Prêmio Lasker ganhou o apelido por ter a fama de ‘prever’ os vencedores do Nobel. Dupla de pesquisadores por trás da plataforma de RNA mensageiro foi laureada há dois anos nos EUA

Nesta segunda-feira, o Prêmio Nobel de Medicina de 2023 foi concedido à bioquímica húngara Katalin Kariko e ao cientista americano Drew Weissman. A dupla de pesquisadores foi laureada pelo trabalho com a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), utilizada nas vacinas da Covid-19 desenvolvidas pela Pfizer/BioNTech e pela Moderna. Ainda em 2021, porém, o trabalho já havia recebido um reconhecimento de alto nível nos Estados Unidos que tem a reputação de “prever” o vencedor do Nobel.

Os cientistas descobriram ainda em 2005 como utilizar o RNAm sem que ele cause reações inflamatórias ao ser entregue para as células humanas. A organização do Nobel destacou, em comunicado, que isso foi fundamental para o desenvolvimento das vacinas em tempo recorde em 2020, que “salvaram milhões de vidas e preveniram doenças graves em muitas mais, permitindo que as sociedades se abrissem e regressassem às condições normais”.

Há dois anos, o mesmo motivo foi apontado pela Fundação Lasker ao conceder o Prêmio Lasker - DeBakey de Pesquisa Médica Clínica, junto a um valor de 250 mil dólares (cerca de 1,2 milhão de reais na cotação atual), para os dois pesquisadores. O prestigiado prêmio dos EUA, que teve início ainda em 1945, é conhecido como o “Nobel Americano”.

Essa fama não é à toa. Quase 90 vencedores do Prêmio Lasker foram laureados também com o Prêmio Nobel posteriormente, cerca de um quarto de todos os escolhidos pela fundação americana até então. Por isso, o reconhecimento em 2021 já indicava na comunidade científica a possibilidade de, em breve, a dupla levar também o Nobel "oficial".

Na época, ao conceder o Lasker - DeBakey para os cientistas que descobriram como implementar a tecnologia de RNAm na prática, a instituição destacou que, “além de fornecer uma ferramenta para reprimir uma pandemia devastadora, a inovação está impulsionando o progresso em termos de tratamentos e prevenção para uma série de doenças diferentes”.

A Moderna, por exemplo, farmacêutica fundada em 2010 com foco em RNAm, e uma das responsáveis pelos imunizantes da Covid-19 com a plataforma vacinal, já testa doses contra os vírus Zika, HIV e Nipah, além de muitos outros. Mas o benefício da técnica não é restrito às doenças infecciosas: o laboratório está na última etapa dos estudos para uma vacina terapêutica contra o câncer de pele.

Na penúltima etapa dos testes clínicos, o imunizante aplicado em conjunto com o anticorpo monoclonal Keytruda, proporcionou uma redução de 44% nas mortes e recorrências do melanoma, câncer de pele mais letal, em comparação com aqueles que somente receberam o medicamento.

Isso acontece porque, de forma resumida, o RNAm funciona como um código com instruções para que as células do corpo produzam determinada proteína. No caso das vacinas da Covid-19, em vez de o imunizante introduzir o vírus inativado ou uma parte dele para que o sistema imunológico o reconheça e produza as defesas, o RNAm utiliza o próprio organismo como “fábrica” da proteína S do coronavírus, que então é lida pelo corpo para produzir as células de defesa e anticorpos.

No caso do câncer, é possível utilizá-lo para ensinar o sistema imune a reconhecer determinadas partículas que escondem os tumores do organismos e, com isso, passar a atacá-lo. Além disso, a tecnologia é uma promessa para outros tipos de diagnósticos, como pela produção de proteínas importantes para o tratamento de diabetes, anemia falciforme e muitas outras doenças.


Fonte: O GLOBO