Atração ocupou área externa do Auditório Ibirapuera e celebrou música clássica e popular
Foi pontualmente às 17h30 deste sábado que a Orquestra Experimental de Repertório e mais o Coro Lírico Municipal romperam o silêncio da área externa do Auditório Ibirapuera para inaugurar mais uma edição do Projeto Aquarius, mas desta vez na cidade de São Paulo.
Regidos pelo maestro Roberto Minczuk, os artistas apresentaram a conhecidíssima faixa “O Fortuna”, da cantata “Carmina Burana”, do compositor alemão Carl Orff (1895-1982). Na sequência, um trecho da ópera “O Guarani”, do paulista Carlos Gomes (1836-1896).
A orquestra manteve o público atento em “Dança Brasileira”, do modernista Camargo Guarnieri (1907-1993) e mais “O Trenzinho do Caipira”, parte de uma das Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos (1887-1959).
E para dar início à combinação entre clássico e popular — uma marca registrada do Aquarius — a cantora Isis Testa, a campeã de The Voice Kids, no ano passado assumiu os vocais de “A Menina Dança” dos Novos Baianos, acompanhada pela orquestra, a plateia dançou junto e acompanhou com palmas.
Roberto Minczuk rege a orquestra experimental de repertório — Foto: Edilson Dantas
— Tinha três aninhos quando cantei Patati Patatá, o tom estava alto e eu segui acompanhando. Meu pai viu que eu nasci para a música — contou a garotinha ao maestro. Na sequência, cantou “Tempos Modernos” de Lulu Santos.
A orquestra ainda brilhou em uma homenagem a Rita Lee (1947-2023). No trecho, hits como “Saúde” e “Baila Comigo”, ganharam versões instrumentais.
Fafá de Belém surgiu ao palco aos sorrisos e logo cantou “Ave Maria”, de Vicente Paiva (1908-1964) e Jaime Redondo (1890-1952). Dali partiu para “Nuvem de Lágrimas” e “Coração do Agreste” e ainda como surpresa “Sampa”, de Caetano Veloso.
“Trem das Onze” de Adoniran Barbosa (1910-1982) foi o encerramento com a união de todos os cantores no palco.
Ineditismo
Na concentração, antes do concerto, o maestro Roberto Minczuk não escondeu a satisfação ao assumir a regência do programa pensado para homenagear a cidade de São Paulo.
— Regi ao menos sete edições do Aquarius no Rio. É emocionante estar de volta. O repertório foi escolhido, conjuntamente com a equipe do Aquarius, e representa São Paulo, o Brasil — diz Minczuk. — E sabe, conheci Ísis Testa que é um fenômeno, é extraordinária. A Fafá e eu cantaremos juntos pela primeira vez. São sucessos dela que amo, que adoro.
Fantástico foi a palavra usada por Fafá de Belém para classificar sua participação.
— Temos dois solistas líricos (no palco) Isso é fantástico, porque existe essa mania de dizer que música erudita não é popular. E toda música boa é popular. Adoro cantar com orquestra — diz a cantora. — É importante desmistificar a música erudita.
Espera e descoberta
Para ver o concerto, há quem tenha chegado com duas horas de antecedência para conseguir um bom lugar. Caso da família Rufino, de Cosmópolis, no interior paulista. O trio é fã de música e trabalha no ramo.
— Acreditamos na conexão da música clássica com a música popular. Vimos a previsão que haveria o evento e aproveitamos para pesquisar melhor o projeto — diz a mãe, Ana Paula, de 51 anos, acompanhada da filha, a estudante de regência Marília e do marido, o professor de musica Wagner Bico.
O casal paulistano Biagio Barletta e Ana Carolina Valentim, grávida de oito meses, por sua vez, passava pelo parque quando soube da apresentação e decidiu assisti-la.
— Adoramos música, a ideia é fazer muitos eventos culturais em família— diz a mãe— O bebê até já viu outra orquestra dentro da barriga, a Sifonica de Heliópolis, em homenagem à Rita Lee.
De volta a São Paulo
A relação do Aquarius com a cidade de São Paulo remonta um dos mais marcantes concertos do projeto em seus 50 anos de história. Em 1981, o Monumento do Ipiranga recebeu uma multidão que ansiava para ver uma reconstituição do Grito da Independência naquele 7 de setembro. A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), na ocasião regida pelo maestro e pianista Arthur Moreira Lima, que tocou uma obra do compositor russo Tchaikovsky (1840-1893).
Fafá de Belém fez sua estreia no evento em 1985, na Quinta da Boa Vista. O regente de hoje, Roberto Minczuk, igualmente não é estreante na atração. Entre os concertos que regeu é possível destacar o de 2014, no qual o cinema foi a estrela do espetáculo.
Ao longo de cinco décadas, o Aquarius fez da diversidade de sons sua marca registrada. Passaram pelos palcos montados pelo projeto óperas de primeira categoria — caso de "Aída", do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), de apresentações de Balé e mais uma homenagem sinfônica aos Beatles, regida pelo produtor do Fab Four, George Martin (1926-2016).
Desde sua criação, em 1972, pelo jornalista Roberto Marinho (1904-2003) junto ao então gerente de promoções do GLOBO Péricles de Barros (1935-2005) e do maestro Isaac Karabtchevsky o Aquarius foi um método arrojado de formar um novo séquito de fãs para o segmento da música clássica e incluir culturalmente plateias que estavam distantes dos endereços onde acontecem os grandes concertos.
O Aquarius São Paulo é uma apresentação do Ministério da Cultura e tem a realização do GLOBO e CBN. O evento conta ainda com a Cidade de São Paulo como Cidade Anfitriã e o Governo de São Paulo como Estado Anfitrião, patrocínio master da Fundação Theatro Municipal, patrocínio da Vibra e da Sabesp e apoio do Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Fonte: O GLOBO
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