Um ano após eleição de 2022, atual titular do Planalto e seu antecessor são os principais alvos de congressistas, mesmo com ex-presidente inelegível

Quase quatro meses após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornar Jair Bolsonaro (PL) inelegível e passado um ano das eleições, a disputa política nas redes sociais se mantém centrada nas figuras do ex-presidente e do seu sucessor, Luiz Inácio Lula

da Silva (PT). Um levantamento feito pela Escola de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI/FGV), a pedido do GLOBO, aponta que parlamentares do PT e do PL seguem com o mesmo ritmo de ataques aos dois protagonistas da disputa pelo Planalto em 2022.

Dos 76 deputados e senadores petistas, 68 citaram diretamente Bolsonaro em postagens no Facebook entre 1º de junho e 9 de outubro. Ao todo, foram 1.763 publicações que miraram o ex-presidente, o que representa uma média de 13 postagens por dia no período. Na lista de mais atuantes estão o deputado Rogério Correia (MG), o senador Humberto Costa e a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann (PR). Investigações sobre Bolsonaro e a inelegibilidade são alguns dos temas abordados.

“Os quatro anos de desgoverno infelizmente saíram caro ao Brasil. Agora, com um presidente de verdade, vamos reconstruir tudo que foi destruído pelo inelegível”, publicou recentemente Gleisi Hoffmann ao destacar alta nas taxas de analfabetismo no país.
Infográfico: ataques de lulistas e bolsonaristas um ano após eleições presidenciais de 2022 — Foto: Editoria de Arte

Embora Bolsonaro tenha sido derrotado nas urnas e esteja proibido de disputar eleições, ainda não houve uma liderança política que tenha ocupado o espaço deixado por ele na direita. Esse cenário também contribui para que ele permaneça na prateleira de alvos preferidos dos esquerdistas.

O movimento da base parlamentar de Lula destoa da estratégia do presidente, contudo. O petista evita mencionar Bolsonaro diretamente em textos compartilhados nas redes. As críticas e ataques ao antecessor costumam ocorrer em entrevistas de Lula à imprensa e, eventualmente, nas suas lives semanais.

Em visita à Índia, no mês passado, Lula disse a jornalistas que o tempo vai revelar que Bolsonaro estava envolvido “até os dentes” com uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. A um canal indiano, chamou o ex-presidente de “fascista que só pregava o ódio” e o acusou de ser responsável pela metade das mortes por Covid-19 no Brasil.

Já Bolsonaro fez 22 postagens com menções diretas a Lula nos últimos meses. Em outros casos, lançou mão de termos pejorativos e citações indiretas. Em um dos episódios mais recentes, o ex-presidente buscou vincular o petista ao grupo terrorista Hamas, após os ataques em Israel. Dias antes, publicou um vídeo em que diz, em tom de deboche, que Lula tem que usar “fraldão” pelas “cagadas que faz”.

Entre os deputados e senadores do PL, 58% dispararam contra o petista em seus perfis no período. O volume é maior que o de parlamentares do PT: soma 2,3 mil nos últimos meses, quase 18 por dia, em média. Carla Zambelli (SP), Flávio Bolsonaro (RJ) e Filipe Barros (PR) despontam como os principais autores de postagens.
Infográfico: ataques de lulistas e bolsonaristas um ano após eleições presidenciais de 2022 — Foto: Editoria de Arte

Professor da ECMI/FGV, Victor Piaia explica que os parlamentares das duas siglas costumam falar para as próprias bases, segmentos mais partidarizados. Embora seja natural a oposição mirar no presidente, ele destaca que os bolsonaristas se diferenciam por conseguir estabelecer uma pauta constante para atingir Lula. Ele aponta também que o petista, ao evitar o confronto direto, busca marcar diferenças com uma postura “mais estadista” em relação ao ex-presidente:

— Criticar Bolsonaro é manter viva a memória dos problemas do governo anterior. Já o bolsonarismo conseguiu reencontrar temas que incomodam o governo e ajudam a alimentar sua base. Ainda é cedo, porém, para saber se isso vai resultar em uma comunicação exitosa. O governo também tem muitos recursos. Com o impacto da economia, pode ser que isso seja mitigado.


Fonte: O GLOBO