Grupo libanês tem confrontos diários com forças israelenses na fronteira sul desde o ataque terrorista de 7 de outubro

O líder do movimento pró-iraniano Hezbollah se reuniu com líderes do Hamas e da Jihad Islâmica para discutir como apoiar estes movimentos palestinos em sua guerra contra Israel, disse o grupo libanês nesta quarta-feira (25).

O comunicado do Hezbollah não especificou quando, nem onde, seu secretário-geral, Hassan Nasrallah, reuniu-se com o número dois do gabinete político do Hamas, Saleh al Aruri, e com o líder da Jihad Islâmica, Ziad Nakhaleh. Ele apenas especificou que a reunião ocorreu no Líbano.

Forças militares da região — Foto: Editoria de Arte

O anúncio acontece em um contexto tenso no sul do Líbano desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, em 7 de outubro. Desde aquele dia são registrados confrontos diários entre o Hezbollah e seus aliados com as forças israelenses na fronteira sul libanês.

Os três homens analisaram "os últimos acontecimentos na Faixa de Gaza desde o início da Operação Dilúvio de Al-Aqsa", nome que o Hamas deu à sangrenta operação de 7 de outubro em solo israelense. Segundo Israel, 1.400 pessoas morreram na ofensiva e cerca de 220 foram sequestradas.
Efetivos militares de Israel, Irã, Hamas e Hezbollah — Foto: Editoria de Arte

Também conversaram sobre "o que as partes do eixo da resistência devem fazer nesta fase crítica, para conseguir a vitória (...) em Gaza e na Palestina" e "parar a agressão selvagem" de Israel, disse o Hezbollah em um comunicado.

Os três grupos constituem o chamado "eixo de resistência", pró-Irã e hostil ao Estado de Israel, e coordenam suas ações com outras facções palestinianas, sírias e iraquianas.

Na reunião, também se discutiu "o confronto em curso nas fronteiras libanesas".

Poderio militar de cada lado

Israel é a principal potência militar, com clara vantagem sobre os seus adversários em termos de capacidades. Seus gastos anuais com defesa são quase quatro vezes superiores aos do Irã e incomparáveis ​​com os recursos limitados à disposição do Hamas ou do Hezbollah.

Desde a sua fundação, Israel conta com o firme apoio dos Estados Unidos, com um ajuda militar de cerca de US$ 3,8 bilhões anuais (R$ 19 bi). O apoio de Washington tem derivados militares de grande importância: aviões de combate de alta qualidade como o F-35, ou o poderoso sistema de defesa antimíssil Domo de Ferro.

O fundamento último da superioridade israelense são as armas nucleares. O Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo estima que Israel tenha cerca de 90 ogivas nucleares.

Isto não significa que Israel não apresente limitações e não enfrente riscos muito graves. O ataque do Hamas, assim como o de Yom Kippur, há 50 anos, pegou o país completamente de surpresa, demonstrando falhas na capacidade de obter informação.

A perspectiva de ter de gerir duas frentes ao mesmo tempo — a do Hamas, em Gaza e a do Hezbollah, no Líbano — também representa um grande desafio, ainda mais se for acompanhada por um surto de violência na Cisjordânia e por possíveis disputas da Síria.

O Hamas, por sua vez, é um ator com capacidades limitadas. Mas, combinadas com a vontade de agir em violação das normas básicas do direito da guerra, são suficientes para infligir sérios danos a Israel em ações ofensivas e certamente também numa operação defensiva em caso de invasão. O ataque do dia 7 também demonstrou sua capacidade de escapar à vigilância de Israel e de preparar meticulosamente uma ofensiva sem ser detectado ou rapidamente repelido.

Em Gaza, o Hamas vem se preparando ao longo do tempo, criando redes de túneis e outros cuidados logísticos. Com armas antitanque e posicionamento adequado em pontos estratégicos, o seu potencial não deve ser subestimado. Outros grupos também operam na Faixa de Gaza, como a Jihad Islâmica, acusada por Israel de ter disparado o foguete que atingiu o hospital na terça-feira, enquanto as autoridades de Gaza acusam Israel. Em qualquer caso, mesmo a ajuda de grupos colaterais, a força militar do Hamas é pequena.

A milícia xiita libanesa Hezbollah é por vezes definida como o irmão mais velho do Hamas, tem mais tropas, um melhor arsenal e grande profundidade estratégica graças ao corredor do Líbano, Síria, Iraque e Irã.

Seu principal trunfo reside no arsenal de mísseis. Tal como no caso do Hamas, não há transparência nem dados verificados. Segundo o centro de pesquisa israelense Alma, o grupo possui algumas centenas de mísseis de alta precisão, cerca de 5 mil mísseis com alcance superior a 200 quilômetros (sendo o Fateh-110, capaz de atingir cerca de 300 quilômetros), cerca de 65 mil foguetes com alcance de até 45 quilômetros e mísseis de menos de 200 quilômetros, e cerca de 2 mil drones. Uma radiografia do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais também sublinha a relevância da Fateh-110.

Sem dúvida, a sua intensa participação na Guerra da Síria ao lado de Bashar al-Assad, causou enormes baixas nos últimos anos, mas fez com que o grupo extremista também desenvolvesse experiência de combate — o que é sempre um elemento valioso para qualquer força armada. A presença persistente na Síria de células do grupo é uma vantagem potencial.


Fonte: O GLOBO