Movimento em massa de civis é feito por uma única estrada; moradores se deslocam a pé, de carro, em motos e caminhões, levando vacas e camelos

A pé, de carro, em motos e caminhões, levando vacas e camelos, centenas de famílias deixaram o norte de Gaza nesta sexta-feira, depois que Israel ordenou a retirada de 1,1 milhão de pessoas para o sul da cidade, antes de uma possível incursão terrestre do Exército no enclave palestino. O movimento em massa de civis é caótico e extremamente perigoso, já que é feito por apenas uma estrada, em uma das regiões mais densamente povoadas da Cidade de Gaza. O Hamas rejeitou o ultimato e pediu para que os palestinos "se mantenham firmes".

De acordo com o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa), Philippe Lazzarini, mais de 423 mil pessoas já deixaram suas casas na Faixa de Gaza, que "está se tornando rapidamente um inferno".

A ordem de retirada inclui toda a Cidade de Gaza e dois grandes campos de refugiados, Jabalya e Beach. Também inclui as cidades de Beit Hanoun e Beit Lahia, ambas adjacentes ao principal ponto de passagem de Erez, no extremo norte da Faixa de Gaza.

Apena na capital, Cidade de Gaza, vivem cerca cerca de 700 mil pessoas — quase metade da população tem menos de 18 anos. Jabalya, o maior campo de refugiados da Faixa de Gaza, tem 116 mil habitantes, e outras 90 mil pessoas vivem no Beach. No total, há pelo menos seis hospitais na região.

Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que tamanho deslocamento nesse prazo seria "impossível sem consequências humanitárias devastadoras". Lazzarini, da Unrwa, classificou a ordem de Israel como "horrenda".

— Isso só causará níveis de miséria sem precedentes e empurrará ainda mais a população de Gaza rumo ao abismo — disse o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina. — O tamanho e a velocidade da crise humanitária em curso são assustadores.

Plano de retirada de civis em Gaza — Foto: Editoria de arte

Nesta sexta, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, afirmou que os militares estão cientes de que a retirada levará algum tempo. O combustível é escasso e as ruas da Cidade de Gaza estão cheias de escombros após os ataques aéreos israelenses dos últimos dias — e ainda não há sinais de que eles tenham sido interrompidos.

— Esta é uma zona de guerra, estamos tentando lhes dar tempo e entendemos que não levará 24 horas — disse à BBC.

O Hamas ordenou categoricamente a ordem de retirada: “Nosso povo palestino rejeita a ameaça dos líderes da ocupação (israelense) e seus apelos para que deixem suas casas e fujam para o sul ou para o Egito”, afirmou o grupo terrorista em comunicado.

O porta-voz do braço militar do Hamas, a Brigada al-Qassam, instou os moradores de Gaza a “se manterem firmes”. Em uma declaração que foi transmitida pela rede al-Jazeera, Abu Obaida dirigiu-se aos palestinos que vivem em Gaza, e disse que os alertas de Israel eram uma “guerra psicológica” destinada “a criar uma falsa imagem de vitória”.

Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, comparou o deslocamento em massa de civis ao exílio de 1948. “Esta seria uma segunda Nakba (catástrofe em árabe) para o nosso povo”, disse Abbas em um comunicado publicado pela Wafa, a agência oficial de notícias palestina.

O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse à CNN que os EUA estão "trabalhando muito duro, hora a hora", para garantir que haja uma maneira de os palestinos deixarem Gaza com segurança.

— Independentemente de haver ou não uma incursão terrestre, e vou deixar os israelenses falarem sobre suas operações, queremos ter certeza de que há uma maneira para as pessoas que vivem em Gaza, e que querem sair, poder fazê-lo com segurança e rapidez, então estamos trabalhando nisso muito — disse Kirby.


Fonte: O GLOBO