Estudantes devem ter atenção redobrada a vírgulas, crases, sujeitos e verbos — motivos para erros frequentes — no momento do exame

A língua precisa estar afiada na hora da prova do Enem 2023. Para isso, é necessário atenção redobrada a eventuais "pegadinhas" que vírgulas, crases, sujeitos e verbos podem aprontar no momento do exame. Professores consultados pelo GLOBO listaram os erros de português mais frequentes entre os alunos — e esclareceram a melhor maneira de deixar, afinal, de cometê-los, tanto na prova de Língua Portuguesa quanto na escrita da Redação.

Este conteúdo faz parte do canal digital especialmente voltado para estudantes do Enem, e criado em parceria com a Plataforma AZ de Aprendizagem. Até a data da prova, que acontecerá nos dias 5 e 12 de novembro, reportagens exclusivas serão publicadas no site do jornal. Os alunos também podem acessar gratuitamente um almanaque especial com dicas preciosas para os candidatos.

Erros de português para não cometer no Enem

A seguir, confira uma lista com os erros de português mais cometidos por candidatos ao Enem, e que podem inspirar questões na prova de 2023. A seleção e as explicações são feitas pelos professores Ávila Oliveira, do Colégio Unificado, em Porto Alegre; Carla Felício, da Escola SEB Rio Preto, parceira da Plataforma AZ; Francisco Melo, da escola Sarah Dawsey, no Rio de Janeiro; e Leonardo Jaskulski, do Colégio Leonardo da Vinci do Rio Grande do Sul.

Mas / mais

Esse é um dos erros mais frequentes, logo, não podemos confundir seus usos. O "mais" indica adição ou intensidade. É o contrário de "menos". Exemplos: "Pegamos mais uma mala para a viagem"; "Descansar é o mais importante". Sinônimo de porém, o "mas" indica adversidade. Exemplo: "O atleta se preparou para o jogo, mas não foi escalado".

A ver / haver

A expressão "a ver" indica uma conexão, uma relação com algo. É utilizado para associar duas coisas. Exemplos: "Isso não tem nada a ver com o que estamos discutindo"; "Ele disse que não tem nada a ver com o que aconteceu". Já o verbo haver, no infinitivo, expressa a noção de possuir ou existir. Exemplo: "É importante haver compreensão mútua em uma negociação".

Haver no plural

E por falar em "haver"... Não empregue o verbo "haver" no plural quando estiver no sentido de "existir, fazer ou ocorrer". Exemplo certo: "Houve duas guerras". Sim, essa é a forma correta de flexionar o verbo. Jamais escreva "houveram duas guerras". Desse jeito, está errado.

Ortografia

Preste atenção na ortografia de palavras comuns na prova de Redação, como "estereótipo", "preestabelecido", "mão de obra", "empecilho", "restabelecer", "afro-americano", "afrodescendente", "cana-de-açúcar".

Afim / a fim

A palavra "afim" se refere a coisas semelhantes, compatíveis entre si. Serve para indicar afinidade e semelhança. Exemplo: "Eles têm interesses afins na música". Já o termo "a fim" indica finalidade, intenção ou interesse. Exemplos: "A fim de resolver a questão, nos reunimos para conversar"; "Ana está a fim de Pedro".

Crase

O principal uso de crase ocorre antes de palavras femininas, ocasionando uma combinação da preposição "a" com o artigo "a" da palavra feminina sob análise. Na prática, a substituição dessa palavra por outra equivalente é um teste eficaz para verificar esse fenômeno: quando a troca resulta no surgimento de "ao", pode-se perceber a crase na estrutura feminina. Exemplo: "O governo iniciou o combate à dengue". A frase pode ser substituída por "O governo iniciou o combate ao mosquito".

Fique atento: não se usa crase diante de verbo e diante de pronome pessoal. Exemplos de frases erradas: "Começou à sonhar"; "Direcionou à ela". Essas frases estão incorretas porque não pedem o uso de crase. Vale novamente frisar. Usa-se a crase:
  • Apenas antes de palavras femininas;
  • antes de locuções adverbiais femininas que expressam ideia de tempo, lugar e modo;
  • não ocorre antes de palavra masculina (na maioria das vezes).
Onde

A palavra "onde", como pronome relativo, só pode ser usada para retomar lugares. Exemplos: "As cidades onde mais se observa o fenômeno"; "Os bairros onde não há abastecimento".

Onde / aonde

E qual a diferença de "onde" para "aonde"? Pois bem, vamos para as explicações. O termo "onde" é utilizado somente para indicar um local fixo. Refere-se a uma situação estática, um lugar onde algo está. Exemplos: "Onde você trabalha?"; "Não sei onde coloquei minhas chaves". 

Muitos alunos fazem uso de forma equivocada do pronome relativo, relacionando-o a fatos históricos ou outros termos. Exemplo errado: "Na guerra onde morreu o rei". Guerra não é local, certo? Portanto, a frase está errada! Para evitar isso, substitua o "onde" por outros relativos "em que" , "a qual" , "o qual", etc. A oração correta é a seguinte: "Na guerra em que morreu o rei".

A palavra "aonde", por sua vez, indica movimento em direção a algum lugar. Exemplos: "Aonde você vai?"; "Pergunte ao chefe aonde precisamos levar a encomenda".

Concordância verbal e nominal

Procure reler a oração e identificar o verbo e o sujeito, para checar se a concordância está de acordo com a norma culta. Exemplo de oração com concordância errada: "Os povos e comunidades tradicionais não consegue ser incluído na sociedade". 

O problema dessa frase é que o verbo e o predicativo do sujeito devem concordar com o sujeito, que, nesse caso, trata-se de um sujeito composto. A oração correta, portanto, é a seguinte: "Os povos e comunidades tradicionais não conseguem ser incluídos na sociedade".

Alunos estudando para o Enem 2023 — Foto: Hermes de Paula

Falha de estrutura sintática

A falha de estrutura sintática acontece em textos com períodos truncados, justaposição de palavras, ausência de termos ou excesso de palavras (elementos sintáticos). A presença de pontuação irregular/indevida ou ausência de pontuação também interfere na qualidade da estrutura sintática. Dica importante: evite o gerúndio e utilize um elemento de coesão.

Exemplo de oração errada: "O Estado brasileiro não cumpre seu papel em garantir direitos a grupos vulneráveis socialmente. Visto que as políticas públicas são ausentes nesse campo". Não se deve separar a oração principal: "O Estado brasileiro não cumpre seu papel em garantir direitos a grupos vulneráveis socialmente" da subordinada: "Visto que as políticas públicas são ausentes nesse campo" Dica: separe o período composto (orações subordinadas adverbais) por vírgula e não por ponto final. A oração correta é portanto a seguinte: "O Estado brasileiro não cumpre seu papel em garantir direitos a grupos vulneráveis socialmente, visto que as políticas públicas são ausentes nesse campo".

Outro exemplo de oração errada: "Comunidades e povos tradicionais não são valorizados socialmente. Dificultando assim a garantia de seus direitos constitucionais". Problema: A segunda oração está separada por ponto final, quando, na verdade, deveria estar separada com uma vírgula e um elemento de coesão. A oração correta é a seguinte: "Comunidades e povos tradicionais não são valorizados socialmente e, dessa forma, há dificuldades em garantir seus direitos constitucionais".

Uso de vírgula

Não se separa, em nenhuma hipótese, sujeito e verbo. E mais. Os termos obrigatórios do verbo (sujeito e objetos) também nunca podem ser separados por uma vírgula. Exemplo: "Os dados estatísticos (sujeito) dão (verbo) credibilidade (objeto direto) às informações (objeto indireto)". Por outro lado, é preciso usar vírgula para isolar termos deslocados, como operadores argumentativos e adjuntos adverbiais, como "nesse sentido", "diante disso", "nessa perspectiva", "infelizmente", "lamentavelmente".

Vocativos

Quando vocativos são utilizados, a vírgula deve vir logo depois para que não se pense que aquele termo faz o papel de sujeito na frase. Exemplo: "Professor, a Maria já fez a prova".

Há / A

"Há" é a forma conjugada do verbo "haver" na terceira pessoa do singular. Nesse contexto, indica a existência de algo no passado ou tempo decorrido. Pode ser usado para indicar um período de tempo decorrido desde um evento passado. Exemplos: "Há muitos anos, viajei para o exterior"; "Ela mudou-se há três meses". Já a palavra "a" é frequentemente utilizada como uma preposição que indica direção, destino ou modo, mas também pode ser um artigo definido feminino, utilizado antes de substantivos femininos. Exemplos: "Vou a Paris"; "A casa está reformada".

Há anos / Há anos atrás

A expressão "há anos" indica um período de tempo decorrido desde o passado até o presente. Exemplo: "Trabalho nesta empresa há anos". Por outro lado, embora seja entendido, o termo "há anos atrás" é considerado redundante, já que "há" por si só já se refere a um ponto anterior no tempo. Exemplo errado: "Ela mudou-se para outra cidade há anos atrás." O correto seria: "Ela mudou-se para outra cidade há anos."

Meio / meia

Como substantivo, "meio" pode indicar uma porção ou ponto intermediário entre dois extremos. Também pode ser usado como advérbio para indicar algo que está parcialmente ou moderadamente em um estado ou condição. Exemplos: "Estamos no meio do caminho"; "Ela estava meio cansada". Já "meia" é um substantivo feminino que se refere a uma peça de vestuário que cobre parcialmente o pé e a perna. Quando usado como adjetivo, "meia" concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere. Exemplos: "Vou comprar uma meia nova"; "Comi meia pizza".

Diferença na acentuação

Cuidado com a diferença na acentuação: a "influência" (substantivo), isso "influencia" (verbo); a "economia" (substantivo), problemas "econômicos" (adjetivo); o "álcool" (substantivo); bebidas "alcoólicas" (adjetivo).

Mal / Mau

O termo "mal" geralmente funciona como advérbio e indica qualidade negativa. Também pode ser usado como substantivo. É o oposto de "bem". Exemplo: "Ele se sentiu mal após o incidente". "Mau" é um adjetivo que qualifica substantivos, indicando algo que é de qualidade ruim, nociva ou prejudicial. É o antônimo de "bom". Exemplo: "Ela teve um mau pressentimento".

Agente / A gente

"Agente" refere-se a uma pessoa que exerce uma função. Pessoa que agencia. Exemplo: "O agente de trânsito multou o motorista". "A gente" é uma expressão informal com o mesmo significado de "nós". Exemplo: "A gente gosta de ir ao cinema aos sábados".


Fonte: O GLOBO