a 18,8% dos votos no melhor dos cenários, atrás de Gleisi (22,3%), mas ainda à frente de Barros (17,4%). O levantamento ouviu 1.556 eleitores de 19 a 23 de outubro, com margem de erro de 2,5 pontos percentuais.

Mas, no entorno do clã Bolsonaro, a leitura é a de que, se a primeira-dama consolidar sua liderança entre o eleitorado paranaense, sua candidatura deve se tornar inevitável.

Esse desenho também ajudaria a tirar Michelle do caminho do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e da deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PL-DF), que pretendem disputar o voto dos brasilienses na corrida ao Senado em 2026.

Conforme informou a equipe da coluna, pesquisas internas feitas para testar a viabilidade de uma eventual candidatura de Michelle à Presidência da República apontam que o maior ativo político dela são o sobrenome e a relação umbilical da ex-primeira-dama com o clã do ex-presidente da República.

Outra constatação desses levantamentos internos – que incluem tanto pesquisas quantitativas quanto qualitativas – é o de que, hoje, Michelle se encontra num patamar de popularidade similar ao do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e acima dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD) – estes últimos considerados políticos regionais, sem projeção fora dos seus currais eleitorais.


Fonte: O GLOBO