Sou muito cuidadosa em relação a suplementos alimentares. Acho bobagem e perda de dinheiro o uso de suplementos indiscriminadamente: a indústria investe pesado na propaganda de pílulas e pós mágicos que prometem saúde, desinflamação, bem-estar, longevidade, emagrecimento, disposição e concentração. Existem casos em que a suplementação é necessária, quando há deficiência apontada em exames laboratoriais, na análise dos sinais e sintomas do paciente ou por meio do recordatório alimentar. 

Nesses casos, opto sempre pela alimentação como fonte principal de obtenção de nutrientes, duas unidades de castanha do Brasil por dia para deficiência de selênio, suco de limão para suprir as necessidades de vitamina C ou inclusão de leite ou iogurte para melhorar o consumo de cálcio. Na grande maioria das vezes, uma alimentação variada, rica em frutas, legumes, verduras, carnes magras, grão integrais e azeite de oliva supre as necessidades diárias de nutrientes.

Há dois suplementos que defendo o uso e indico para a maioria dos meus pacientes, são os que mais existem pesquisas afirmando sua eficácia e indicação. Um é o ômega 3 que já falei nesse espaço, e o outro suplemento é a creatina. Queridinha dos frequentadores de academia, essa substância é produzida naturalmente pelo fígado, rins e pâncreas, a partir de três aminoácidos: glicina, arginina e metionina. 

O corpo produz cerca de 1g por dia, e ingerimos ao redor de 1g pelo consumo de carnes, peixes, frango, ovo, frutos do mar, leite e derivados, considerado uma quantidade muito baixa, que não atende às necessidades do corpo para que ele funcione com todo o seu potencial.

A creatina produzida naturalmente ou ingerida é armazenada principalmente nos músculos, além do cérebro e outros órgãos. Essa substância atua no ciclo de geração de energia dentro da célula, ampliando a reserva energética prontamente disponível no nosso corpo, melhorando o rendimento e dando mais força, fazendo com que ela trabalhe no máximo de seu potencial.

Essa é a razão de ser a queridinha de quem treina: com os músculos bem ativados pela prática física, há uma potencialização do ganho de massa muscular. Estudos destacam ainda que a creatina pode contribuir para a recuperação de atletas após treinos intensos e ajuda a evitar a fadiga física. Vale lembrar que a creatina não faz com que o músculo cresça, mas sim com que ele trabalhe eficientemente, ajudando a hipertrofia.

O mesmo acontece com as células nervosas, conhecidas como neurônios. Assim como os músculos, eles também precisam de energia; desse modo, a creatina ajuda a “catalisar” a produção de energia para os neurônios, fazendo com melhorem as atividades cerebrais. Estudos relacionam o seu uso terapêutico a propriedades neuroprotetoras. 

Isso se dá porque quando a creatina está ligada às moléculas de energia nas células neurais, pode amenizar o estresse oxidativo, que, por sua vez, está associado a diversas doenças cerebrais. Tal atuação antioxidante parece ser uma das razões do auxílio da creatina para a saúde cerebral.

Um estudo realizado por pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em 2013, apontou que a creatina melhora a função muscular de pacientes que sofrem de fibromialgia, condição reumatológica que se caracteriza por dor muscular generalizada, reduzindo a incapacidade física.

Outro público beneficiado pelo consumo da creatina é o idoso. Diversas pesquisas apontam que o consumo do composto de aminoácidos é eficaz para a manutenção da massa muscular, prevenção de sarcopenia (perda da massa muscular) e funções cognitivas. Estudos destacaram também que a suplementação de creatina, quando combinada a treinamento de resistência, aumenta a massa magra e melhora a força de pessoas idosas, contribuindo positivamente para diminuir o risco de quedas e fraturas.


Fonte: O GLOBO