Presidente desautorizou o ministro da Fazenda em semana boa, com avanços de pautas econômicas no Congresso

A fala do presidente Lula descartando o déficit zero no ano que vem pegou muito mal, até porque desautorizou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em uma semana boa, em que se avançou na pauta econômica com a aprovação do projeto sobre fundos exclusivos e a apresentação do relatório da Reforma Tributária.

Lula explicitou um conflito interno sobre gastar ou não gastar, que sempre é o ponto que divide todos os governos. Ao mesmo tempo, se equivoca quando diz que zerar o déficit é uma imposição do mercado. Disse que o mercado é ganancioso e impôs a meta, mas o fato é que quem decidiu essa meta foi o próprio governo, o próprio ministro Fernando Haddad.

Outro dia entrevistei o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, que faz uma projeção 0,7% de déficit para 2024 e acredita que o governo não conseguirá aprovar todas as matérias no volume proposto. Mas disse que o mercado aposta no ministro, até porque ele surpreendeu positivamente em todas as áreas.

Se Haddad dissesse que todas as contas foram refeitas e que na verdade se terá um déficit um pouco maior que zero, seria natural. Um ajuste feito pelo próprio ministro da Fazenda, com a indicação de qual déficit pode-se esperar no ano que vem.

Mas quando é o presidente da República que diz isso enquanto Haddad está em um voo entre Brasília e São Paulo, como aconteceu, acaba enfraquecendo o ministro da Fazenda.

Essa fala do presidente explicita o conflito da equipe econômica com a Casa Civil, onde o ministro Rui Costa está pressionando, segundo a imprensa, por mais gastos e investimentos em 2024. O Congresso já deixou claro que não concorda com a meta, e o próprio mercado financeiro projeta um resultado primário pior.

Mas como a revisão não foi anunciada pelo ministro da Fazenda, nem se divulgou de quanto é o rombo com o qual o governo trabalha, os juros futuros e o dólar subiram, e a Bolsa caiu. Foi uma frase infeliz na forma e no conteúdo.


Fonte: O GLOBO