Em novo momento de tensão, movimento promoveu protestos pelo país e reivindicou orçamento maior para a reforma agrária

Aliado histórico do PT, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) aumentou a pressão sobre o governo Lula esta semana por mais celeridade na destinação de terras para a reforma agrária e repasse de recursos. O grupo fez uma série de protestos em todo o país; se reuniu com cinco ministros, inclusive o da Fazenda, Fernando Haddad; e divulgou uma nota reclamando de “incapacidade” da gestão petista. O Executivo alega ter limitações orçamentárias e pede a compreensão dos sem-terra.

A relação entre o Palácio do Planalto e o movimento vem sendo marcada por sucessivas tensões desde o início do ano, com aumento no número de invasões de terra, sobretudo no chamado “Abril vermelho”, jornada anual de atos do MST.

Entre as exigências do movimento está um Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado à reforma agrária, um orçamento de R$ 3 bilhões para esse fim no ano que vem, e o atendimento “imediato” de 65 mil família acampadas, com realização de cadastro e compromisso de entrega de terra.

Aceno ao movimento

Integrantes do governo que cuidam das relações com movimentos sociais dizem que a gestão tem sido transparente com o MST, e deixado claro que há limitações orçamentárias para expandir a meta do número de assentamentos até 2026. Um dos argumentos é que o programa de reforma agrária estava totalmente paralisado desde o governo Michel Temer e que, por isso, há necessidade de os sem-terra compreenderem a conjuntura.

Em um aceno ao MST, porém, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) anunciou, na segunda-feira, um investimento de R$ 250 milhões no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Lideranças dos sem-terra estavam presentes na solenidade no Palácio do Planalto, em comemoração ao Dia Mundial da Alimentação.

Embora diga confiar que terá suas demandas atendidas, o MST promete seguir promovendo invasões e protestos como forma de pressionar o governo.

— Um pé na confiança e outro na mobilização — afirma Ceres Hadich, que integra a direção nacional do MST.

No mesmo dia em que participou da solenidade no Planalto, o MST publicou em seu site nota em que reclama de supostas “lentidão, falta de orçamento e incapacidade” da gestão petista em promover a reforma agrária, uma bandeira histórica de esquerda e do PT.

Ao longo desta semana, a direção nacional do MST esteve com os ministros Simone Tebet (Planejamento), Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Rui Costa (Casa Civil). O grupo se encontrou também com Fernando Haddad em uma agenda que reuniu o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Enquanto parte da direção nacional do movimento cumpriu agenda no Planalto e nos ministérios ao longo da semana, a militância se organizou na rua. Desde segunda-feira, o MST participa da Jornada da Luta, que mobilizou manifestações em 17 estados, e dois mil jovens estão num acampamento em Brasília, organizado pela Via Campesina.


Fonte: O GLOBO