Aliada de Boulos, Paula Coradi tem desafio de pacificar a sigla após embates na eleição da nova direção

Recém-eleita para comandar o PSOL, Paula Coradi assumiu a cadeira há duas semanas, num cenário de desavenças e polêmicas dentro e fora da agremiação de esquerda. Ao GLOBO, ela critica a entrada do Centrão no governo federal, do qual seu partido faz parte, e se esquiva de responder se considera o Hamas um grupo terrorista.

Coradi também diz que não ficará à sombra do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), seu aliado e pré-candidato à prefeitura de São Paulo, e descarta apoiar a reeleição de Eduardo Paes no Rio.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

A senhora assume logo após um congresso do PSOL em que houve agressão física entre correligionários. Quais providências tomou?

Nós já identificamos os dois envolvidos e agora eles irão responder na Comissão de Ética do partido.

A sua eleição também representa a vitória do Guilherme Boulos dentro do PSOL, certo?

Sou muito próxima do Guilherme Boulos, mas não queria ser tão associada a ele. Ele entrou no partido em 2018 e eu já tinha quase 10 anos de PSOL. Fica muito associado porque ele é um grande quadro, mas tenho minha própria trajetória de militância.

A sigla está rachada? Qual o maior impasse da legenda, na sua avaliação?

Não considero que esteja rachado, nossa chapa recebeu 67% dos votos. A maior divergência está em torno da nossa posição em relação ao governo Lula. Um grupo defende que nós participemos do governo e outra, que foi derrotada, de que devíamos atuar com independência. Então, hoje, não há possibilidade de deixarmos a base.

Como o partido avalia a adesão do Centrão ao governo federal?

Nós ajudamos a construir a vitória do presidente Lula desde 2022, então a contradição (de fazer parte do governo) não está do nosso lado. A nossa tarefa é defender que a agenda eleita nas urnas seja implementada e evitar que o Centrão sequestre a agenda política no Brasil.

Já levaram essa posição ao Palácio do Planalto, formalmente?

Nós não fomos consultados, mas, se fôssemos, diríamos que não achamos que esse é o melhor caminho. Mas temos que considerar que hoje existe uma extrema-direita articulada e com base social. Para nós, é importante estar dentro do governo Lula e fazer com que ele seja progressivo para os trabalhadores e que combata as desigualdades.

Após a eclosão do conflito em Israel, o governo não classificou o Hamas como grupo terrorista. Qual é a sua opinião sobre o tema?

O PSOL aprovou uma nota na Executiva, e estou autorizada a falar o que o nosso partido defende. Nós acreditamos que todas as mortes ocorridas em qualquer contexto de guerra, principalmente civis, são extremamente lamentáveis. Temos total compromisso com os direitos humanos e com a autodeterminação dos povos. O papel do Brasil deve ser de buscar a paz para o conflito.

Mas, especificamente sobre o Hamas, como o PSOL classifica o grupo?

Não tenho mandato para isso. A gente não tem essa discussão tão aprofundada entre nós do PSOL, então eu prefiro não comentar.

Qual é o caminho para Boulos vencer a eleição em São Paulo? Acha que ele deve acenar à centro-direita?

O Guilherme Boulos é uma pessoa muito firme nas posturas, e eu não acredito que vá ter uma grande mudança. Mas existe uma forma sendo discutida dentro da coordenação de campanha, que vai avaliar cada momento. O Guilherme conversa com todo mundo e vai ouvir todos.

Qual é o vice preferido do PSOL para a chapa de Boulos?

Em São Paulo, o vice vai ser do PT, faz parte do acordo político. A discussão do nome é do próprio partido.

No Rio, há possibilidade de o partido abrir mão da candidatura do deputado federal Tarcísio Motta para compor uma frente ampla pela reeleição de Eduardo Paes frente a um oponente bolosonarista?

Nós temos duas candidaturas muito importantes no Rio. Uma delas é a do Tarcísio, na capital do estado, e a outra é de Talíria Petrone, em Niterói. Nós não vislumbramos nenhum cenário em que seja possível a retirada do nome de Tarcísio, fica muito distante esse apoio (ao Eduardo Paes). O PSOL é o maior partido da esquerda no Rio, portanto, é nosso papel político também lutar por esse espaço.

Como o partido encarou o assassinato do médico Diego Bonfim, irmão da deputada Sâmia Bonfim, por suspeitos de integrarem o crime organizado no Rio?

A nossa atuação parlamentar já tentava resolver esse problema, temos um histórico de combate. E agora, por conta desse episódio com o irmão da deputada Sâmia, vamos seguir com mais intensidade.


Fonte: O GLOBO